*Por Brunna Condini
Não podemos controlar o que nos acontece, mas podemos ressignificar os acontecimentos. Assim tem sido com a cantora e compositora Manda, que já foi Amanda Rodrigues antes de migrar do Gospel para o Pop, se lançando no novo gênero com o disco ‘Música‘. Além da carreira musical emergente, Manda compartilha com o público seu ativismo, que nasceu das inquietações pessoais. Por acreditar no poder transformador da música, ela também é idealizadora e militante do projeto Maio Laranja, uma campanha de conscientização contra o abuso e a exploração sexual infantil, que promove encontros online com pessoas que orientam e somam à causa.
Em entrevista exclusiva ao site, a cantora abre o coração falando sobre música, o caminho até aqui e do ressignificado de um episódio pessoal. “Infelizmente eu faço parte da estatística triste de tantas crianças abusadas sexualmente no Brasil. Fazendo terapia, já adulta, percebi o quanto essa experiência tinha me afetado. Porque ao contrário do que as pessoas imaginam, muitas vezes as crianças ou adolescentes abusados só conseguem processar que sofreram abuso muitos anos depois, já na idade adulta. Pesquisando na internet achei o 18 de maio, que é o Dia Nacional do Combate à Exploração Sexual Infantil no Brasil, e tomei conhecimento de que existia o Maio Laranja, mas que isso era algo muito pouco falado na mídia. O que fiz foi dar voz à essa causa, reuni vários amigos influenciadores e assim fizemos acontecer uma campanha linda no Instagram em 2020. Foi e tem sido uma forma bonita de transformar o que me aconteceu”.
Seu envolvimento com causas em que acredita é total, tanto que Manda realiza show e live solidária para ONG ChildFund Brasil, no próximo domingo (10), dentro do projeto Dia de Música, do Teatro Claro, em formato híbrido com público presencial e transmissão ao vivo através do YouTube. Parte da renda dos ingressos será revertida para as ações da ONG e durante a transmissão o público também vai poder apadrinhar uma criança. “O ChildFund é a nossa mão estendida onde não conseguimos chegar. Estou radiante de colocar minha música a serviço desse propósito e espero inspirar mais pessoas e artistas a se juntarem à causa da proteção infantil. Essa responsabilidade é de todos nós’, convoca, para o evento que começa às 18h e vai contar com as participações de Rodrigo Suricato e Paula Lima.
E é com música, atitudes e uma visão positiva da vida que ela vai dando seu recado e foi eleita por Thalita Rebouças, para cantar a música ‘Ninguém é como vc’, do seu novo álbum, no filme ‘Confissões de uma garota excluída‘, baseado na obra da autora, disponível na Netflix. “A Thalita é grande amiga de uma pessoa que trabalha comigo. Nos conhecemos na casa dessa amiga em comum, em uma noite agradável de música, conversa e eu diria que ali já rolou alguma afinidade. Thalita é uma pessoa alto astral, energia super boa, generosa, coração enorme, tem que se esforçar pra não gostar dela (risos)”. A cantora também anuncia que vem canção inédita, desta vez em parceria com Thalita, para um próximo projeto da escritora: “Compor com ela foi uma experiência super gostosa. Thalita já tinha uma letra muito legal, fiz a melodia e fui pincelando um detalhe ou outro da composição. Fizemos à distância e amei o resultado”.
Tempo de amor, liberdade e reflexão
O novo EP da artista traz oito faixas autorais, sendo seis inéditas, com destaque para a atual música de trabalho, ‘Um dia eu aprendo, no outro eu agradeço‘, que segundo a cantora representa bem seu momento de amadurecimento. “A letra expressa um grito de liberdade, mas com os pés no chão. Uma vontade de sorrir e agradecer pela vida, apesar do momento delicado que vivemos. É uma música muito especial, porque ficou gostosa de ouvir e carrega muito do que acredito. Tem nela um pedaço significativo e importante de quem eu sou. Quem quiser conhecer a Manda, vai ouvir essa música e vai conseguir captar muito do meu espírito”, garante.
Aos 30 anos, a carioca conta ter descoberto a música na igreja. “Foi a melhor escola que eu poderia ter. Conto que muitas vezes toda a informação que eu tinha a respeito do repertório do culto era ‘o tom é Dó’ (risos), e a partir daí tinha que seguir a banda. Isso fez com que eu desenvolvesse muito o meu ouvido musical, a ponto de conseguir tocar qualquer coisa (risos). E foi justamente essa vivência que me formou, porque não cresci em uma família musical”, revela. “A transição para uma música mais Pop foi um curso natural mesmo. Assim como foi supernatural escrever a respeito da minha fé, porque era o ambiente que eu conhecia até então, também foi natural desejar dialogar com outros ambientes, outras pessoas à medida que fui crescendo e amadurecendo”. E reflete sobre a religiosidade: “Não sei se eu diria que a religião está presente hoje na minha vida. Percebo que toda vez que falamos em ‘religião’ essa palavra vem carregada de um monte de conceitos genéricos, que já estão no imaginário das pessoas. Mão me considero uma pessoa religiosa, me considero uma pessoa de fé. Tenho fé em Jesus Cristo, me relaciono com ele, amo as pessoas ao meu redor e é isso. Pra mim o aspecto mais importante da minha ‘religião’ é amar as pessoas”.
Olhar é escolha
Com voz doce, mas com atitude e interpretações bem próprias da vida nas letras, a cantora põe em evidencia o recorte mais positivo que elege fazer do mundo, apesar de qualquer coisa. “Não me definiria como otimista, mas realista. A vida é feita de altos e baixos e eu sempre procuro aprender com os baixos. Entendo que na vida nem sempre a gente ganha, nem todo dia é de festa, mas que sempre há oportunidade de aprender, evoluir, mudar. E estou sempre procurando uma boa oportunidade para aprender mais. Tiro lições de tudo o que me acontece. Das coisas pequenas, da rotina comum e não só do extraordinário. E se isso for ser positiva, aí sim, eu devo ser (risos)”.
Com a pandemia, muitas pessoas enxergam uma espécie de ‘cobrança’ constante no ar para estarem positivas, muitas vezes até como mais uma pressão, algo que pode chegar a ser tóxico. O que pensa disso? “Eu acho que existe, sim, essa pressão, mas sinceramente não me deixo afetar por ela. Sou muito real e o público que me segue no Instagram sabe disso. Se eu não estou bem, falo, fico off, dou um tempo. Acho que ter uma visão positiva da vida é super importante e necessário, porque do contrário, fica tudo muito pesado. Mas somos seres humanos de carne e osso que choram, sofrem, sangram… e não podemos nos culpar por isso. Essa é a vida. E de fato eu vejo beleza nesse movimento dela. Vejo um ‘monitor cardíaco’, por exemplo. Quando há uma linha estática sem mudança ou movimento, é sinal de morte. Se decepcionar, se chatear, ficar triste é sinal que estamos vivos, faz parte. Quanto mais cedo fizermos as pazes com isso mais leve a vida vai ser”. E é na base da leveza que Manda deixa escapar os desejos que joga no universo: “Quero ser uma cantora e compositora com uma carreira consolidada. Tenho um sonho muito grande de ganhar um Grammy um dia”.
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