Laura Simões, filha de Fabiana Karla, lança primeiro EP, fala sobre pressões e defende liberdade de corpos


A cantora pernambucana de 24 anos, estreia no mercado fonográfico com ‘Desejo’, provocando o público a pensar sobre seus próprios quereres. Laura é de uma geração que repudia as pressões estéticas e acredita que neste caminho de autoamor o mais importante é se manter saudável e aceitar a natureza do próprio corpo: “Vivo em uma eterna construção e desconstrução de mim mesma e esse processo acontece de maneira muito natural. A partir do momento que nos enxergamos com afeto, carinho e cuidado, muita coisa muda. O amor próprio é revolucionário e vem com o tempo. Não foi fácil e nem instantâneo ter essa perspectiva que tenho hoje, mas fui me percebendo, me nutrindo ao longo do processo e hoje sou mais forte”

*Por Brunna Condini

Empatia e potência são mais do que substantivos que podem compor frases em que a cantora Laura Simões seja citada. As palavras se traduzem em suas ações diárias, até por que desde sempre, estão incorporadas em sua criação. Filha da atriz e apresentadora Fabiana Karla, a artista de 24 anos constrói seu caminho de forma independente, mas sempre exaltando o legado da mãe, que vem ao longo dos anos inspirando e encorajando mulheres Brasil afora. “Ela sempre foi uma referência para mim e para as pessoas que saem de suas zonas de conforto em busca de um grande propósito. Apesar da distância (Laura mora em São Paulo desde 2018), vê-la ativa e exercendo seu trabalho sendo uma mulher fora do padrão, me inspira bastante. Sempre tivemos um diálogo muito aberto e isso me ajudou muito com os meus processos de construção”.

Me considero um mosaico cultural: sou mulher, brasileira e nordestina. Faço parte de alguns recortes da sociedade, sempre tive a cultura das minhas raízes presentes na vida e isso fala muito de mim – Laura Simões

Tal qual Fabiana, que usa sua visibilidade para contribuir para um mundo mais livre e menos gordofóbico, a cantora pernambucana não aceita pressões estéticas e ama seu corpo como é: livre. E é neste mood que Laura lança seu primeiro EP autoral, ‘Desejo‘, provocando o público a pensar em seus próprios quereres. “Esse trabalho mostra minha musicalidade, vertentes e referências. De fato é um grande desejo que estava guardado em mim há muito tempo. Quero que cada pessoa se conecte à minha música de uma maneira única e pessoal”. Teme comparações que possam surgir com sua mãe ou o peso da responsabilidade de ter que ser tão bem-sucedida quanto ela? “Não, até porque somos artistas em segmentos diferentes. Acho que ser bem-sucedido é o reflexo de um trabalho bem realizado, coisa que qualquer artista almeja alcançar em sua área. Faço o meu trabalho de maneira singular e isso já é massa”.

A cantora Laura Simões, filha de Fabiana Karla, lança seu primeiro EP, 'Desejo' (Foto: Johnny Moraes)

A cantora Laura Simões, filha de Fabiana Karla, lança seu primeiro EP, ‘Desejo’ (Foto: Johnny Moraes)

E elege aqui o conselho materno que costuma receber e faz toda a diferença nesta trajetória. “Ela me diz para que respeite minha essência, seja eu mesma. É do tipo super mãe, sempre apoiando os filhos em todos os caminhos que desejarmos trilhar”, diz, referindo-se também aos irmãos, Beatriz, 25, e Samuel, 22. “E me reconheço como cantora desde que me entendo por gente. Tenho uma relação muito estreita e natural com a música. A vontade de cantar e criar conexões com as pessoas sempre foi algo presente dentro de mim. Hoje, através de uma grande construção e desconstrução de mim mesma, consigo exercer esse papel de cantora e compositora”, completa.

Fabiana Karla e sua filha, a cantora Laura Simões (Foto: Pino Gomes)

Fabiana Karla e sua filha, a cantora Laura Simões (Foto: Pino Gomes)

Cria de uma geração (millennial) múltipla, ela incorpora em sua expressão artística o canal para ampliar vozes e questões pertinentes. “Me considero um mosaico cultural: sou mulher, brasileira e nordestina. Faço parte de alguns recortes da sociedade, sempre tive a cultura das minhas raízes presentes na vida e isso fala muito de mim. A minha grande comunicação com as pessoas e com o mundo vem da música”. E acredita que gente que não se limita aos padrões impostos pode se reconhecer nela: “O fato de eu ser mulher já me coloca em um lugar de resistência e a representatividade é espontânea. Sempre vão tentar objetificar os nossos corpos, mas agora as coisas mudaram. Todos merecemos ser felizes e pressões psicológicas não são mais aceitas. Então, desejo que minha música se comunique com as pessoas de todos os gêneros, credos, raças e origens, e acima de tudo, com muito amor envolvido”.

“Desejo que minha música se comunique com as pessoas de todos os gêneros, credos, raças” (Foto: Johnny Moraes)

Laura é adepta do Movimento Corpo Livre, que surgiu nos Estados Unidos como Body Positive e se fortalece por aqui. A ideia é ajudar mulheres a amarem e aceitarem seus corpos como são. E recorda o trajeto de construção da sua autoestima. “Comecei a me empoderar a partir da adolescência, quando enxerguei o mundo como ele realmente é. Daí surgiu a necessidade que eu descobrisse a minha potência para que pudesse me proteger da maldade alheia. Nunca dei palco para os que não merecem. Sempre tive uma autoestima elevada e fui muito livre, alegre e bem-humorada”, conta ela, que relatou anteriormente, ter feito dietas no passado e até uma cirurgia bariátrica na tentativa de emagrecer.

Para a cantora, que neste caminho de autoamor inclusive modelou, o mais importante é se manter saudável e aceitar a natureza do próprio corpo: “Vivo em uma eterna construção e desconstrução de mim mesma e esse processo acontece de maneira muito natural. A partir do momento que nos enxergamos com afeto, carinho e cuidado, muita coisa muda. O amor próprio é revolucionário e vem com o tempo. Não foi fácil e nem instantâneo ter essa perspectiva que tenho hoje, mas fui me percebendo, me nutrindo ao longo do processo e hoje sou mais forte”.

"Vivo em uma eterna construção e desconstrução de mim mesma e esse processo acontece de maneira muito natural" (Foto: Johnny Moraes)

“Vivo em uma eterna construção e desconstrução de mim mesma e esse processo acontece de maneira muito natural” (Foto: Johnny Moraes)

O que as pessoas precisam entender definitivamente sobre a gordofobia? “Que é mais um tipo de preconceito que ultrapassa os limites de respeito, nega acessos, estigmatiza e invalida a existência de pessoas gordas. Acredito que a gordofobia, assim como o racismo, lgbtfobia, entre outros tipos de discriminação, deve ser criminalizada. É importante frisar que ninguém tem o direito de ditar como deve ser a vida do outro, e isso é básico. Não faça com os outros aquilo que não gostaria que fizessem com você. Mais empatia e respeito”.