* Por Bruno Muratori
Quando se pensa na febre dos realitys shows e nesse formato de espetáculo que parece tão desgastado na TV (mesmo com todas as variantes), surge uma renovação, com novas propostas para esse tipo de atração. No fim, sempre acaba vindo mais um programa on fire e até os céticos ficaram perplexos com a boa audiência na finalíssima da terceira temporada do The Voice Brasil, que foi ao ar nesta noite de Natal (25/12) e chegou a picos de 25.2, deixando as outras emissoras no chinelo. Traduzindo: o Brasil ficou ligado nessa disputa. Por isso, HT – que foi conferir a reta final in loco, no Citibank Hall,para sentir de pertinho a adrenalina desses candidatos ao estrelato – pergunta: o que leva toda essa gente a ficar tão ligada num programa desses? È simples: sonho de Cinderella da música pop, de encontrar o sapatinho de cristal no mainstream do show bizz, que pode ser para quem quiser, homem ou mulher. Não é assim que funciona?
Tudo o que um desejo desses precisa para ser realizado é que uma fada madrinha acredite que ele possa ser realizado, seja ele do tamanho que for – e independente de formato também. Um país tão grande quanto o Brasil (e com tantas desigualdades) não é fácil e, se aqui não é a terra das oportunidades que os EUA apregoam ser, então qualquer gata borralheira que vira princesa Disney musical é um atrativo a mais dentro do jeitinho Big Brother de ser. São milhões de brasileiros se interessando de verdade por esse tipo de entretenimento e vivendo aquele momento mágico, prontos para esquecer a dura realidade que os cerca e aplaudir (ou detonar) talentos como Lui Medeiros, carioca de Irajá, e Romero Ribeiro, cearense que trabalha numa farmácia. Ou Kim Lirio, de Porto Alegre. Ou ainda os mineirinhos sortudos da noite Danilo Reis e Rafael,que pretendia ser jogador de futebol profissional. Os dois, crias de Betim (MG) que agora se tornam estrelas nacionais. Impressionante não?!
O clima nos bastidores é de total descontração, com aquela sensação por parte da equipe de dever cumprido. Claudia Leitte entra em cena linda, toda no brilho e de acordo com a noite natalina, reluzente naquela exuberância de sempre e sensualizando com a plateia.
Carlinhos Brow o mais animado, brinca com a plateia e diz que aquele momento é de puro amor porque nasceu o menino Jesus. Só falta cantar “Então é Natal”, o hit de Simone. Oxê, danado! Já Lulu Santos surge discreto e não deixa de reverenciar a galera que, animada retribui o aceno. Por último, sobe ao palco Daniel, tímido, mas muito tietado pelo público feminino, causando frenesi. Um detalhe: nos intervalos o solteirão boa pinta não se cansa de ir voluntariamente tirar fotos com o público. Fofo heim!?!
Por parte da plateia, HT observa o agito multiplicado pela atmosfera de festejo de fim de ano, com imensa torcida pelo carioca Lui Medeiros. Gritinhos de ‘é campeão!” eclodem. Bom, time formado, hora de ouvir os finalistas!
Show começa com os cinco finalistas, que abrem juntos a noite aquecendo com “Pro dia nascer feliz”, de Cazuza. Carisma. Em seguida, Lulu Santos apresenta música nova “SDV (Segue de volta?)”, cheio de suíngue e com pegada eletrônica, primeiro técnico a se apresentar na noite dessa final. A composição é dele, junto com Dadi Carvalho e faz parte do mais recente álbum dele, “Luiz Maurício”.
