*Por Domênica Soares
+Amor chega com muita potência e atitude ao mercado, características essas do canto único de Mariana Volker. O single é uma produção de Pedro Sodré com clipe dirigido por Letícia Pires. A estética da produção audiovisual é inspirada nas cores e estilo dos anos 90, levando contrastes, muitas luzes e elementos futuristas. Segundo Mariana, o disco foi todo pensado para que as pessoas consigam enfrentar suas dores com mais leveza e enfatizando a temática da superação como essência. “A gente sofre, mas sobrevive e – se sobrevive – que sejamos inteiros no sentir e no agir”, desabafa. Ela conta que sempre acreditou que devemos falar sobre as questões que nos incomodam, inclusive as dores e angústias. A partir disso, é possível começar processos de cura e ampliar as redes de sororidade e empatia com o próximo. No clipe também encontramos críticas sociais e todas as formas de amor, amizade, repensando padrões. A música grita: “Eu transparente/ Você censura/ Eu transbordante/ E você, clausura”, e termina com o caminho livre para a cura de todas essas análises sociais feita pela artista.
O primeiro single +Amor fala sobre o respeito às diferenças e a importância da representatividade que, de acordo com a cantora, precisam estar presentes em todos os âmbitos para além da música. Ainda diz que o modo como consumimos os conteúdos demonstra sobre o que podemos reproduzir e levar para o outro. Por isso, destaca que é essencial dar visibilidade às produções feitas por mulheres, gays, negros… “Tão importante quanto a fomentação da indústria é a gente consumir. Só consumindo o outro, o que alguns podem considerar “diferente”, é que a gente fura as nossas bolhas e abre a sociedade para um debate, um diálogo”. Ela diz que, quando está criando seus projetos, busca sempre trabalhar com uma equipe plural, muitas mulheres, pessoas de todos os tipos e com diferentes olhares sob a mesma perspectiva. “A maior parte da minha equipe inclusive é composta por mulheres. Meus três últimos clipes foram dirigidos por mulheres (Letícia Pires e Carol Viana) e feitos com uma equipe super plural. Não só à frente das câmeras, mas no backstage, pensando e criando junto. Como artista sinto essa obrigação e necessidade de fazer do meu microcosmo um reflexo do mundo que eu desejo”, afirma.
A artista fala que seu primeiro single discorre sobre as pessoas, corpos livres que não precisam se encaixar em nenhum molde. Sobre ser do jeito que é, independente de cor, orientação sexual ou tamanho, se tornando então uma ode às diferenças, ao respeito e a alegria, ao amor sem troca de favores. Porém, a ideia da canção não é ocupar algum lugar de fala, mas sim o desejo de somar e abrir conversa sobre os aspectos que ferem a sociedade mesmo que não aconteçam na própria pele. “Ninguém precisa esperar que aconteça dentro sua casa para se importar. A gente tem que se incomodar, pois acontece todos os dias não só com os nossos amores, amigos, nossos afetos, mas também com gente que a gente não tem acesso. Tá fora da nossa bolha. Precisamos ser anti-racistas, anti-homofóbicos, anti-machistas. É o básico para uma sociedade saudável”, desabafa.
Em entrevista exclusiva ao site Heloisa Tolipan, a cantora expressa suas opiniões em relação à sociedade em que estamos vivendo atualmente e descreve que nesse momento tudo está muito inflamado, os valores invertidos, as pessoas estão mais reativas, muito ódio, muito bate-boca e falta de diálogo. Mariana se preocupa com os rumos que a nossa sociedade está tomando e diz que existe muito preconceito. E exemplifica citando que o Brasil é o país em que mais se mata homossexuais e que agride frequentemente negros e mulheres, deixando à míngua a população idosa e pobre, além de não existir investimento forte em saúde, educação e cultura. “Está tudo fora de lugar, mas ainda acredito em um momento urgente de conversa e escuta. É necessário. Precisamos parar de andar em círculos, retroalimentar raivas… entender melhor quem são os nossos inimigos e realmente dar às mãos. Só assim é possível sair dessa lama. Tem muita gente bacana que está aí na luta, abrindo caminho. Precisamos ouvir e sem somar não vamos a lugar algum. Sou otimista e tento usar a minha música para trazer mais gente para perto”, afirma.
Fora do mundo da música, Mariana assume que é uma pessoa calma e batalhadora, que busca atingir suas metas e objetivos. “Sou muito inquieta, faço 300 coisas ao mesmo tempo e amo isso. Me alimenta. Consegui, controlando a minha ansiedade patológica, a perder menos tempo com coisas e pessoas inúteis, focar no que interessa e respeitar o tempo das coisas. Tenho meditado bastante, deixo essa dica para todas as pessoas planeta”. Ainda conta sobre suas maiores inspirações no momento: Janelle Monáe, Daughter, Alice Merton, Aurora e Caetano Veloso, mas não esconde que andou revisitando Tom Jobim, que esteve sempre muito presente em sua adolescência. Animada, comenta ainda que tem muitas inspirações: Liniker, Tulipa Ruiz, Tim Bernardes, Pink Floyd, King Krule, LCD Soundsystem, Gypsy & the Cat e David Bowie.
Quando perguntada sobre seu maior sonho, Mariana diz que é difícil resumir em poucas palavras, mas que, ao pensar em felicidade fechando seus olhos, se vê podendo realmente viver de sua música, tocando as pessoas, continuando a fazer canções para os corações abertos e desavisados. “Quero realmente poder ajudá-las em seus processos de cura através da minha música e dessa forma eu me curo também. É o que faz sentido para mim. Quero voar alto e do meu jeitinho”. Mariana deixa suas marcas e ideologias por onde passa e é com esse ‘jeitinho’ que segue conquistando pessoas, realidades e contextos. Com sua voz forte e intensa, ela grita, por justiça, igualdade e empatia. +Amor é um pedaço da artista e traz o verdadeiro significado dessa palavra que foi tão banalizada ao longo do tempo. Essa sensibilidade é o sobrenome de Mariana, que promete conquistar os ouvintes com o novo álbum. Assim, ela invade corações e transforma o mundo em um lugar mais digno, honesto e justo, com mais amor.
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