Marcelo D2 comemora 20 anos de carreira, lança seu primeiro DVD ao vivo “Nada Pode Me Parar”, no Circo Voador, e fala com exclusividade ao HT

Polêmica, irreverência e muita música boa! Assim foi construída a carreira de um dos cantores mais querido da cena hip hop do Brasil. De que estamos falando? Marcelo D2, claro! Comemorando 20 anos de carreira, o cantor lançou neste fim de semana, no palco do Circo Voador, na Lapa, acreditem, o seu primeiro DVD ao vivo, intitulado “Nada Pode Me Parar – Ao Vivo” – único registro em DVD do artista que, até então, ficava por conta da série “Acústico MTV – Marcelo D2” (2004). Com a casa lotada e um clima bem descontraído, o rapper fez uma grande apresentação onde mesclou músicas de seu novo trabalho com batidas já carimbadas do gosto popular como “Qual é?”, “Desabafo” e a clássico “Mantenha o Respeito”. Um showzão!

Com exclusividade ao HT, D2 contou por que demorou tanto para lançar o novo registro. “Esse trabalho vem sendo pensado há quase 10 anos. É sério (risos). Mas os caminhos acabaram me levando pra outros lugares. Pra ser sincero, eu não sou muito fã do formato do DVD. Essa coisa de eternizar um trabalho em áudio e vídeo, mas achei necessário para ficar aí pra posteridade, pra garotada…”, contou ele.

Marcelo D2 lança DVD em show com plateia lotada no Circo Voador, no Rio (Foto: Divulgação)

Apesar do show ter sido gravado em 2014, o lançamento só ocorreu agora em janeiro de 2016. Segundo ele, problemas com diretos autorais atrasaram o andamento do trabalho. “Eu tive muito problema com direitos autorais… por causa de sampler, tive muito problema com isso. Eu uso muitos pedaços de músicas do outros nas minhas e a gente depende da boa vontade das pessoas. Isso acabou dando uma esfriada, mas o DVD tá ai, tive que tirar algumas músicas importantes como “A Procura da Batida Perfeita”, mas tá tudo certo. Estou feliz de ele ter saído. E mais feliz ainda de estar lançando aqui no Rio no Circo Voador, que é uma segunda casa pra gente”, esclareceu.

Marcelo Maldonado Peixoto, conhecido como Marcelo D2, nasceu no Rio de Janeiro, em 5 de novembro de 1967, e, desde novo, tinha o sonho de ser skatista ou jogador de futebol. Mal sabia ele que seu destino seria a música. “Eu sempre quis ser skatista, mas não tinha talento nenhum. Depois tentei ser jogador de futebol, mas o talento era zero também. Quando eu comecei a cantar, a música ainda não rendia muito dinheiro e fui ser camelô. Estava sempre indo ao Paraguai e voltava cheio de muambas”, relembra. Anos depois o cantor estourava na cena brazuca com o Planet Hemp. A banda era uma espécie de manifesto jovem dos anos 90 que ajudou a quebrar diversos preconceitos, principalmente na questão da mistura de estilos musicais e na controversa  e polêmica legalização da maconha. “Na época a gente era perseguido. As pessoas eram mais caretas e cancelavam nossos shows. Saiam muitas notícias na mídia de que a gente era preso, mas era tudo mentira! Eu só fui preso uma vez, em Brasília. Mas acho que, de certa forma, esse marketing teve um lado positivo e um negativo. Da mesma forma que ajuda na divulgação do nosso nome e da nossa ideologia, ele tirava o foco da qualidade do nosso som”, ponderou.

Anos depois, a icônica banda chegaria ao seu fim e Marcelo daria seus primeiros passou na carreira solo – de bastante sucesso, por sinal. No entanto, no início dos anos 2000, D2, Rafael Crespo, BNegão, Formigão e Bacalhau decidiram voltar à ativa para cumprir agenda de alguns shows. Para nossa sorte, o Planet anunciou uma volta oficial agora em 2016 com um show gigantesco no palco principal do festival Lollapalooza, em São Paulo. “É uma volta! Já estamos por aí… Cara, em 2012 a gente fez um show só pra MTV, no aniversário da emissora. Em 2013 a gente resolveu fazer uma turnê. E agora, nesse ano, quando a gente se reuniu de novo a gente resolveu fazer música, voltar pra uma banda mesmo, se ver frequentemente. A gente tem ensaiado uma vez por semana e quer ter um pouco mais de arquivo. Porque, por incrível que pareça, depois de mais de 20 anos que a maioria das letras no Planet foram escritas as coisas ainda são muito atuais. Inclusive a gente vê que tinha muita gente que nunca tinha visto o Planet Hemp, e o Planet é uma banda política, é uma banda forte, uma banda que dá orgulho de a gente fazer parte disso. Então, vamos voltar e fazer direito de novo”, declarou.

Mas quando o assunto é política, o rapper prefere ficar de fora e garante que, atualmente, não levanta nenhuma bandeira. “Se correr o bicho pega. Se ficar o bicho come. O nosso cenário político é muito triste. De um lado, um governo que sucateou todo o nosso país, de outro, uma galera corrupta. Eu tô do lado da liberdade e da democracia, sabe? É ridículo tudo isso”, disse, que também falou sobre a legalização da maconha. “Já avançamos muito. As pessoas eram mais caretas. Hoje, já tratamos assunto de forma consciente, longe de preconceitos”, disse.

Marcelo D2 lança o DVD “Nada Pode Me Parar – Ao Vivo” (Foto: Divulgação)

Em seus 20 anos de carreira, D2 transitou por diversos estilos musicais aos olhos do público e garante que tudo faz parte de um amadurecimento natural de qualquer músico. Mas lembra que seu negócio é o rap. “Eu fui polindo meu estilo de som, experimentando o rap, rock, samba… Quero fazer um som que toque em todo mundo”, contou, antes de avaliar o cenário atual do rap e no Brasil. “Eu acho que o rap mudou bastante, e eu gosto disso. O som tem que estar em evolução constante mesmo. Se popularizou e ficou mais pop, claro. Acho que tem muita coisa boa, muita coisa interessante. Os últimos discos do Criolo, do Emitida foram demais. Acho que a cena está num momento de amadurecimento muito bom, hoje a molecada sabe bem se colocar no mercado. Tem muitos artistas da cena agora falando de amor. Eu prefiro falar sobre problemas sociais, porque é o que eu sei fazer, mas acho que tudo dentro do movimento é muito válido”, afirmou.

Cheio de projetos para 2016, o cantor que também é fã de cordel, será homenageado com um personagem no filme “Anjos da Lapa”. No longo, D2 será interpretado pelo ator Renato Góes, o Santo de “Velho Chico”. E muito se engana quem pensa que os projetos musicais ficam por aqui. “Quero fazer, não diria um disco, mas algumas músicas novas com o Planet. Vou fazer meu próximo disco. Quero cantar samba esse ano. É isso cara, tem muita coisa. Esse ano vai ser um ano produtivo, pode esperar”, finalizou. A gente, claro, já está ansioso.

Enquanto isso, fiquem com as fotos do Vinicius Pereira do show que rolou este fim de semana. Siga a seta!