Depois, é Lui Medeiros quem sobe ao palco para interpretar a canção “Um dia, um adeus”, de Guilherme Arantes. Impressiona a versatilidade do cantor que, mesmo com todo aquele vozeirão, consegue se colocar de maneira tão suave, já que qualquer erro de potência seria um desastre de fazer “O Inferno na Torre” parecer uma fogueirinha de escoteiro. Nada disso. O moço agrada e levanta a plateia. Claudia Leite é só mimo com seu pupilo…
Daí, Romero Ribeiro já vai logo chegando perto do seu técnico, Carlinhos Brown. Com participação master de Dudu Nobre, assistente de Claudia Leitte na fase das batalhas, o trio formado entoa “Deixa a Vida me Levar”, sucesso absoluto na voz de Zeca Pagodinho. E, no meio desse agito, uma questão: vendo o rapaz soltar o gogó, fica a dúvida se ele é mesmo do Ceará ou se é cria de cá. O cara é do samba, faz todo mundo sambar e samba na cara da sociedade! Música de qualidade que mostra que o Brasil sempre que quer, surpreende. E mais: ainda rola um pagodinho esperto com o sucesso de Thiaguinho: “Sou O Cara Pra Você”. Ao longo do programa, Romero, de Cascavel – município da região metropolitana da Grande Fortaleza – encanta o público com esses sambinhas populares.
Daniel assume a dianteira e vai à ribalta com seu pupilo finalista, Kim Lírio, e Luiza Possi, sua assistente na fase de Batalhas. Rogério Flausino, braço direito de Carlinhos Brown na segunda fase do reality, completa o time. O quarteto solta a voz com “Amor pra Recomeçar”, composição de Frejat, Maurício Barros e Mauro Santa Cecília. No solo a, Kim interpreta “Ideologia”, de Cazuza e Frejat,. Infelizmente, apesar da força da música, o resultado não impacta. Apenas cumpre o trabalho e ponto.
Momento alto do espetáculo, a estonteante aparição de Ellen Oléria, vencedora da primeira edição do The Voice Brasil, Ela retorna ao palco e se apresenta com a música de Jorge Ben Jor, “Zumbi”. Manda bem e é nítida a estratégia de tentar cativar o público pela presença de uma Cinderella que já venceu, caso os candidatos a príncipe encantado não consigam dar conta do recado.
A cantora chama a atenção pelo visual, bem diferente da final da segunda temporada. É notório vê-la após extreme makeover, com 25kg a menos. Dizem que ela caiu na dieta vegana e anda suando bicas na academia. Enfim, dá tudo certo, dever cumprido e, além de agradar na voz, a boa menina tirou onda no quesito superação.
O campeão da segunda temporada, Sam Alves Alves, tambémestá de volta à atração, dessa vez, para fazer uma participação para lá de especial. O rapaz interpreta “Troublemaker”, hit do britânico Olly Murs. Manda bem e mantém a boa fama de vencedor do The Voice.
Ainda na leva de boas surpresas, Pepeu Gomes se junta a Lui Medeiros e Claudia Leite. Os três cantam “Smooth”, célebre na voz de Carlos Santana. Guitarra por guitarra, HT acaba ficando com o nosso melhor guitarrista né? Pepeu é show!
Outro grande momento é quando Carlinhos Brown sobe ao palco para cantar “Mary Cristo” ao lado da filha, Clara Buarque. Afinal, é noite de Natal, que é evento família. Acompanham a dupla o maestro João Carlos Martins e o Coral Jovem São Vicente. Clara é filha da união de Carlinhos com Helena, filha de Chico Buarque e Marieta Severo. A menina pertence, portanto, à realeza da MPB. Carlinhos, que tem coração grande, fica arrebatado, tipo pai coruja e babão. A canção foi composta por ele, Arnaldo Antunes e Marisa Monte, que formavam os Tribalistas, um dos maiores sucessos da década passada.
Campeoníssima da noite, a dupla Danilo Reis e Rafael se apresenta muito bem acompanhada por quem esteve tão perto, ao longo do percurso dessa temporada: Lulu Santos e seu assistente na fase de batalhas, Di Ferrero. Juntos, o quarteto solta (e a franga!) a voz com a música “Como uma Onda”, sucesso que levou o técnico ao estrelato há mais de 30 anos. E, claro, todo mundo entra nessa onda. O timbre forte e emocionado de Rafael conquista até quem não é apreciador de música sertaneja. E essas novas vozes do Brasil vencem o programa com 43% das intenções do voto popular.
