Marcello Faustini e preconceito por ter sido primeiro Paquito de Xuxa: ‘Ouvia piada de produtores, mas segui minha arte’


Depois de fechar o ciclo como assistente de palco da Rainha dos Baixinhos, ele foi ator na primeira temporada de Malhação, em novelas, ganhou muito dinheiro e se lançou na música. Ano passado, foi jurado do ‘Canta Comigo Especial All Stars’, apresentado por Xuxa, na Record. “Nunca fui pirado no sucesso. Senti a mudança, mas sempre tive a cabeça estruturada e continuei trabalhando. Tinha ator que me chamava de Faustini. Tempos depois, passou por mim na rua nem olhou na minha cara. Hoje, tudo é muito rápido. A idade também é cruel com a carreira do artista, a TV quer botar gente nova, bonita”, frisa

* Por Carlos Lima Costa

Na esteira do sucesso do programa Xou da Xuxa, vários profissionais se destacaram depois de surgirem na telinha como assistentes de palco, formando, inclusive, dois grupos musicais. Entre as Paquitas, Letícia Spiller se tornou uma das estrelas das novelas da Globo. E, na versão masculina, Marcello Faustini também enveredou nas tramas da emissora. Participou de várias produções. Mas com o passar dos anos perdeu espaço na área da atuação, se dedicando mais à música, que sempre lhe deu maior prazer.

“Naquela época, tinha certos lugares como shoppings que eu não conseguia andar. Na praia, eu me lembro de gente entrando no mar com papel e caneta para me pedir autógrafo”, recorda ele, sobre situações vividas em seu auge nos primeiros anos da década de 90. E ressalta que aceitou bem quando esse frisson foi diminuindo. “Eu senti a mudança, mas sempre tive uma cabeça estruturada. Nunca fui pirado no sucesso, deslumbrado com o meio, muito menos de babação de ovo, de fazer politicagem. Sempre fui muito sincero. Eu fazia meu trabalho e não me arrependo de ter agido dessa forma. Agradeço a Xuxa (Meneghel) por ter sido o primeiro Paquito, mas como disse, nunca fui de babar ovo. E mesmo não tendo mais aquele sucesso, nunca fiquei sem trabalho”, frisa.

E acrescenta: “Não mudei muito. Hoje, tenho apenas uns dois quilos a mais, tenho o mesmo cabelo, meu rosto está igual apenas com uns pés de galinha da idade. As pessoas daquela época lembram de mim. Até já me falaram: ‘Você era meu crush, eu tinha seus posters’, conta.

Nos últimos tempos, Marcello Faustini tem se aperfeiçoado no piano (Foto: Reprodução Instagram)

Nos últimos tempos, Marcello Faustini tem se aperfeiçoado no piano (Foto: Reprodução Instagram)

Quando a pandemia começou e a área artística parou como um todo, ele vinha há cerca de um ano fazendo participação no show de Gustavo Tibi, todos os sábados, no Londra, do Hotel Fasano, em Ipanema. Marcello gosta muito de interpretar clássicos como Bridge Over Troubled Water, de Simon & Garfunkel, e Can’t Help Falling In Love, eternizado em 1961 na voz de Elvis Presley (1935-1977), com melodia baseada na popular canção francesa Plaisir d’amour, composta em 1784 por Jean-Paul-Égide Martini (1741-1816). “Trabalhei como ator, fiz faculdade de Cinema, mas tenho uma paixão maior pela música”, explica ele.

Seu único disco lançado foi com os Paquitos, em 1990, levando o nome do grupo, e que apresentou os sucessos Paquidance, Muito Prazer e Nova Onda. Em 1998, Marcello chegou a gravar um CD solo, mas o projeto acabou não sendo lançado. Atualmente, essas músicas estão disponíveis no Spotify.

Na verdade, após encerrar o ciclo com os Paquitos, em definitivo, pelos idos de 1993, ele que havia participado de filmes como Lua de Cristal, protagonizado pela Rainha dos Baixinhos, ingressou na Oficina de Atores da Globo. E foi um dos atores lançados na primeira temporada de Malhação, em 1995. Estava em todas as revistas destinadas aos adolescentes e rodou o país marcando presença em bailes de debutantes. “Naquela época, éramos cinco ou seis atores fazendo isso. Eu, o Claudio Heinrich (que também surgiu como Paquito), o Luigi Baricelli, Fábio Assunção fez alguma coisa, Marcelo Faria e Marcio Garcia. Não tinha mais atores com cara de príncipe de baile. E eu não esbanjava dinheiro. Foquei, fiz meu pé de meia e comprei um apartamento no Rio e outro, em São Paulo. Mas não sou rico, não fiz fortuna. Fui contido durante a pandemia e todo esse tempo me sustenta um apartamento alugado. As pessoas tem que trabalhar para sobreviver, mas como tenho esse suporte, tenho o privilégio de trabalhar com o que gosto”, frisa. Durante uma época, ele até foi sócio de uma marca de óculos de sol, mas em paralelo ao trabalho artístico.

