* Com André Vagon
Louise Lecavalier faz parte daquele tipo de artista que toma conta do palco sozinho. Sua grandeza de cena preenche absolutamente o teatro e vai de encontro à plateia que, assim, responde a este estímulo com os pelos em riste e as veias pulsando. Ela equivale a uma Denise Stoklos no teatro, a um David Bowie no pop, a uma Laurie Anderson na música minimalista ou ainda Tilda Swinton em seus papeis no cinema. Basta a sua presença no palco para, sozinha, capitalizar atenções e ocupar o plenamente o espaço cênico, mesmo que não houvesse música, luz, cenário. Por seus poros emana arte. O público desta segunda edição do Festival O Boticário na Dança pode conferir isso por ele mesmo, e olha que isso não é tarefa fácil para nenhum performer. Nesta terceira noite do evento no Rio de Janeiro (2/5) e, Louise tinha contra si a contundência dos dois espetáculos exibidos nos dias anteriores no mesmo Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a batuta de respectivamente o Batsheva Emsemble e Akram Khan Company, que contagiaram os presentes com espetáculos vigorosos dentro de estruturas passíveis de causar impacto enquanto dança-espetáculo.
Mas impacto e vigor não faltam a esta bailarina canadense, que fez carreira no prestigiado La La La Human Steps nos anos 1980 e 1990. Alguém até poderia afirmar que a ribalta da artista é consequência da importância dessa companhia da qual ela fez parte por quase duas décadas. Tolice. Assistindo a “So Blue”, o primeiro espetáculo inteiramente coreografado por ela, fica claro que a linha que separa o La la la e Louise, neste período em que ela fez parte da companhia, é tão tênue quanto aquela que divide comunicação corporativa e jornalismo em tempos de mídias integradas. Seus 55 anos de idade – uma eternidade se considerar a vida útil de um bailarino – não parece fazer a menor diferença em se tratando de força cênica. A música marcante de Mercan Dede funciona para sublinhar os movimentos que a artista usa para “se tornar arte viva”, como menciona o programa do balé. É aquele caso em que a sensação que se tem é de que o som persegue a coreografia, e não o contrário, quando seria de se esperar o mais comum: um bailarino, com sua sequência de movimentos procurando interpretar visualmente os compassos musicais. E, dentro do contexto, é impossível também não mencionar a força de seu partner – na criação e no palco – nesta dança: Fréderic Tavernini, escolhido a dedo por ela. Bastaria um passo em falso nesta escolha para que o contraponto de Louise ficasse em desvantagem, mas é importante mencionar o quanto ele a acompanha nesta jornada de 55 minutos em cena com o mesmo fulgor.
Fotos: Murilo Tinoco / AGi9 / Divulgação
Confira quem esteve no TMRJ para acompanhar o espetáculo:
Abaixo o vídeo promo de “So Blue” (Divulgação)
* André Vagon é coreógrafo pós-graduado em psico-motricidade, diretor de cena em eventos corporativos, estudioso e professor de dança, tendo atuado por mais 20 anos como bailarino profissional. Crítico de dança do site, para ele a vida é puro movimento
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