MECA Festival: Alunageorge comanda noite repleta de artistas jovens e sons originais na Estação Leopoldina


No line-up, La Roux, Citizens!, Mahmundi, Pearls Negras e Glass n’ Glue também fizeram o público pular. E mais: os vagões de trens abandonados se transformaram em “clubinhos” com as melhores festas do Rio

*Por João Ker

Há cinco anos na estrada, o MECA Festival já caiu no gosto da juventude brasileira que ama todos os tipos de música – principalmente a alternativa – e não abre mão de um bom espetáculo. Ainda no ano passado, em um evento com capacidade para 700 pessoas, os organizadores trouxeram à CAVE nomes como Friendly Fires e Charli XCX, bem antes de a menina estourar nas rádios e ser chamada de “uma das maiores personalidades do pop” pela Billboard. Agora, para sua segunda edição no Rio de Janeiro, o MECA lançou mão de um line-up todo construído em cima de queridinhos da Geração Y, com Glass n’ Glue, Mahmundi, Pearl Negras, Citizens, Alunageorge e La Roux, rendendo apresentações épicas pela Estação Leopoldina neste domingo (18/1). Inaugurada durante a década de 1920 e desativada há mais de dez anos, a Estação Leopoldina ainda carrega aquele charme meio decadente e monumental das antigas construções cariocas. Para o MECA, o salão principal ficou tomado pelo palco e os trens desativados nas plataformas fizeram as vezes de “clubinhos”, dentro dos quais festas como “I Hate Flash”, “Fodasse” e “Love Is All” ocupavam o tempo entre os shows, com DJs tocando de tudo, do funk carioca ao pop-chiclete e o rock alternativo. À medida que o tempo se passava e o open bar de cerveja fazia efeito – uma ótima solução para o calor e uma medida que deveria ser adotada em mais eventos -, a galera começava a se empolgar e em minutos e todos os trens balançavam com a força dos pulinhos e do rebolado de quem não aguentava se conter de tanta animação.

Clubinho da “Fodasse” no MECA Festival

Toda a estrutura do festival parece planejada de forma a usar o próprio espaço e a cidade a seu favor. Os trens, transformados em mini-boites móveis (uma espécie de fantasia para qualquer jovem que dependa da Super Via), levantam a reflexão sobre quantos outros estabelecimentos andam desperdiçados pelo Rio de Janeiro. Mas, de acordo com Rodrigo Santanna, o gaúcho que ajudou a idealizar o MECA, o objetivo do evento é esse mesmo: focar na experiência como um todo, com uma preocupação que passa pelo social, artístico e estrutural. “A ideia nasceu quando eu e meus sócios começamos a ir em outros festivais lá fora e decidimos trazer algo parecido para o Brasil. Hoje, é impossível você fazer algo para 15 ou 20 mil pessoas sem dar algum problema de fila, estacionamento ou desconforto para o público”, comenta. Nesta edição, por exemplo, a lotação máxima da Estação Leopoldina fechava em 4 mil convidados. Outro detalhe que é pensado com bastante atenção por Rodrigo e seus sócios da empresa Slash/Slash é o tipo de artista que se apresentará no MECA Festival. “Nós temos a MECA Family, que é um time de pessoas que nos ajuda a descobrir novos nomes que estão bombando no exterior e que possam ser interessantes para trazer. Mas a nossa preocupação maior é com a performance ao vivo desse artista: têm muitos cantores que são ótimos para ouvir em casa, mas ao vivo não entregam o mesmo tipo de trabalho”, analisa o empresário, que já está discutindo a hipótese de fazer o processo reverso e levar, no ano que vem, o MECA para cidades como Nova York e Londres.

Plataforma onde ficavam os "clubinhos" dentro dos trens no MECA Festival (Foto: João Ker)

Plataforma onde ficavam os “clubinhos” dentro dos trens no MECA Festival (Foto: João Ker)

Começando às 17h e com atrasos surpreendentemente mínimos entre uma performance e outra, pode-se dizer que o fator de união entre todas as atrações do MECA é essa capacidade de surpreender ao vivo (salvo apenas uma exceção). Comandada por Marina Franco e toda a sua energia do rock, a Glass ‘n Glue foi a responsável por abrir os trabalhos da tarde e colocar os gatos suados para se balançarem. Enquanto o sol começava a se por nas linhas ferroviárias e o público chegava aos poucos, Marcela Vale subia ao palco munida de seus óculos escuros e levando todo o “calor do amor” da Mahmundi. As letras, cheias de lirismo e se casando perfeitamente com o eletrônico etéreo da moça, mostram a pluralidade de gêneros da cena independente carioca.