Marcello Faustini posta vídeos cantando clássicos da música internacional em sua página no Instagram e no YouTube (Foto: Reprodução Instagram)

Marcello Faustini posta vídeos cantando clássicos da música internacional em sua página no Instagram e no YouTube (Foto: Reprodução Instagram)

A timidez, uma marca registrada de Marcello, melhorou muito enquanto participava de bailes de debutantes, onde também desenvolveu seu lado musical, pois sempre aproveitava para cantar com as bandas locais. E agora, durante a pandemia, tem postado vídeos cantando clássicos em sua página do Instagram e no YouTube, fez lives e também algumas apresentações presenciais em eventos de empresas, que seguiram todos os protocolos.

Marcello, que atuou ainda em novelas como Kubanacan, em 2003, se afastou do Brasil, após um momento difícil, em 2006, quando perdeu a mãe, Maria Aparecida, aos 57 anos. “Foi uma época complicada, um câncer maltrata a família toda, ela se foi em apenas seis meses. Eu precisava de um tratamento de choque para não entrar na depressão, tive síndrome de pânico, aluguei meu apartamento e fiquei uns três anos em Boston, nos Estados Unidos”, observa. Lá, a música mais uma vez cruzou seu caminho e ele acabou abrindo o show de Sandy e Jr. e de Leonardo, no Brazil Fest, em Boston.

Ser ator ou cantor eram profissões que não passavam na cabeça de Marcello quando ele era adolescente e acabou entrando na área artística ao acaso, em 1988. Ele morava no Leblon e namorava uma jovem que residia em frente ao Teatro Fênix. “Parei em uma banca, estava vendo revista de surfe quando uma produtora me chamou: ‘O menino, você tem cara de Paquito, quero te mostrar para a Marlene (Mattos)”. Tinha 16  para 17 anos, vendo aquilo logo fiquei me imaginando trabalhando ali, viajando com as Paquitas e ainda ganhando para isso. No outro dia, ao me entrevistar, Xuxa me perguntou porque eu queria ser Paquito. Respondi que estava passando e me chamaram para ver qual era. Ela riu. Soube que ela tinha me adorado. E a Marlene dizia que eu não ia conseguir porque era muito tímido”. Nunca tinha pensado em ser artista. Eu queria cursar engenharia eletrônica. Hoje, na minha idade, se pudesse faria diferente. Não teria feito faculdade de Cinema, teria feito arquitetura, porque adoro reformar, quebrar apartamento”, explica.

“Quando a gente se encontra é sempre uma festa”, explica Marcello sobre Xuxa (Foto: Reprodução Instagram)

E relembra de ter sido tratado de forma pejorativa por ter sido Paquito. “Ouvia piadinhas de produtores de elenco de bobeira, querendo me botar para baixo, me chamando de paquitinho, mas nunca me deixei levar. Era isso ou arregaçar as mangas como fiz e vou continuar fazendo, trabalhando, trabalhando a minha voz e cantando”, aponta. E relata outro fato, da forma como esquecem as pessoas quando elas não estão mais por cima. “Tinha ator que me chamava de Faustini. Tempos depois, passou por mim na rua nem olhou na minha cara. Hoje, tudo passa muito rápido. A idade também é cruel com a carreira do artista, a TV quer botar gente nova, bonita”, frisa

E prossegue: “No geral, tudo foi muito legal, trabalhando eu tive um aprendizado que nenhuma faculdade me traria. Agradeço muito, porque foi uma baita escola e a carreira segue além do nosso trabalho quando adolescentes. Não me sentiria bem cantando com os Paquitos, hoje, me sentiria ridículo”, conta.

Marcello Faustini atuou em novelas como Malhação e Kubanacan (Foto: Reprodução Instagram)

Marcello Faustini atuou em novelas como Malhação e Kubanacan (Foto: Reprodução Instagram)

Na vida afetiva, ele  continua solteiro. “Eu sempre namorava, inclusive, estou de namoro sério. Sempre fui de namoros longos”, lembra. Entre seus romances, foram quase cinco anos com a atriz Raquel Nunes e outros dois com Deborah Secco. Ele também não teve filhos. “Sempre trabalhei muito em eventos, viajando  e aí aquela época passou. Imagina, se tivesse uma criança hoje. Quando tivesse com 15, 16 anos, eu ía estar velho. Mas tenho duas sobrinhas lindas, Beatriz e Helena, de três e 1 aninho”, explica, sorrindo.

Entre as aparições mais recentes na TV estão a novela Amor À Vida, em 2013, onde fez uma breve participação ao lado de Tatá Werneck e de Luciano Huck. Em 2018, participou do Dancing Brasil, e em 2020, foi jurado do Canta Comigo Especial All Stars, ambos apresentados por Xuxa, na Record TV. “Quando a gente se encontra é sempre uma festa”, finaliza ele.