Lançando seu primeiro disco solo, Emanuelle Araújo posa em editorial exclusivo para o HT e fala sobre nova fase: “Fazer 40 anos foi uma libertação”


Além do disco “O Problema é a Velocidade”, a artista ainda estará em cartaz na novela “A Lei do Amor” e no longa “Os Reis das Manhãs”. Durante o papo, ela falou sobre sua carreira, maternidade, aborto e a crise política no Brasil. “Sou contra o golpe, contra a manipulação e absolutamente a favor da democracia. Aliás, um país sem cultura não é nada”

Emanuelle Araújo

Body dourado Nidas/ Pantalona jeans Lança Perfume/ Anéis Maxior Joias/ Brincos Tereza Xavier

Ela canta, dança, atua, é linda, é mãe e definitivamente não tem medo de se arriscar. De quem estamos falando? Emanuelle Araújo, claro! A atriz e cantora certamente não é daquelas mulheres que estão nos holofotes da fama apenas para cumprir o seu papel e ganhar um rico dinheirinho no final do mês. Profundamente apaixonada pelas artes, ela se encontrou no teatro amador da Bahia por volta de seus 10 anos e, de lá para cá, vem colecionando trabalhos expressivos por onde quer que passe. Não é à toa que, no auge de seus inacreditáveis recém-completados 40 anos, os trabalhos não param de surgir em seu precioso currículo. A mais recente novidade sobre Emanuelle é o lançamento do primeiro disco solo intitulado “O Problema é a Velocidade”, onde ela deixa o axé e a batucada um pouco mais adormecidos e passa a valorizar a poesia das canções em melodias rebuscadas. Sob a batuta do produtor Kassin, o álbum tem composições de amigos da cantora como Paulinho Moska, Arnaldo Antunes, Zeca Veloso, Celso Fonseca e Marcio Mello, com quem já trabalhou no badalado hit “Esnoba”, carro chefe da banda Moinho, na qual ela é vocalista e tem uma espécie de “casamento aberto” com o projeto que construiu há 12 anos ao lado de Toni Costa e Lan Lan.

Emanuelle Araújo

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Boa de papo, ela deixa escapulir vez ou outra o sotaque baiano durante a conversa, principalmente quando o assunto fica um pouco mais apimentado. Mas a graça dela está aí. Emanuelle é temperada e curte mesmo viver o agora. Não gosta de nada água e sal e muito menos de planejar demais o futuro. Prestes a voltar à telinha na pele de Yara, em “A Lei do Amor”, próxima novela das nove da Rede Globo, ela garantiu ser uma mulher sonhadora, bem diferente de sua personagem que, sendo matriarca de uma família grande e feliz, enfrenta os desafios da vida com muito pé no chão. Durante uma exclusiva sessão de fotos para o site HT, seguindo a linha glam rock anos 80, no lindo estúdio do fotógrafo Rodrigo Lopes, por sinal dono dos clicks do nosso editorial, styling do fera Milton Castanheira, produção de Caio Nietzsche e beleza de Vivi Gonzo, a artista se despiu de todo o pudor e soltou o verbo em uma conversa descontraída que você confere agora!

Sobre o novo disco, Emanuelle é só alegria. “Eu comecei a cantar com 15 anos e sempre tive uma visão muito coletiva da música. Eu sempre gostei dessa coisa de banda, talvez por ter sido criada no teatro, a ideia de grupo sempre me fez muito bem. Mas a vontade de fazer um trabalho solo sempre existiu. Sabia que ele chegaria no tempo dele, mas nunca foi uma prioridade. Até que finalmente chegou a hora. É um trabalho de intérprete de música popular brasileira, no qual fiz uma pesquisa de repertório com a maioria dos compositores que eu admiro. São 12 canções inéditas, entre leituras de música de Paulinho Moska, Celso Fonseca, Zeca Veloso, que é filho do meio de Caetano Veloso, Cesar Mendes, Arnaldo Antunes, tem música até de Paquito e Jerônimo, que são dois grandes compositores baianos, além de Marcio Mello, que é um grande amigo. É um disco que tem uma construção que vem dos meus afetos e de pessoas que gosto e admiro”, adiantou ela, que pretende mostrar um outro lado ainda pouco explorado por ela na música. “Nesse disco eu não tenho o menor comprometimento com a festa. É um álbum que tem músicas swingadas, porque que isso é nato em mim, mas tem um lado intimista muito forte. Eu diria que é um disco latino acima de tudo, onde busquei um comprometimento maior com palavra e a poesia dessas canções”, revelou.