Mahmundi se apresenta na Estação Leopoldina pelo MECA Festival (Foto: Reprodução Instagram)

Mahmundi se apresenta na Estação Leopoldina pelo MECA Festival (Foto: Reprodução Instagram)

A grande surpresa nacional que conseguiu muito bem segurar a energia trazida pelo público que chegava dos “clubinhos” foi o trio Pearls Negras, mais um ótimo fruto artístico do grupo de teatro Nós do Morro. Como uma lufada de ar fresco, as adolescentes Alice, Jeni e Mari integram um espaço pouco alcançado na indústria fonográfica brasileira, onde a mulher – aos mesmos moldes do que vem acontecendo com o funk – coloca-se no papel de destaque do rap, com letras inteligentes, batidas bem estruturadas (que não soam como uma cópia do que está acontecendo lá fora) e rebolado de sobra. Mesmo sendo bem novinhas – como a grande maioria dos artistas que se apresentaram -, e não dançarem totalmente sincronizadas o tempo inteiro, as Pearls Negras agradaram pela energia e a presença no palco, como verdadeiras joias em uma cena que vem se fortalecendo com nomes como Karol Conká e Flora Matos.

Pearls Negras no palco do MECA Festival, na Estação Leopoldina (Foto: Reprodução | Instagram)

Pearls Negras no palco do MECA Festival, na Estação Leopoldina (Foto: Reprodução | Instagram)

Já era noite quando os britânicos do Citizens! levaram seu rock cheio de atitude para o palco do MECA. O vocalista Tom Burke, com um visual parecidíssimo com Cazuza, apresentou músicas do primeiro e aclamado álbum, “Here We Are”, esbanjando energia na Estação e suando por dentro do casaco que fez questão de manter durante toda a apresentação. O som dos rapazes também traz algo de novo para a música internacional, com quê de um Placebo um pouco mais sexual e dançante. Por mais que não fosse a atração mais aguardada da noite, o grupo fez bonito e conseguiu cativar a plateia com seus ótimos vocais, produção original e performance hipnotizante. A apresentação se encerrou com o novo single dos meninos, “Lighten Up”, e uma repetição contínua dos versos “how low can you go?”, pergunta que foi respondida posteriormente nos clubinhos.

Citizens! no palco do MECA Festival (Foto: Reprodução| Instagram)

Citizens! no palco do MECA Festival (Foto: Reprodução| Instagram)

Não houve dúvidas para ninguém de que a noite pertenceu ao duo britânico Alunageorge, formado pela vocalista Aluna Francis e o produtor George Reid. Vestida como uma espécie de deusa grega com um Pikachú pendurado no pescoço, a menina foi seduzindo o público com seus vocais quase infantis, mas perfeitamente afinados e melódicos, mostrando que seu som não é bom apenas com fones de ouvido. A pegada eletrônica dos artistas garantiu a dose extra e perfeita de animação ao público que, assim como Aluna, pulou e suou na Leopoldina. Com hits como “White Noise” (sua parceria com os também aclamados irmãos ingleses do Disclosure), “Best Be Believing”, “Kaleidoscope Love” e “You Know You Like It” (responsável por fechar o show), a plateia cantou junto com Francis, que mostrava uma energia incapaz de ser contida nela mesma, enquanto dançava, brincava com os convidados e rodava pelo espaço.

ALuna Francis e seu Pikachú no palco do MECA Festival (Foto: João Ker)

ALuna Francis e seu Pikachú no palco do MECA Festival (Foto: João Ker)

Se em “Your Drums Your Love” a moça conseguiu exibir uma faceta um pouco mais acústica – pelo menos a princípio -, “Supernatural”, primeiro single de divulgação do segundo e aguardado álbum do Alunageorge, mostrou que a eletrônica é mesmo o caminho no qual eles pretendem continuar. O mais legal disso tudo? A dupla tocou exclusivamente duas músicas do novo disco, ainda não divulgadas em lugar nenhum. Abaixo você ouve um pouco dessas novidades que trazem uma sonoridade diferente do duo.

Músicas inéditas apresentadas por Alunageorge no MECA Festival

Qualquer artista que se seguisse à apresentação de Alunageorge teria um difícil trabalho de superar aquela energia. Mas, La Roux deixou a desejar, sem abrir espaço para a improvisação e sem conseguir manter aquela conexão fundamental com o público. O pior de tudo é que, em grande parte do show, Elly Jackson parecia usar playback, soando exatamente como sua versão de estúdio, na qual a produção se sobrepõe aos vocais. Se não fosse pelos hits antigos, como “Bulletproof”, “I’m Not Your Toy”, “In For The Kill” e o mais recente “Let Me Down Gently”, talvez os passos de dança meio desajeitados da menina não tivessem segurado o público até as duas horas da manhã. Mas tudo bem, já que importante é que o topete e a pose continuaram intactos, o show teve animação de sobra e a cantora fez valer a pena sua primeira apresentação no Brasil, fechando bem a edição do MECA.

La Roux no palco do MECA Festival (Foto: Reprodução Twitter | La Roux Russia)

La Roux no palco do MECA Festival (Foto: Reprodução Twitter | La Roux Russia)

Agora é esperar para ver quais os novos artistas que serão trazidos em 2016 e ficarão responsáveis por animar os cariocas com um som fresco e original. Para os mineiros ou mochileiros de plantão que querem curtir as férias, o MECA Festival desembarca nesta terça-feira (20/1) por Inhotim, em uma edição comemorativa de seus cinco anos e no próximo sábado (24/1) em São Paulo.