Maya lança novo disco “Anger” e fala sobre representatividade: “Acho que falta o mundo ver mais da gente”


A cantora se destaca na cena R&B e no pop nacional buscando sempre inovar em sua carreira e levar novidades para o público. “Sobre as mulheres negras, eu acho que falta o mundo ver mais da gente. A falsa atenção que dão não é suficiente e para perceber isso basta olhar para a maioria de artistas no mainstream, reparem a cor da pele e reflitam sobre a origem sonora e cultural do tipo de música cantada”, desabafa

*Por Domênica Soares

São três palavras que formam a frase que sintetiza a trajetória de Maya: “Posso ser tudo”. É dessa forma que a artista se vê no mundo e um desses exemplos é a estreia de sua nova produção musical “Anger”, que acaba de chegar às plataformas digitais, pelo selo  JO!NT. Além disso, a artista disponibilizou dois videoclipes que fazem parte dessa nova discografia “Carioca” e “Made in Brasil”. Ambos mostram a atitude, autenticidade e empoderamento de Maya, levando ao público uma mistura de sensações e reflexões sobre questões do cotidiano. Sobre o clipe da música “Carioca”, ela destaca que a ideia surgiu inicialmente com o objetivo de fazer um vídeo cantando ao vivo, mas percebeu que muitos artistas já vinham fazendo esse processo no mundo da música e então buscou o diferencial: um clipe simples que mostra quem ela é e de uma forma mais fashion. “Agradeço toda minha equipe e as pessoas do coletivo Of Color. A essência de ‘Anger´ surgiu da vontade de me tornar mais produtiva e empoderada comigo mesma. Vem da força de sair da zona de conforto e me libertar de mim mesma”, conta.

Em entrevista exclusiva ao site Heloisa Tolipan, Maya explica que o novo disco apresenta paradoxos, celebrações e provocações, sejam elas relacionadas a libido ou discussões sociais, servindo como um contraponto à sua bem-recebida estreia no EP anterior “Love”. Nesta última produção, foram levadas ao público temáticas relacionadas a sexo, ansiedade, desejo, solidão, tristeza, confusão, amor e paixão, explorando com intensidade os sentimentos, vulnerabilidade e a entrega. Em suas faixas, a pessoa que ouve se depara com o trágico, permeando a sensualidade, o carnal e o desespero, todos eles com traços que foram inspirados no romantismo do autêntico poeta brasileiro Olavo Bilac – considerado o melhor representante do parnasianismo da literatura do Brasil. Segundo Maya, “a maior diferença é que ‘Anger’ é corajoso e impulsivo, já “Love” é vulnerável e introspectivo. Acho que para existir um, precisa da existência do outro, tipo yin e yang”, conta.

Maya fala sobre sociedade atual e lança novo álbum (Foto: João Coelho)

Quando questionada sobre a definição desse contraponto “Love e Anger”, a artista afirma que é um produto de sua geração, que vem crescendo em uma sociedade que possui o consumismo acelerado e crescente, além da informação em grande escala, vinda de inúmeras pessoas. Ela descreve que essa mesma geração, com tudo isso, ao mesmo tempo se vê lutando para superar políticas sociais e econômicas retrógradas. Esses conceitos mostram que nenhum indivíduo possui em seu interior apenas algum sentimento específico, como o amor ou a raiva, paixão ou ira. Pensando em todas essas questões filosóficas e sociais, Maya tem o objetivo de unir esses dois discos em um só, revelando que muitas novidades vem por aí. 

Sobre o que busca levar ao público com suas produções, Maya conta que independente de qualquer coisa, quer transmitir novidades e inovações, dividindo que, em sua opinião, falta muito isso em nosso país, e ela não fala apenas sobre a arte mas sim de todos os pilares que constroem a sociedade. Além disso, relata que a representatividade também é um ponto que precisa ser mudado. “Sobre as mulheres negras, eu acho que falta o mundo ver mais da gente. A falsa atenção que dão não é suficiente e para perceber isso basta olhar para a maioria de artistas no mainstream, reparem a cor da pele e reflitam sobre a origem sonora e cultural do tipo de música cantada”, desabafa. Com tudo isso acontecendo na sociedade, a cantora relata sobre a importância de cantar e abordar temáticas políticas, sociais e sentimentais em suas produções. “Como se dizer artista, um espelho, e não criticar o desumano? Eu não sei. Falar sobre o povo faz parte da responsabilidade de ser artista, arte é em primeiro lugar vida. Não falar é uma forma de deixar acontecer, deixar acontecer é consentir. Muitos estão recebendo esse conteúdo e internalizando, mas essa recepção com novos artistas e temas ainda é péssima. Estamos cegos socialmente, politicamente, psicologicamente e artisticamente. Doentes de nós mesmos”, diz. 

Depois de falar de amor e depressão, cantora produz novo álbum e faz contrapontos (Foto: João Coelho)

Forte e intensa, Maya comenta que suas maiores inspirações são as mulheres de sua família e que sua arte e força vêm delas, um sentimento simples mas muito forte do que se possa imaginar. Sobre seu maior sonho, ela responde de cara: “Ser o que eu quiser, ir o quão longe eu for capaz. Ter força para não desistir, e sanidade pra viver em equilíbrio”. Não existe papas na língua com ela, só transparência, autenticidade e muita garra. Maya traz seu olhar crítico diante da sociedade e chama a reflexão sobre inúmeras pautas urgentes e essenciais para um futuro próximo.