Emanuelle Araújo

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Mas como indica o título do trabalho, ela não teve pressa de se lançar em um projeto solo desde que saiu da Banda Eva, em 2002. A partir da grande visibilidade que ganhou com o grupo de axé, ela se aventurou primeiro nos trabalhos coletivos do Moinho e da big band carioca Orquestra Imperial. Bandas que, por sinal, fazem o maior sucesso. “O título, na verdade, tem uma verdade incoerente com o CD: ele não teve problema com essa velocidade, pois eu não tive pressa. Tudo foi feito com muito cuidado, houve uma busca de repertório, de arranjos adequados, tudo feito em um tempo bem natural. Quando saí da Banda Eva, queria me reencontrar em um mix musical que realmente me desse liberdade, onde eu não ficasse restrita a um estilo. Eu sou do Carnaval, mas sou além do Carnaval”, adiantou ela, que descartou qualquer hipótese de abandonar de vez o Moinho. “A banda continua! A gente está junto há 12 anos, que é o tempo que tenho de Rio de Janeiro. A gente tem essa qualidade de ser um casamento aberto. Não tem o menor problema de termos outros trabalhos. A Lan Lan e Toni também são artista que, graças a Deus, fazem muitas outras coisas. O Moinho é como se fosse a nossa casa e a nossa família”, entregou.

E falando de Banda Eva, com apenas 22 anos a morena foi escalada para ocupar o lugar que pertencia até então a Ivete Sangalo. A responsabilidade era grande, já que Ivete até hoje é tida como uma das maiores cantoras do Brasil, mas Emanuelle tinha experiência e não se assustou com o posto, já que desde que virou debutante já arrastava multidões em cima de um trio elétrico baianos. “Se tivesse me assustado eu não tinha nem ido”, contou, aos risos. “Eu na verdade não pensei nessa responsabilidade. Na época eu estava trabalhando muito dentro da música e já cantava desde os meus 15 anos no trio. Não era uma novidade para mim. Claro que entrar em uma banda que estava sendo um estouro nacional e grande sucesso tinha um certo impacto, mas como eu já era artista há muito tempo pensava muito mais no ofício e no trabalho em si. Eu vou muito pelo viés da simplicidade. Eu nunca fico esperando o sucesso. Eu quero fazer o meu trabalho da melhor maneiro possível. Isso tirou um pouco desse peso” ponderou ela, que tem total admiração por Ivete. “Obviamente que eu tinha um respeito imenso pela Ivete que é uma artista que sempre gostei e amo. Foram três anos onde eu aprendi muita coisa. Foram muitos palcos e muitas apresentações”, recordou.

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A partir disso, Emanuelle começou a perceber que ela precisava sair da Bahia para o mundo. Não é à toa que ela decidiu então mudar-se de mala e cuia para a cidade do Rio de Janeiro, onde mora até hoje, no bairro da Gávea, com sua filha Bruna. Apesar de já se sentir uma carioca nata, ela garantiu que suas raízes soteropolitanas continuam aterradíssimas no nordeste. “Não dá para desistir da sua terra natal. Eu sou da Bahia, é minha terra, meu sangue e minha alma. Hoje, o Rio de Janeiro é a minha casa, não posso negar. Minha estrutura é aqui, mas Salvador é minha terra. Meus pais e minha família inteira moram lá. A Bahia está na minha essência e anda comigo por onde quer que eu vá”, garantiu ela, que mesmo tendo estourado como cantora no Carnaval, não vê sua carreira vinculada a apenas um gênero musical. “Olha, eu sou uma pessoa de origem carnavalesca, tenho sangue carnavalesco, mas não me sinto mais presa a isso. Eu sempre busquei uma pluralidade na minha carreira”, contou.

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Emanuelle é tão pural que além dos expressivos projetos com a música ela ainda está prestes a emplacar diversos trabalhos como atriz. No ar no seriado do Multishow “E ai… Comeu”, com Bruno Mazzeo, ela mostra que está à vontade com a nova linguagem de série e mais ainda por estar de frente com uma personagem que representa o toque feminino de uma produção que permeia profundamente o universo dos homens. Na trama ela vive Leila, uma mulher casada há 15 anos com o mesmo marido, mas que não deixou a rotina acabar com sua sensualidade. “Eu fiquei super feliz, porque quando eu li os 13 episódios, eu tive uma noção bem bacana do que seria essa personagem que é a Leila. Ela tem uma representatividade do feminino muito grande no meio desses homens todos. Essa série hoje tem uma visão que fala do comportamento masculino, mas que tem um respeito muito grande com o posicionamento feminino. A minha personagem representa uma gama de mulheres que apesar da luta do dia a dia se impõe em sua relação, mas sem deixar de lado a sua feminilidade e o seu espaço. Questões muito debatidas atualmente. É muito legal falar sobre isso neste momento”, ressaltou ela.

