*Por Brunna Condini
Aos 23 anos e uma carreira recente, Mallu (apenas Mallu), é um cantora que sabe bem o que deseja comunicar com suas músicas. Descoberta em 2019 por Rick Bonadio – produtor musical conhecido por lançar talentos como os grupos Mamonas Assassinas e Charlie Brown Jr., entre outros -, ela foi do canto lírico para as letras pop ousadas como a do seu novo single, ‘Vadia Triste‘, lançado com a pergunta que aposta que viralize: “Quando você se sente #vadiatriste?”. Mas afinal, o que é uma vadia triste? “A música é sobre como me enxergo no mundo: imperfeita, quebrada, indomável, mas com um desejo grande de aproveitar a vida e o momento. A letra expressa esse sentimento de vazio existencial misturado à busca do prazer imediato para tentar preencher esses buracos. Acho que toda mulher tem seu momento ou lado ‘vadia triste’, e espero que muitas possam se identificar, já que muitas vezes não sabemos como nomear, só sentir”.
E para quem possa criticar o uso do ‘vadia’, por conta do seu significado literal como uma forma ofensiva de classificar as mulheres, Mallu tem o discurso pronto, inclusive para as feministas: “Eu também sou uma delas. Sou 100% feminista e acho que minha música transparece isso também, só que não de maneira tão óbvia. Quando uso a palavra ‘vadia’, não coloco um sentido pejorativo, pelo contrário: utilizo essa expressão, que durante muito tempo foi usada contra as mulheres, com um sentido de empoderamento e autoafirmação. Vadia nesse contexto é uma mulher livre, que aproveita o momento e seu corpo da sua maneira”.
Buscando com afinco seu lugar ao sol no universo pop, Mallu esclarece ainda, que a expressão ‘vadia triste’ se comunica mais com mulheres e o público LGBTQIA+: “Os homens não são julgados pela sociedade por exercerem sua sexualidade, pelo contrário, geralmente são incentivados a isso”. Já ela, se define livre sexualmente: “Mas acredito que ainda tenho muito o que aprender sobre minha própria sexualidade. E acho que isso tudo vem com as experiências, a maturidade e o tempo”.
‘Vadia triste’, pero nem tanto. Já que vive uma relação de amor e parceria com o engenheiro Bruno Nascimento há quatro anos e revela que apesar dele não ser do métier artístico, não se sente ameaçado pela sua liberdade e seus posicionamentos. “O Bruno é uma das pessoas que me incentivam a ser eu mesma, me expressar e tentar sair de uma ‘caixinha’ de boa moça, exemplo de menina. Também não sente ciúme e acha incrível minha arte. Eu também não estaria junto se não fosse assim (risos). Ele inclusive me ajuda na criação dos roteiros dos clipes”.
Para provocar as estruturas
Apesar de ter estudado canto lírico na faculdade, Maria Luísa Chagas Ferreira, a Mallu, só viu a vida mudar e ir rumo à música que gostaria de fazer, mais popular e dançante, quando tomou coragem e mandou seus vídeos cantando covers no YouTube para a gravadora Midas Music, de Rick Bonadio. “Curtiram e me chamaram para uma reunião. Acabei fechando com eles e fiz meu primeiro trabalho autoral lá. Foi uma experiência boa e me deu esse pontapé inicial para seguir atrás do meu sonho”, recorda a cantora, que lança o sétimo single. Por que só Mallu? Não teme ser confundida com a (Mallu) Magalhães? “Comecei com um nome artístico ‘Mallu Lyra’, mas não estava satisfeita com ele. Daí decidi tirar o Lyra deixar só Mallu, que era como muitas pessoas já me chamavam e também o nome com o que eu mais me identificava. Não tenho medo de ser confundida com a Magalhães, porque acho que os nossos trabalhos estão em universos tão distantes que não imagino se cruzando”.
É bem verdade. O som desta Mallu aqui, em nada lembra o som suave, que tem raízes no folk e no pop rock, da sua xará. Nos últimos singles, ‘Roleta Russa’ e agora ‘Vadia Triste’, ela mostra suingue, rimas abusadas e disposição para tocar em temas que estão na roda, como relacionamentos abusivos e a liberdade sexual feminina. E pode-se perceber nos videoclipes, estilo musical, roupas e letras, que a cantora se inspira em alguns artistas nacionais e internacionais, como Pabllo Vittar, que também canta, determinada e segura de ser por aí: “Piranha também ama Piranha também chora/Piranha também sofre se você vai embora /Piranha também ama Piranha também chora/ Piranha também sofre se você ignora”, no trecho de ‘Ama, sofre, chora’. “A Pabllo é inspiração e uma das maiores artistas do Brasil atualmente. Mas minha maior referência de todas é a Ariana Grande e amo a Lana Del Rey. No Brasil também admiro muito Anitta e Glória Groove“.
Mallu sonha: “Gostaria de perguntar pra Anitta, Ariana e Lana Del Rey qual a visão delas sobre o termo ‘vadia triste’, e se elas também se identificam. Na verdade, gostaria mesmo de perguntar isso à toda mulher, acho que muitas podem se identificar”. E filosofa: “Acho que a arte tem esse papel de questionar padrões e provocar as pessoas. Pra mim, o que tento provocar é um choque nas pessoas falando sobre coisas em minhas letras, que não são esperadas para uma menina jovem, de aspecto meigo. Acho que minha busca é sempre questionar a ideia de que nós mulheres temos que ser perfeitas, mostrando que temos direito de sermos falhas e que também somos donas do nosso corpo e sexualidade. Fora isso também busco quebrar o padrão de que toda arte precisa ser um bom exemplo e servir à moral”.
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