Foi com uma homenagem a Nelson Mandela que Milton Nascimento abriu o mega show, no fim de semana, na Arena Vitória, na capital do Espírito Santo, com 4 mil pessoas na plateia. “Por um bom tempo não deixarei de cantar esta música que fiz em homenagem ao Nelson e Winnie Mandela”, disse, soltando a voz em Lágrima do Sul. A emoção do cantor e compositor foi tão grande – assim como a do público – que, no pós-show, ele incensou a cidade: “Depois de 10 anos, voltei a Vitória e tive a sorte de ser recebido por um dos melhores públicos dessa minha turnê, batizada ‘Uma Travessia’. Foi uma noite mágica ao entrar no palco e ver aquela multidão na arena! A cidade e as pessoas me receberam com um carinho fora do normal. Agora, tem o seguinte: eu gostei tanto desse concerto que, espero, sinceramente, não ter de esperar mais 10 anos para voltar!”. Em tempo: o show Uma Travessia, comemorativo dos 50 anos de carreira de Milton Nascimento, já passou pela Europa, Estados Unidos e diversas cidades do Brasil, levando muitos às lágrimas, inclusive o próprio organizador do evento em Vitória, Patrick Ribeiro.
Amiga do nosso site, Adriana Jenner nos conta todos os detalhes de ver o Clube da Esquina se formando. Não era mais em Minas Gerais, em meados dos anos 70, está certo, mas foi em Vitória. Por um breve momento passou a ser no Ginásio Álvares Cabral/Arena Vitória, no final de 2013. Após Milton cantar Credo, ele chamou seu parceiro de vida, amigo, companheiro de ofício, Wagner Tiso. Acompanhado pelo pianista, com o coro da plateia, Bituca cantou Nos Bailes da Vida, Vera Cruz e Caso de Amor. Wagner Tiso encantou com um solo Eu sei que vou te amar, e, em seguida, mandou ver em Viola Violar, com Milton de volta ao palco.
A primeira participação de Lô Borges foi com a música e tema do movimento “Clube da Esquina 2”. Depois, ele e Milton lembraram Para Lennon e McCartney. Sozinho, Lô cantou Trem Azul e Um Girassol da Cor do Seu Cabelo.
Na sequência, Milton Nascimento veio com O Sol, com instrumental e melodia especiais, deixando a canção mais espetacular. Também no set list da noite entrou Encontros e Despedidas. Em seguida, Milton, que jamais deixa de homenagear sua mãe, com a canção Lília, disse: “Aonde eu possa andar, por países, lugares nunca vou achar coisa mais linda do que ela”. Prosseguindo o show, Milton cantou Fé Cega Faca Amolada, o medley de Raça e Maria Maria.
Milton, então, saiu do palco, deixando o gosto de quero mais. O coro de “Bis” invadiu o ginásio. Ele retornou. O público teve a certeza que o show teria um grand finale. Avistou a amiga de longa data Cissa Guimarães, que chegou após a apresentação no teatro na cidade, e disse: “ Cissa, estou te vendo somente agora”. E cantou Coração de Estudante e Travessia, com uma versão emocionante.
Sentado em uma cadeira no meio do palco, ele pediu ao público que o acompanhasse em Canção da América. Prontamente foi atendido: quatro mil pessoas, em uma só voz, uma só emoção, fizeram um show a parte. Agora para Milton Nascimento, que havia presenteado os capixabas com sua voz.
Após levantar da cadeira, ele foi até a ponta do palco, abaixou com esforço e ajuda da sua produção e abraçou a atriz e amiga Cissa Guimarães, que estava na fila do gargarejo Foi um abraço longo e comovente entre os dois.
Para encerrar a noite, com um show de duras horas e quinze minutos, Milton cantou Nada Será Como Antes.
Os atores Adriana Nunes, Adriano Siri, e Welder Rodrigues de “Os Melhores do Mundo” agradeceram a Patrick Ribeiro por ter proporcionado tal noite. “Me emocionei vendo as pessoas se emocionarem. Cada música, um significado. Eu não me imaginava um dia fazer um show com estes três feras juntos”, afirmou Patrick Ribeiro.
“Obrigado, Vitória, foi lindo demais”, postou Milton Nascimento em seu Instagram.
Fotos: Josy Tatagiba/Patrick Ribeiro Produções
Milton Nascimento, que completou 50 anos de carreira, nos deu uma bela entrevista dias antes do show de Vitória e você confere abaixo:
HT: Nesses 50 anos de carreira, qual foi a maior dificuldade e a maior glória? Se fosse possível voltar no tempo, reconstruiria de outra forma?
MN: Como todo artista, a parte mais difícil da carreira é o começo. Depois é necessário somente esforço, sorte e disciplina para se segurar na profissão. É assim em todas as áreas, não muda nada. Agora, eu tive tanta sorte que seria uma ingratidão dizer que eu gostaria de mudar ou reconstruir alguma parte da minha vida. Sou muito feliz do jeito que sou e com o que conquistei.
HT: Artisticamente, você acha que seu dever foi cumprido ou pretende fazer ainda mais pela música brasileira?
MN: O artista de verdade é sempre um inquieto em suas buscas. E o simples fato de estar vivo será sempre motivo para uma nova busca. Assim como todas as pessoas, sempre quero mais.
HT: Sua casa se tornou um ponto de encontro para os amigos. Você tem medo da solidão?
MN: Me diga alguém que não tenha medo da solidão? Quem disser que não tem certamente estará mentindo.
HT: Entre os amigos que frequentam sua casa, estão músicos consagrados, mas também cantores da nova geração, como a Maria Gadú e o Dani Black. Como é essa troca de experiências e conhecimentos com a ‘nova leva’ da música? Você também aprende com eles?
MN: Claro que sim, inclusive, eu acho que aprendo mais com eles do que eles comigo. São meninos fantásticos, todos eles músicos maravilhosos que eu gosto muito de estar.
HT: Além da Maria e o Dani, que, apesar de sejam cantores novos, já possuem reconhecimento na mídia, você também acompanha o trabalho de músicos independentes? Como avalia a prática de disponibilizar o CD para download, como muitos deles fazem?
MN: Eu conheci Maria Gadú e Dani Black quando eram praticamente independentes. Gadu, por exemplo, ainda não tinha lançado nem disco ainda. Na verdade, todo artista começa independente, e eu estou sempre conhecendo gente nova, novos artistas. E esse lance de música pela internet já é uma realidade, não tem como lutar contra, pelo contrário.
HT: Enquanto as lojas de CDs estão cada vez mais escassas, o vinil virou uma febre entre os jovens. Para você, o que levou a juventude a resgatar esse material?
MN: Quem resgatou os vinis não foi a juventude, foi a necessidade do mercado. Empresários enxergaram nisso uma oportunidade e começaram a fazer novos lançamentos.
HT: Você disse em uma entrevista que, depois do álbum ‘Clube da Esquina’, a música popular brasileira nunca mais foi a mesma. O que você espera para o futuro da MPB?
MN: O futuro da MPB e da música mundial é agora, hoje. E ele já está aí, esses jovens, como Criolo, Mano Brown, Gadú, Dani Black, Esperanza Spalding e Hamilton de Holanda já são o nosso futuro.
HT: O que te faz um homem feliz atualmente?
MN: Viajar, fazer shows, conhecer e reencontrar amigos.
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