*Por Jeff Lessa
Em 2003, o cantor e compositor Marcos Sacramento estava em Presqu’île de Giens, uma praia na Côte d’Azur (Sul da França), quando avistou um belo homem deitado na areia. Eles trocaram olhares e o rapaz, chamado Drago, levantou-se para servir a água que o brasileiro procurava: ele era o bartender franco-marroquino que esperava, tomando sol, começar o movimento no restaurante onde trabalhava, diante do mar. A água foi servida e o papo começou. Conversa vai, conversa vem e… nada! Rien de rien. Dezesseis anos depois, o músico lança nessa quarta-feira (dia 9) no Theatro NET Rio, o disco “Drago”, homenagem ao quase amor de anos atrás e primeira música de trabalho do álbum, parceria com Paulo Baiano.
– Foi tudo “quase”. Na canção procurei fazer um jogo de palavras com Presqu’île, que significa quase ilha. Drago e eu ficamos só na base da contemplação da beleza – conta Sacramento.
“Era Drago, era quase uma ilha / (…) / quase um sonho, quase amor, quase sim”
Primeiro disco de inéditas depois de cinco anos (o último foi “Autorretrato”, lançado em 2014), “Drago” também traz uma singela homenagem à mãe do artista, que acabou de completar 92 anos. O samba “Mãe”, composto em parceria com Luiz Flávio Alcofra, é uma ode comovente a dona Nilza: “Como ela ralou / lavando roupa / quanta roupa ela lavou / quando cozinhava o / refogado / como refogou / quanto ela cozeu / como ela rezou”.
– Minha mãe era o que se chamava antigamente “do lar”. Era muito dedicada, lavou muita roupa para fora para nos sustentar. Lembro do cheiro da água sanitária e da comida que ela preparava todo dia para o meu pai, operário, levar na marmita. Na verdade, escrevi essa letra em homenagem a todas essas mulheres que ralam muito para sustentar os filhos – conta. – Hoje elas conquistaram espaço, trabalham fora. Naquela época eram 24 horas sem descanso e sem reconhecimento.
Na lindíssima e um tanto melancólica “Bolero Impossível” (com Itamar Assiere e João Ferraz), o artista volta à temática do romance gay: “E esse amor que não ousa dizer o nome / e esse amor que insiste em não dizer quem é / Oh! coração por que é que tu não paras”. O lirismo tristonho de “Paris” (parceria com Marcelo Caldi) tem como cenário a… Praça Paris (“A praça era Paris / o céu era da Glória / faltava eu ser feliz”). Nas outras faixas, Marcos Sacramento mantém o tom íntimo, confessional, que lembra uma conversa com seu ouvinte:
– Quando faço discos autorais, falo das minhas experiências pessoais. Caminho muito pela cidade, observando tudo. Sou um andarilho contemplativo e confessional. É preciso ter alguma coragem para me expor assim.
“Drago” foi totalmente financiado por crowdfunding, pela plataforma Catarse. O financiamento coletivo ficou aberto por dois meses e foi a primeira experiência do músico, de 58 anos e mais de 30 de carreira, com este tipo de captação de recursos. Pergunte se ele ficou nervoso:
– Absolutamente tenso! Muito nervoso! Verificava todo dia para ver se estávamos perto da meta e achava que não íamos conseguir chegar lá. Mas conseguimos, tanto que o CD está aí, né?
Ufa! Agora a ideia é sair em turnê pelo Brasil. Ainda não há datas confirmadas, apenas as cidades onde vão correr as apresentações: Belo Horizonte, São Paulo, Curitiba e Brasília, além de outras que ainda estão em fase de negociação. Como no Rio, os shows terão apenas uma única apresentação.
– Diminuiu a quantidade de teatros, diminuiu o público, diminuiu a prática de se fazer temporadas. Houve um retrocesso na área da cultura, muitos cortes de verbas. No começo do ano, eu ia fazer uma homenagem ao centenário do Nelson Rodrigues no CCBB, mas o projeto foi cancelado. Não sei o motivo exato, só falando com a produção. Mas, apesar de todos os revezes, venho trabalhando muito desde janeiro e é isso que vale – conclui Sacramento.
SERVIÇO
Theatro Net Rio: Rua Siqueira Campos 143, 2º piso, Copacabana – 2147-8060
Quarta (9), às 21h
R$ 30 (meia, cliente NET e 50% Clube Globo), R$ 42 (30% Clube Uol) e R$ 60 (inteira)
12 anos
90 minutos
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