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Ainda assim, apesar da luta pela libertação da mulher ter começado no final do século XIX, as novas gerações vêm se mostrando cada vez mais antenas e engajadas nessa questão. Tanto que em qualquer roda de amigas é fácil perceber que o tema está mais vivo do que nunca. Como não poderia ser diferente, Emanuelle também apoia a causa. “Eu acho que a gente precisa brifar as questões do feminino. A mulher viveu anos de uma exclusão dos seus direitos. Eu sou a favor da gente batalhar, sim, pelos nossos espaços, mas não gosto dos exageros e dos desequilíbrios. Pra mim, a grande forma de você pensar no feminino é pensar no equilíbrio e não nos superlativos”, disse ela, que acredita que a mulher sempre foi vista apenas como um objeto na sociedade. “O machismo é a própria sexualização da mulher. Elas são colocadas nesse lugar há seculos e lutamos contra isso. No entanto, somos todas sexuais e sensuais, sim, mas não somos só isso. Não somos um objeto. Isso é algo que precisamos ir de encontro, porque também podemos nos dar o direto de não ser tudo isso. Essa prisão de você ter que ser alguma coisa é muito cafona”, apontou.

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E ela leva isso muito à sério. Emanuelle é livre, mas tão livre, que acaba de completar quatro décadas de vida totalmente isenta de grilos na cabeça. Apesar de ter sido mãe ainda jovem, aos 17 anos, o que a exigiu muita maturidade e responsabilidades, a atriz garantiu que a idade cronológica nunca foi um problema para ela. “Fazer 40 anos foi uma libertação. Porque eu já tenho essa idade desde que eu era muito nova. Estou me sentindo uma adolescente de novo”, brincou. “Durante muito tempo eu passei a vida trabalhando arduamente e com uma filha pequena para criar. Então talvez eu não tenha me assustado. Estou chegando nessa fase, olhando para trás e vendo que eu fiz a coisa certa: minha filha está criada e minha vida profissional segue de um jeito que eu gostaria. Isso tem me dado muita leveza na vida”, apontou.

E sabe o ditado: “Deus escreve certos por linhas tortas”? Ele se encaixa perfeitamente na trajetória da baiana. Ainda jovem ela engravidou precocemente e decidiu bancar essa história de amor que tem com a filha. “Ser mãe jovem não é uma coisa fácil, mas no meu caso foi uma benção. A maturidade que eu alcancei através dessa situação me fez ter força para todas as outras coisas na minha vida, inclusive profissionalmente. Eu só tenho a agradecer o fato. Em casa a gente tem uma relação muito cúmplice. Somos grandes parceiras de vida. Acho que essa foi a grande forma que eu encontrei de criar minha filha: com um diálogo aberto”, destacou ela, que ainda se posicionou contra o aborto, apesar de entender a urgência de sua legalização no Brasil. “Em todos os lugares que eu vou e essa questão é levantada eu digo para que usem os contraceptivos. Essa é a grande sacada. Não acho que o aborto seja a melhor alternativa. Espiritualmente eu não sou a favor, mas socialmente eu acredito que seja uma saída para quem busca esse tipo de procedimento. Existem muitas mulheres que fazem e morrem em clínicas clandestinas. Isso é uma questão social que a gente precisa observar e debater de forma muito clara e sem preconceitos”, apontou ela.

Emanuelle Araújo

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Muito ligada à sua fé, mesmo com a correria, a atriz e cantora sempre consegue um tempinho para dar uma  respirada e entrar em contato com a sua espiritualidade. Algo aliás intrínseco à personalidade dela. “A minha relação com a fé é absoluta. Eu acredito em muitas coisas, mas principalmente de que não é só isso aqui. Sou da filosofia de que exitem outros mundos, outras realidades e que no fundo a gente tá trabalhando para que essas energias se equilibrem. Tenho meus guias, mas a minha espiritualidade é plural. Eu pesquiso muito sobre as religiões, mas acredito muito em Deus e na energia das coisas”, disse.