Após anunciar os vencedores, Tiago Leifert se derrete em lágrimas ao chamar os dois para cantar no palco novamente. Abraçado com Rafael, ele diz: Esses moleques são demais! Os meninos de Betim deixam o mais cotado ao título Lui Medeiros para trás”. É explícita a reação de surpresa de todo o público que lota o Citibank Hall. O que nos encanta, além do vozeirão, é a humildade desses meninos, essa brasilidade genuína, de quem mantém as raízes em todas as apresentações. Diante de todas as cadeiras viradas de costas, eles escolhem justamente Daniel como mentor. Tinha que ser!”
O apresentador ainda ressalta que, nas batalhas, “eles enfrentaram Vitor e Vanuti, dupla escolhida pelo próprio técnico. “Então, Lulu Santos fez questão de trazer a dupla de Betim-MG para seu time com o “Peguei” , a pegada certeira que deu a primeira vitória ao primeiro”.
Nos bastidores, Lulu Santos é só alegria: “Esse meninos são incríveis eu sempre fiquei de boca aberta babando por eles, são grandes artistas profissionais que chegaram para ficar!”, rasga seda.
Muito emocionado, Rafael traz sorriso nos lábios e, com o troféu na mão, conta ao HT com exclusividade: “Primeiramente, quero agradecer ao Brasil, a Minas, a Betim e a todo o povo que votou na gente e nos deu esse presente. Essa conquista que é uma honra e agradeço ao Lulu por tudo que nos salvou naquela batalha. Não fosse isso, a gente estaria agora em casa assistindo a final”, declara, fazendo aquela linha de quem agradece ao papai, à mamãe e à Xuxa.
Seu parceiro Danilo Reis interrompe e complementa: “Quero também agradecer ao nosso público fiel. Graças ao bom Deus, foi tudo certo e a gente vai continuar trabalhando muito”. Sobre o prêmio, sem pensar, Rafael manda na lata fazendo a linha filho pródigo: “Vou abençoar e presentear minha mãe. Quero poder dar a ela o que quiser e ainda quitar suas dívidas”. Hum…
HT ainda consegue tempinho para trocar uma prosa com Lui Medeiros, aposta da noite que não chegou ao pódio e está visivelmente desapontado. “Você era um dos favoritos. Como fica agora?” Ele nem titubeia: “Então, na verdade, já imaginava que isso fosse acontecer devido a excelência das apresentações. Eu particularmente gosto muito da dupla, estou muito feliz porque, independente de ter ganhado ou não, dei o meu melhor. A vitória só traz como diferença o prêmio e a assinatura do contrato com a gravadora, mas o nível de exposição de quem vence ou chega até aqui é o mesmo. Estou com os canais abertos”.
E ainda alfineta, quando perguntado sobre suas declarações sobre os joguinhos formados entre os concorrentes, quando participantes pediram apoio de outros para pedir voto ao público: “Aí me senti mal com isso, vendo gente que ainda estava no ranking usando esse tipo de expediente. Tipo, rolou uma parada assim e eu não queria fazer isso, acho horrível desmerecer quem estava ali na batalha individual. Enfim…”
Mas termina brincando como sempre e fala do sonho ainda de cantar ao lado de Gilberto Gil: “Não vai demorar muito não”, vaticina.
Carlinhos Brown conclui, afirmando: “Esse é um programa que oportuniza quem chega aqui. Quem surge de um jeito, sai de outro, e quem está atento no mercado pode aproveitar todos os talentos que o programa disponibiliza. Posso destacar o Romero que chegou aqui e cresceu muito, um grande exemplo para o país. Está cantando samba do seu jeito, é um artista que busca seu caminho”. E completa: “Espero que vocês da imprensa continuem investigando o que essa moçada está fazendo e prestigie esses artistas. Esse time não acaba com o fim do programa”.
*Carioca da gema e produtor de eventos, Bruno Muratori é uma espécie de fênix pronta a se reinventar dia após dia. No meio da década passada, cansou da vida de ator e migrou para a Europa, onde foi estudar jornalismo. Tendo a França como ponto de partida, acabou parando na terra do fado, onde se deslumbrou com a incrível luz de Lisboa e com o paladar dos famosos toucinhos do céu, um vício. Agora, de volta ao Rio, faz a exata ponte entre o pastel de Belém e a manjubinha
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