*Por Rafael Moura
Aos 32 anos, o cantor Mateus Carrilho comemora o projeto de seu primeiro CD solo e o sucesso que vem conquistando com o amadurecimento artístico e inovação no universo pop brasileiro. Em seu terceiro ano de carreira solo, o artista, ex-Banda Uó, abordou o tema dramas e amores das plataformas digitais. “Eu sou bem adepto dessas plataformas, mas elas me fizeram mal durante o ano caótico de 2020. Trouxeram ansiedade. Ainda, mais para nós, artista independentes, pois tivemos uma necessidade muito grande de nos reinventar. Sem os shows, o nosso contato com o público foi através das redes sociais e ainda não voltamos aos palcos. Agora existe uma esperança dessa retomada gradual das nossas atividades. Mas é graças a essas plataformas que nós temos emprego e podemos levar nossos projetos para tanta gente. Mas é importante respeitar seus limites e continuar produzindo”, explica.
Estamos inseridos em uma sociedade onde tudo tende a ser esquecido em questão de minutos. De acordo com o filósofo alemão Arthur Schopenhauer, a arte faz o ser humano sentir-se mais vivo diante dos momentos tensos e angustiosos do cotidiano. Desse modo, ele via a arte como um meio efetivo na superação das dores da vida. Essa reflexão se mostra necessária quando falamos sobre a importância da contemplação artística, em um mundo em que tudo é efêmero e o consumo se faz histérico. “É bem complicado. Essa velocidade que o mundo digital tomou, principalmente com a pandemia, exige um fluxo de produção impossível para nossa realidade. Mas, eu não vou entrar nessa. Estou em um momento de respeito comigo mesmo, e quero fazer tudo no meu tempo”, frisa.
Mateus acredita que cada vez mais perdemos o tempo de contemplação e maturação das artes por conta da velocidade das novidades, o que acaba gerando uma ansiedade imensa tanto no público como nos artistas. “É preciso encontrar esse equilíbrio, principalmente, para não pirar”, pontua.
Seu mais recente lançamento, o single ‘Pancada’, em parceria com a MC Dricka, já ultrapassou 1,2 milhão de views, e é um convite para invadir as pistas de dança. Como fazer isso nesse momento de pandemia? “Olha, é triste, porque ‘Pancada’ é realmente uma música para as pistas. Mas eu também queria aquecer os motores e trazer esperança. Precisamos continuar dançando, mesmo que ainda não estejamos nas pistas!”, frisa.
E revela que também está lançando um feat com Gloria Groove, ‘Noite de Caça‘. “É uma música que eu amo e a Gloria é uma artista fenomenal, que eu amo. Tudo feito com amor, cuidado e sinceridade, quando é assim, voa fácil”, diz o artista. A faixa marca a parceria dos dois cantores conhecidos pelo talento e por usarem seu espaço para ampliar as vozes da comunidade LGBTQIA+. Tal encontro resultou em um reggaeton contagiante, que promete não deixar ninguém parado, com clima de flerte, paquera e muita dança.
O single ganhou sua versão em vídeo dirigido por João Monteiro, com cenas ambientadas em uma savana, onde os predadores imperam e o calor domina. Mateus e Gloria se tornam dois grandes felinos, que se encontram e esquentam a atmosfera para viverem uma noite de caça, como grandes predadores indo em busca da sua caça construindo todo um mistério de sedução dessa “caçada” entre os personagens.
Para ele, ser um cantor pop no Brasil é um exercício diário e uma luta contra o preconceito e afirmação. Considerado um polêmico sex symbol, Carillho diz que a sensualidade faz parte de sua personalidade artística e essência. É algo que vem com naturalidade, ‘título’ que naturalmente o torna uma grande referência de moda e beleza. Mateus flerta muito com as artes visuais, apresentando sempre um novo olhar estético. “Eu sou uma pessoa 100% visual, eu penso em tudo, do cabelo ao cenário do videoclipe. No último ano acabei mergulhando mais na música para conseguir trazer uma sonoridade mais madura. Mas sempre faço estudo de tendências e sou apaixonado por moda, converso com minha equipe e trago as ideias, tudo que é fresh me encanta”, explica.
Midiaticamente parece que estamos vivendo uma (r)evolução de valores e conceitos, principalmente para os artistas LGBTQIA+, afinal programas de TV como RuPaul’s Drag Race estão se espalhando pelo mundo e com picos de audiência. Sem falar da força dos nossos artistas ativistas tendo grande destaque ao redor do globo. “Essa reforma está acontecendo, pessoas invisibilizadas finalmente estão começando a ter suas histórias contadas, e apesar de ser um processo de anos, essa chavinha foi virada recentemente. Acho que as redes sociais trouxeram visibilidade e contribuíram pra essa revolução. Mas ainda estamos longe, eu quero ter os mesmos acessos que os sertanejos, por exemplo, eu não quero ser jogado numa playlist LGBT para eles sentirem que estão fazendo muito por nós”, reflete.
Carrilho comemora o sucesso de sua carreira solo e nos conta que suas inspirações e influências são uma busca constante. “Eu sou aquela pessoa que busca referência e inspiração o tempo todo. Histórias antigas, histórias novas, sentimentos engavetados viraram música nesse novo momento. Eu estou indo sem medo dessa vez, não me barrei artisticamente por achar que ‘não daria certo’. Simplesmente estou fazendo o que eu gosto, meu rolê”, observa.
O artista conta que sua bagagem artística vem muito de sua fase da Banda Uó. Ele integrou o grupo musical brasileiro formado em 2010, na cidade de Goiânia, Goiás, ao lado dos vocalistas Candy Mel, Davi Sabbag que teve seu fim em 2018. “Tudo que eu faço hoje é bagagem da Uó, toda experiência que eu tenho e noção sobre a realização desse trabalho. Eu estou orgulhoso com tudo que construímos. Mas eu também desenvolvi muito após a pausa da banda, porque eu tive que me virar, fazer acontecer, então meu amadurecimento foi grande”.
O cantor é natural da cidade Goianésia, Goiás, região em que o ritmo sertanejo é predominante. “Meu pai ouvia muito, as raízes tipo Tião Carreiro e Pardinho, Milionário e José Rico. Ou os ‘Amigos’ (Chitãozinho & Xororó, Zezé di Camargo & Luciano e Leandro & Leonardo, exibidos de 1995 a 1998 na programação de fim de ano da Rede Globo), que foram febre na minha infância. Eu fui influenciado, sim, e amava as composições. Acho que hoje apesar de ter feito um caminho diferente, as referências não deixam de flertar com o que eu faço”, revela.
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