Agora, voltando a falar sobre os trabalhos da artista, apesar de estarmos em setembro, o ano de 2016 está só começando para ela. Já neste mês a morena volta às telinhas da Globo com a próxima novelas das nove, “A Lei do Amor”, de Maria Adelaide Amaral. “Minha personagem é a Yara, uma mulher forte, mãezona e trabalhadora. Ela vive em uma família tranquila e feliz ao lado do marido Mizael (Tuca Andrada) e dos três filhos. As coisas ficam mais tensas quando sua caçula, que nasceu com problemas congênitos, passa a precisar de mais atenção. Mas a alegria é o lema deles. Yara é uma mulher muito pé no chão, aterrada e justa”, adiantou ela. Na trama dirigida por Denise Saraceni, sua personagem trabalha na loja de artes populares de Helo (Claudia Abreu), protagonista da história. Mas calma que além do CD, da série e da novela, ainda tem mais novidades sobre Emanuelle, que também volta aos cinemas no longa “Os Reis das Manhãs”, de Daniel Rezende. Na película, ela dará vida a ninguém menos que a cantora e rainha do rebolado Gretchen. “O filme conta a história do Arlindo Barreto, ator que interpretou por anos o famosos palhaço Bozo. Foi uma participação que fiz com muito carinho, já que sempre fui muito fã da Gretchen. Quando eu era criança, eu ficava em casa sem camisa dançando o ‘Melô do Piripiri’. Queria fazer algo que eu me orgulhasse e fosse muito honesto”, adiantou ela. No elenco, Vladimir Brichta encara o protagonista do longa ao lado de Leandra Leal, Pedro Bial, Ana Lúcia Torre e a nossa fotografada.

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Depois de 12 anos de Rio de Janeiro, Emanuelle  Araújo já é considerada uma carioca de carteirinha, claro. Tanto que não pode deixar de prestigiar alguns jogos das Olimpíadas Rio 2016. Entre uma partida e outra, além da superação dos atletas, ela destacou a interação multicultural que aconteceu no nosso estado nós últimos dois meses. “As Olimpíadas tem por natureza o espirito do coletivo. A gente estava com tanto medo diante do nosso momento político, mas acho que energia do nosso povo foi mais forte que tudo isso. Eu fui a poucos jogos, porque estou muito envolvida nesses trabalhos, mas fiquei extremamente emocionada. Fui ao encerramento onde a gente vê todas aquelas bandeiras misturadas. Foi incrível ter a consciência de que apesar de todas as coisas difíceis que acontecem pelo mundo, a gente percebe que a união do coletivo pode ser mais forte que qualquer diferença. E isso venceu. O que fez o Rio de Janeiro brilhar foi a energia das pessoas, a vibe de alegria, receptividade e gentileza que as pessoas tiveram. E acho que a gente deveria aproveitar isso que aconteceu nesse curto período e levar para o resto ano inteiro”, comemorou ela, que ainda falou sobre o legado esportivo que ficou na Cidade Maravilhosa. “Eu espero que tudo o que a gente conseguiu, tanto de estrutura quanto de mobilidade se perpetue. Correr atras disso para sediar esse evento foi válido, no entanto é preciso que exista esse cuidado sempre com a cidade”, disse.

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Impactada com a crise política do nosso país, a artista acredita que é preciso uma reforma tanto política quanto de pensamento da população para com nossos representantes. “Sou contra o golpe, contra a manipulação e absolutamente a favor da democracia. Não é o imposto que eu pago que é a grande questão, porque nós temos uma péssima administração no pais como um todo. Nós vivemos um problema gravíssimo de administração pública. É um assunto sério e que a gente precisa tratar com a maior importância e profundidade. O Brasil hoje precisa urgentemente de uma reforma política, de educação e saúde”, apontou ela, que, como a maioria da classe artística defende a cultura com unhas e dentes. “Aliás, um país sem cultura não é nada. Cultura não é só o que os artistas representam. Cultura é falar de um povo e de sua etnia. Ouvir que a cultura estava sendo defendida apenas por artistas foi uma grande ignorância. Ela é a identidade de um povo”, completou. Falou e disse. E a gente ficou mais fã ainda.

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Créditos:
Foto: Rodrigo Lopes
Beleza: Vivi Gonzo
Styling: Milton Castanheira
Produção: Caio Nietzsche

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