“Meu apelo é também pelos LGBTQ+, que sofrem violências da sociedade e do Estado”, diz Daniela Mercury

*Por Brunna Condini

Se 2019 pediu fôlego extra, isso não foi um problema para Daniela Mercury. Aos 54 anos, a baiana fala com exclusividade ao site e celebra quase quatro décadas de carreira, em um ano com muito pique e trabalho, em que presentou seu público com shows Brasil e mundo afora, além de músicas inéditas.

A cantora se despede de 2019 em um dos lugares que mais gosta de estar: no palco. Ela faz show da virada no Réveillon de São Luís, na Avenida Litorânea, no Maranhão. “ É uma honra enorme cantar na virada no Maranhão, um estado que está dando exemplo na transformação da educação no Brasil. O show que preparei é com meus grandes hits e as novidades de “Perfume”, meu novo álbum. Acho até que farei uma inédita lá”, antecipa. “Malu (Verçosa, esposa de Daniela) estará comigo e é uma delícia saber que ela vai estar ali perto. Depois da apresentação, retornamos a Salvador. Dia 1º de janeiro, faço o tradicional “Pôr do Som” na Arena que recebeu meu nome. E comemoro meu ano novo passeando de barco no dia 2 de fevereiro com meus pais, filhos, netas e alguns amigos na tradicional festa de Iemanjá. Mas vou fazer todos os meus pedidos no mar de São Luís também. Eu e Malu, as duas leoas em love”.

Daniela lança o novo álbum, “Perfume”, nas plataformas digitais, em 10 de janeiro, e aproveita para dar mais detalhes sobre a apresentação que abre o ano, na sua Salvador. “O “Pôr do Som’ será o lançamento de “Perfume”. A “Rainha da Balbúrdia” (alusão ao single o videoclipe da canção homônima) vai balançar a Arena Daniela Mercury e eu convidei Gerônimo, de quem eu fui vocalista no início da minha carreira, para comemorar esses 35 anos de Axé”, divulga. “É o 21º ano do “Pôr do Som”, um show para mais de 300 mil pessoas, em que eu amo trazer minha baianidade, com mensagens de paz e de fé em nós mesmos. Comecei há mais de duas décadas porque Salvador não tinha festas de Réveillon. Como não havia patrocinador e a prefeitura não fazia, fiz o projeto aberto, de graça para minha cidade. E virou tradição. De uns oito anos para cá, Salvador ganhou o maravilhoso “Festival da Virada” com cinco dias de shows na Arena Daniela Mercury”.

Sobre o álbum novo, o que o público pode esperar? “São músicas bem dançantes, de ritmos distintos, que vão entrar imediatamente nos shows. Comecei o lançamento das músicas de “Perfume” no início de 2019 com “Proibido o Carnaval” e lancei várias faixas durante o ano. A faixa “Rainha da Balbúrdia” é a primeira das oito inéditas deste verão. A canção e o videoclipe chegaram em novembro e em seguida, agora no mês de dezembro, vieram “Imagine” (em samba-reggae) e “Triatro”, que mostram a força rítmica do que vem por aí neste trabalho”, anuncia Daniela. “Em janeiro, os fãs vão conhecer mais cinco faixas. O álbum terá 16 canções inspiradas no atual momento do país e veio para comemorar os 35 anos da Axé Music. Tem meu axé, que sempre trouxe mensagens profundas e devolveu o samba aos pés do Brasil num momento que celebrávamos a volta da democracia! Está na hora de repetir esta dose de alegria e esperança em nós. O Axé é o gênero que ganhou esse nome a partir do sucesso de “Swing da Cor” e “O Canto da Cidade”. E “Perfume” tem muito deste DNA, é o meu Axé mais forte do que nunca”.

Por que a opção de lançamento ser somente digital? “Sou dona de minha discografia desde de 2005 e desde lá tenho testado lançar álbuns só no digital, mas os fãs pediam e eu acabava lançando o físico. A partir do último EP “Tri Eletro” (2017), decidi lançar somente no digital. Assim fica muito divertido lançar cada música para que o público preste a atenção em cada uma. Esse é um sonho antigo que as pessoas escutem não somente os carros chefes, mas deem atenção a todas as canções igualmente. Sinto que assim elas são mais valorizadas”.

A cantora está animada para 2020 e fala sobre a importância da espiritualidade em sua vida. “Eu sou artista, acredito em muitas formas de conexão com o divino, tenho uma formação católica muito forte e sou de candomblé. E tenho alguns rituais. Entro no palco com o pé direito, pulo as sete ondinhas, acendo vela, jogo flor no mar, pipoca para limpar, banho com pétalas de rosa, banho de folhas e muito perfume para celebrar a chegada do novo tempo”, revela a baiana, que garante ainda não ter decidido sobre a cor que usará: “Fiz algumas opções de roupas branca, azul e verde. Vou decidir no dia”.

E astrologia, curte? “Adoro. Já consultei algumas vezes. Quando me apaixonei por Malu, por exemplo, corri lá para saber mais dela. Descobri que ela tinha quase todas as casas nos mesmos lugares que as minhas. Uma espécie de almas gêmeas. Alguém duvida? ”, confidencia.

