*Por João Ker
HT vem batendo nessa tecla já há algum tempo e evidenciando que moda e música estão estreitando seus laços de maneira poderosíssima e lucrativa para ambas as partes. Aqui, você viu como estrelas do naipe de Rihanna e Miley Cyrus fizeram manchetes ao redor do mundo com suas aparições na New York Fashion Week. Agora, com a temporada de campanhas publicitárias oficialmente aberta parece que todas aquelas personalidades nas filas A eram apenas um aperitivo do que estava por vir nas páginas das revistas. Com Kim Kardashian e Kanye West anunciados como os novos rostos da Balmain na manhã desta segunda-feira (22/12), tal parceria se consolida de vez para 2015 e vem encabeçada pelo grande movimento intercultural do hip hop.
Não, não é de hoje que músicos e grifes colaboram entre si para projetos artísticos. Entretanto, bastava abrir uma revista nos últimos anos para ver a supremacia das modelos que reinavam em todas as campanhas editoriais. Pouco a pouco, a obsessão com a fama, a velocidade da informação dos tablóides e a abertura de um certo nicho comercial para as grandes estrelas de Hollywood fez com que rostos famosos nos cinemas migrassem para as páginas das publicações e fossem impressos ao lado de logos das maiores maisons. Talvez o melhor exemplo disso seja a Miu Miu, que sempre apostou em nomes como Katie Holmes, Drew Barrymore, Lindsay Lohan e Chloé Sevigny para serem rostos e corpos da marca. Hoje, atores e atrizes disputam fervorosamente esse posto com os reis e rainhas da música.
Vide Rihanna, talvez o exemplo mais bem-sucedido nessa categoria. Em poucos anos, ela foi o rosto de campanhas para Gucci, Emporio Armani, Balmain (ainda na última temporada), além de ter assinado uma coleção com a River Island e ter sido nomeada na última semana como diretora criativa da linha feminina da Puma. Miley Cyrus é outra que chegou a ser recusada por Juergen Teller, fotógrafo habitual de Marc Jacobs, quando anunciada como a garota-propaganda da marca. Até a novata Azealia Banks já conseguiu um espaço para chamar de seu com a linha de camisetas “T” lançada em 2012 por Alexander Wang, na qual o vídeo promocional era embalado pela própria fazendo o rap da música “Van Vogue”. Agora, para o verão 2015, Nicki Minaj perde sua Anaconda na floresta para tomar um banho de luxo e aparecer cheia de glamour na nova campanha de Roberto Cavalli, em fotos conceituais clicadas por Francesco Carrozzini, o mesmo responsável por seu recente editorial high-fashion na Vogue Italia.
Apesar de ter seus grandes líderes vindos do hip hop, o movimento se espalha por todos os gêneros da música, dependendo bastante da identidade da marca e de qual público ela pretende atingir. Semana passada, Giorgio Armani anunciou o produtor britânico Calvin Harris (ex de Rita Ora, que também já teve seu momento Cavalli e DKNY) como o astro não apenas de sua campanha masculina, mas também da linha de relógios e acessórios: “Ele é um jovem verdadeiramente cosmopolita e dinâmico, capaz de atrair as massas com sua música e sua energia. Ele não é um modelo natural, e isso cria uma campanha mais sincera e engajada com o público”, disse o estilista em um comunicado oficial. Saindo um pouco do hip hop, ainda é possível usar como exemplo o recente posicionamento da Versace, que mudou de Kate Moss para Lady Gaga e, recentemente, voltou às raízes com Madonna.
Claro, há também campanhas menos “high fashion” e mais voltadas para a grande massa consumidora, o que envolve nomes como a Forever 21 e a H&M se aproveitando do diálogo que grandes estrelas do pop têm com sua fan base para impulsionar as vendas, vide as recentes ações com gente como Beyoncé, Lady Gaga, Lana Del Rey e Sky Ferreira. Rede de fast fashion se aproveitando do sucesso comercial alheio já existe há anos e até a C&A já entrou e saiu dessa onda, a exemplo do que foram as parcerias com a própria Queen B., Nicole Scherzinger (ex-Pussycat Doll), Fergie e Christina Aguilera. Mas isso já é outra história.
Hoje, Kim Kardashian “quebrou a internet” pela enésima vez, divulgando sua campanha para a Balmain, ao lado do maridão Kanye West. Juntos, eles anunciam a coleção masculina da marca, em uma ação batizada “O amor Balmain”. Pois é, não bastasse o casting poderoso da campanha feminina que fez a alegria de nerds e “pessoas comuns” com gente como Adriana Lima, Joan Smalls e Candice Swanepoel jogando videogame e comendo hambúrguer, no que eles chamaram de “Exército Balmain”, Mario Sorrenti também conseguiu elevar mais uma vez o nível de poder da marca.
“Kimye”, como é chamado o casal, une de forma mais do que exacerbada as duas características citadas mais acima, que vem atraindo a atenção do público e da mídia: o hip hop e a cultura de veneração das celebridades que, no caso de Kim, não passa disso. Ambos vêm despontando como “it couple” desde a sua primeira aparição juntos, ocupando um posto que já foi de Victoria e David Beckham. “Eu quis capturar um momento de amor para essa campanha. Kim e Kanye são ícones de estilo e amigos. É uma honra tê-los nessa campanha. Juntos, eles representam amor, beleza e diversidade – eles são a nova modernidade. Isso é mais do que uma campanha, é algo que transcende as roupas – é uma celebração do amor e da amizade. Essa é uma nova declaração para a Balmain”, disse o diretor criativo da marca, Olivier Rousteing.
Tirando toda essa seda resgada, é óbvio que há um interesse comercial dos dois lados em todas as campanhas citadas acima, algo muito além do cachê milionário que os artistas recebem. A maioria dos exemplos citados acaba ganhando carteirinha de fashionista, o que na indústria cultural significa “regalias” e “prestígio”, além da chance de, simultaneamente, divulgarem tanto suas músicas quanto a própria marca em futuras capas de revistas que certamente virão. Isso sem falar no apoio a figurinos de turnês e nos vídeos que acabam virando uma espécie de videoclipe perfeito para a fome dos fãs e aquele hype em torno de algum lançamento. Em suma, unir música e moda é uma iniciativa onde todos saem ganhando, inclusive o próprio público, que tem a chance de conhecer mais a fundo o mundo criativo de seu ídolo ou entender melhor a que público tal grife se direciona.
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