* Por Junior de Paula
Muito tem se falado recentemente – para o bem e para o mal – da banda sueca The Knife. A turma, que atualmente está em turnê pelos Estados Unidos, fez uma apresentação bastante elogiada nas redes sociais nos dois fins de semana do Coachella, festival de música mais fotografado do mundo contemporâneo, que rola no meio do deserto da Califórnia. De lá, o The Knife embarcou para Nova York, onde fez dois shows com ingressos esgotados no supercool Terminal 5, e a gente foi conferir o segundo deles, no dia 1º de maio.
Mas antes de falar do que vimos, vamos apresentar melhor a banda? The Knife é um duo formado pelos irmãos Karin e Olof Dreijer, cheio de inspirações e referências, como o visual psicodélico do Glam Rock, os elementos eletrônicos, que marcam fortíssima presença na sonoridade deles, alguns elementos percussivos, e a voz e forte presença cênica da vocalista, Karin Dreijer. As batidas contêm ainda fortes traços da música eletrônica dos anos 1980, nas quais se ouvem sintetizadores, guitarras distorcidas e outros instrumentos pouco usuais. Pense numa mistura de David Bowie, Gaby Amarantos, Kraftwerk e Daft Punk que você vai começar a entender do que se trata o som do The Knife.
Marcado para 21h, a apresentação começou com a participação de uma espécie de animador de plateia, que, com ele mesmo disse, estava ali para esquentar a audiência. E ele não poupou esforços. Gritando palavras de ordem, ele fez todo mundo se abraçar, se tocar e sorrir uns para os outros, enquanto recitava poemas sexuais, comandava coreografias e outras loucurinhas que não prestei muita atenção, já que estava no bar tentando comprar uma cerveja e fugir daquela maluquice coletiva.
Vinte minutos depois, as luzes se apagaram, e o palco se encheu, já que, além dos dos integrantes-fundadores do The Knife, a trupe é formada por cerca de 10 outras pessoas, entre músicos, bailarinos e artistas performáticos que transformam o show em uma grande encenação. As escadas instaladas no palco viram quase em uma alegoria viva pensada por Paulo Barros, com os dançarinos – todos vestidos de um macacão de lurex azul – dançando, cantando e estimulando todo mundo a cantar e a dançar junto.
Apesar de Karin liderar com brilho a gangue no palco, ao fim de 90 minutos de apresentação, com direito a um passeio pelos quatro discos lançados pelo duo, com músicas como Wrap Your Arms Around Me, One Hit, Full fo Fire, Stay Out Here e Silent Shout, entre outras, fica a sensação de que sobra performance e falta musicalidade. As músicas, que até tentam criar atmosferas, funcionam mais pelo aspecto estético e visual, capitalizado pelas loucuras que rolam no palco, do que por si só. A plateia, que incluía Bjork e Michael Stipe, acredito, não concorda muito comigo, já que não se fez de rogada e entrou de corpo e alma na catarse proposta pela turma. Foi bonito de ver, mas longe de ser memorável ou merecer todo o barulho em torno do The Knife.
* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura.
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