Pode revelar o que estará em suas orações para 2020? “Sempre faço agradecimentos e rezo pelo Brasil, pelo povo trabalhador do meu país, pela humanidade e pelos filhos, pais e amigos. Tenho muito a agradecer pela turnê maravilhosa que fiz nos Estados Unidos este ano, foram oito cidades, em 15 dias, com direito à matéria de página inteira no “The New York Times” e a Michael Douglas e Catherine Zeta-Jones na plateia. Foi incrível! ”, comemora Daniela, que está com a bola toda mesmo, tanto, que hoje, a diva Madonna, postou um vídeo em que aparece se maquiando e ouvindo a cantora, que celebrou no seu Instagram: “Já posso dizer que zerei 2019! Tô desmaiada!”.

aniela é assim: intensa em tudo que faz. A artista tanto vibra pelas conquistas, como se posiciona pelo o que acredita, com a mesma potência e transparência. Militante e defensora das liberdades individuais e de expressão, ela usa sua visibilidade para dar voz aos temas que elege, com a urgência do momento. Um exemplo, é que nos últimos dias, também em seu instagram (é por ali também, que Daniela estreita os laços com seu público e dá seu recado), ela postou uma foto com a legenda: “Cara de homossexual terrível”. A frase da postagem, foi uma alusão à declaração do presidente Jair Bolsonaro para um jornalista.

A cultura, a arte e a liberdade de expressão, vêm sendo atacadas hoje por alguns grupos no país. Se pudesse fazer um apelo nesta mudança de ano, qual seria? “Meu apelo é pela democracia, pelos povos indígenas e pela manutenção de suas reservas, pelos pobres, pelas mulheres, pelos negros e comunidades quilombolas, pelos moradores das favelas e sem teto, pelos professores, pela educação pública básica e universitária, pela preservação da natureza, pelos ativistas e ONGs, pela luta contra o aquecimento global. Pelos LGBTQ+, que além da violência da sociedade, sofrem ataques do Estado”, aponta. E acrescenta: “Também contra a destruição do cinema e da cultura brasileiras, contra a censura, contra a perseguição dos que pensam diferente do governo, contra os ataques terroristas de fundamentalistas a artistas, contra a mistura de religião e política, contra o fascismo, as armas, o autoritarismo crescente e a corrupção presente. Espero que a população se informe através de fontes confiáveis, através de vários jornais e revistas para entender a gravidade do momento que estamos vivendo”.

E faz questão de deixar uma mensagem para seu público e os leitores: “Desejo que o início da nova década seja de renovação, de união, de respeito à diversidade, aos direitos humanos e de preservação da natureza. Desejo que cada brasileiro se sinta no dever de lutar por tudo isso”.

Nós também, Daniela!

Daniela Mercury em alguns números e curiosidades:

• São 19 CD’s e sete DVD’s gravados em mais de 30 anos de trajetória profissional e 25 turnês internacionais
• Vencedora de um Grammy Latino por “Balé Mulato”, ganhou seis Prêmios Tim de Música, um APCA, três Prêmios Multishow e dois VMB 9 Video Music Brasil), pelo melhor videoclipe e fotografia
• É avó da Clarice, 10 anos, e de Mel, de 1.
• Mãe de Gabriel, 34 anos, Giovana, 33, Marcia, de 21, Alice Maria, 18, e Ana Isabel, de 10 anos
• Casada há seis anos com a jornalista e empresária Malu Verçosa. Um detalhe: tanto Daniela quanto Malu, passaram a usar o sobrenome uma da outra após o casamento

O que sempre tem na sua casa? Sorvete

Como costuma ser sua rotina? Muito intensa e diversificada.

Uma comida: moqueca

Uma bebida: caipirosca

Um livro: “Jubiabá”, de Jorge Amado

Um disco: “Ok, Ok,ok”, de Gilberto Gil

Uma mania: ler vários livros ao mesmo tempo.

Um medo: De ter medo.

A próxima viagem de férias: Tailândia.

Lugar preferido no mundo: Lisboa.

Com o que se preocupa? Com a humanidade.

Quem você admira e por quê? Greta Thunberg por mobilizar o planeta contra o aquecimento global.

Um sonho? Passar uns meses no Tibete e aprender a meditar de verdade.

 O que não deveria ter acontecido na história da humanidade? A escravidão e o holocausto.

 Como encontrar a paz? Ouvindo música e andando de bicicleta e deitando no colo de minha mãe.

Melhor conselho que já ouviu e de quem? Um andarilho uma vez no México, ao ser questionado por mim sobre como mudar o mundo, me disse: “Aceitando o mundo como ele é. Assim não me paraliso e posso continuar a lutar para melhorar o mundo”.

O que faz sentido para você hoje? Lutar para não deixar tantos problemas para as novas gerações. Sou fascinada pelo ser humano e  me encanto com todas as descobertas tecnológicas e científicas. Mas o que preciso mesmo é do amor da minha família e dos amigos, preciso de uma comida caseira, da minha casa, do mar e da arte.

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