Live de Wesley Safadão é longa demais e exagera na publicidade

*Por Simone Gondim

A live de Wesley Safadão realizada neste sábado (24), no Recife, e batizada de “Garota VIP”, seguiu o modelo das apresentações de outros representantes do estilo conhecido como sofrência: longa demais, cheia de patrocinadores, incluindo marcas de bebida alcoólica, e com venda de títulos de capitalização cujo chamariz eram os sorteios de um carro zero km e prêmios em dinheiro. Em mais de cinco horas de show, o cantor exagerou na publicidade, chegando a interromper músicas para fazer propaganda, e recebeu convidados que fazem parte do cast da mesma empresa que ele, como Eric Land, Gleydson Gavião e Márcia Fellipe.

A presença de público, que poderia ter sido um ponto a favor da live, não fez diferença. Segundo Safadão, havia 300 pessoas instaladas em camarotes da casa de shows onde foi montada a estrutura para a transmissão, mas a ideia inicial era que esse número fosse cinco vezes maior. Entretanto, as únicas imagens mostradas pelas câmeras eram do palco e de uma área abaixo dele, onde ficava o automóvel que seria sorteado. Quem estava em casa ouvia, de longe, um burburinho ocasional, que mais parecia efeito sonoro em volume baixo do que a vibração de uma plateia. O próprio artista dava sinais de ter noção do problema, porque várias vezes disse esperar que os microfones captassem as vozes e os gritos, reforçando que havia audiência no local e agradecendo a todos.

(Foto: Reprodução Instagram)

Para apresentar a live, foi convidado Lucas Guimarães, marido do humorista Carlinhos Maia. Lucas estava no lugar de Tirulipa, diagnosticado com Covid-19 e lembrado ao longo da noite tanto por Lucas quanto por Safadão. Ao falar de coronavírus, a dupla começou bem, pedindo apoio de prefeitos e governadores para os profissionais do entretenimento, mas logo em seguida saiu do tom, dando a entender que houve exagero porque os organizadores da live não foram autorizados a receber 1.500 pessoas na plateia nem colocar mesas e cadeiras diante do palco para acomodar o público.

Os dois demonstraram indignação com o fato de algumas coisas estarem liberadas e outras não, além de insinuarem que a pandemia já não seria algo tão sério quanto há alguns meses. Safadão chegou a dizer que a diminuição do número de casos era sinal de que poderia haver mais flexibilização, “desde que tomados todos os cuidados”, e Lucas afirmou que, em Alagoas, a vida já teria voltado ao normal. Em resumo, um show de irresponsabilidade e um desserviço, com a justificativa de que os profissionais da área de entretenimento precisavam voltar a trabalhar e garantir o sustento de suas famílias.

Wesley Safadão e Eric Land cantaram juntos “Beijo das galáxias” (Foto: Reprodução YouTube)

Na sequência, a cantora Márcia Fellipe se juntou ao coro dos supostos prejudicados com a pandemia, dizendo que tinha três filhos em casa. Ficou feio fazer drama quando se está em uma situação mais do que confortável e há realmente gente sem trabalho. Para se ter uma ideia, em 2019, o marido de Márcia, o empresário Rod Bala, promoveu uma grande festa em um hotel em Fortaleza para celebrar os 40 anos da artista. Um dos pontos altos da noite foi a entrega do presente que ele havia comprado para a aniversariante: um Porsche 711 Boxster, automóvel de luxo avaliado em R$ 500 mil.

Gleydson Gavião e Wesley Safadão dividiram os vocais em “Simplicidade de vaqueiro” (Foto: Reprodução YouTube)

Musicalmente falando, foi uma noite recheada de sucessos e algumas canções anunciadas como novas. Do repertório de Safadão, foram apresentadas “Dois lados”, “Só pra castigar”, “Bora”, “Maria Santinha”, “Na cama que eu paguei”, “Ressaca de saudade”, “Despedida”, “Não atende não”, “Decreto liberado” e “Recairei”, entre outras. Na hora de “Romance com safadeza”, gravada com Anitta, foi exibido o clipe no telão e tocada uma base com a voz da cantora, para que o dueto fosse mantido. De novidades, entraram “Não valeu”, “Confidencial”, “O maior solteiro”, “Nem por um milhão” e “Elas gostam de gasolina”, sendo que essa última já nasceu machista e datada, por conta de versos como “Quando eu passo de Hilux as novinha gosta / Só porque tenho dinheiro e sou vaqueiro da roça”.

Antes do hit “Camarote”, Wesley Safadão cumprimentou o público presente na casa de shows e ressaltou que a música lhe trouxe uma situação financeira confortável. “Essa música me fez atualizar as contas. Botei tudo em dia”, afirmou. Pegando o gancho de possíveis dívidas de quem assistia à live, Lucas Guimarães incitava o púbico a comprar títulos de capitalização e participar do sorteio de prêmios no valor de R$ 5 mil cada.

Márcia Fellipe e Wesley Safadão apresentam “Quatro sorrisos” (Foto: Reprodução YouTube)

Mas Safadão não cantou sozinho a noite toda. O primeiro convidado a ser chamado foi Eric Land, cuja carreira é administrada por uma parceria entre a WS Shows, empresa do anfitrião da live, e a produtora pernambucana Luan Promoções. Além da novidade “Beijo das galáxias”, tiveram espaço  músicas como “Cidade inteira”, “Ninguém vai dormir” e “Lembrando de você”. Na hora de “O povo gosta é do piseiro”, Lucas chamou várias pessoas ao palco para que mostrassem suas habilidades ao dançar o piseiro, ritmo que vem do interior do Nordeste e lembra o forró.

O clima de interior continuou com a chegada de Gleydson Gavião, que apresentou “Simplicidade de vaqueiro”, “Voando feito um gavião”, “Virei um vencedor” e “Coração machucado”. Antes de cantar com Gleydson “Minha pequena”, Safadão avisou que dedicava a música para a mulher, Thyane Dantas.

(Foto: Reprodução Instagram)

A terceira convidada da noite foi Márcia Fellipe, que cantou “Aqui ó pro meu ex”, “Quatro sorrisos”, “Quem me dera”, “Romance desapegado” e “Se você quer saber”. Depois dela, veio a dupla Davi & Thiago, com o recém-lançado single “TBT” – a base da música começou a tocar fora do tempo e precisou ser desligada, causando um certo constrangimento nos artistas, que ficaram aliviados quando a segunda tentativa deu certo.

Antes de encerrar a live, Safadão fez homenagem ao cantor Gabriel Diniz, conhecido pelo hit “Jenifer”. Gabriel morreu em 2019, aos 28 anos, vítima de um acidente aéreo na cidade de Estância, perto da divisa entre os estados de Sergipe e da Bahia.