Katy Perry encerra o Rock In Rio 2015 e, com seu espetáculo megaproduzido, prova que nem só de voz é feita uma popstar


Cantora passeou por hits de seus três álbuns, chamou fã ao palco, ganhou tapinha na bunda, esbanjou simpatia e compensou a falta de alcance vocal com cenografia, coreografia, figurino e interação

Há certos artifícios e simbolismos que permeiam a música pop e seus maiores representantes. Na madrugada de hoje, enquanto encerrava a edição 2015 do Rock In Rio, Katy Perry fez uso de grande partes desses símbolos, em um show que mostrou a força de uma popstar com três discos repletos de hits na manga e um orçamento milionário. Da cenografia megaproduzida aos figurinos extravagantes e à miscelânea de cores explosivas, a cantora provou seu apelo máximo ao público teen e a razão pela qual seu pop chiclete lhe rende tanto.

Se há algo que não se pode esperar de um show de Katy Perry é a voz e, para tirar logo o defeito do caminho, é bom dizer: a californiana não tem fôlego ou alcance vocal, e isso fica claro desde as primeiras músicas que tocou no palco, sempre cortando os versos no meio para respirar, ou então nem se dando ao trabalho de tentar executá-los. Enquanto passeava por #1’s como “Roar”, “Part of me” e “ET”, Katy não conseguia manter ou ao menos alcançar o nível de seus vocais nas versões gravadas e, para os fãs que se descabelavam no gargarejo do palco, isso não fazia a menor diferença.

 

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Mas nem só de voz vive uma popstar. E, no que lhe falta nesse quesito, Katy faz questão de que sobre no resto: é ela quem assina suas próprias composições; os figurinos são extravagantes, e vão desde um traje de gatinho a uma gladiadora neon intergalática e uma Cleópatra fashionista; seus dançarinos também não deixam por menos, interagindo no palco e criando um verdadeiro batalhão em volta da artista, que também esbanja condicionamento físico enquanto pula corda, faz twerk e coreografias; o cuidado se expande até para os vídeos de backdrop, que se alteram entre o humor trash como no caso dos gatinhos e o psicodélico, como no segmento espacial.

Katy faz até uma homenagem à Rainha do Pop, Madonna, com um trecho de “Vogue”, enquanto desfila pelo palco com figurinos ousados. E, talvez no melhor de todos os segmentos, ela dá vazão à sua sensualidade – uma vez que o público majoritariamente teen a impede de ousar muito tanto em letras quanto em figurinos –  em uma versão cabaré de “I kissed a girl”, com direito a saxofones e coreografia lânguida.

Um dos pontos mais fortes de Katy Perry é sua própria persona, algo que ela mesma reconhece e que deixou bem claro durante a apresentação no Super Bowl. Bem humorada, a cantora não deixou de conversar com o público ao longo da noite e, no Rock In Rio, chegou a convidar uma fã para subir ao palco: a extrovertida, empolgada e espevitada Raiane, que na voz de sua estrela se transformou em “Raiaiaia”.

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Katy e “Raiaiaia” fizeram quase um show de stand-up comedy para o público do festival, enquanto a carioca ensinava palavras em português para a californiana, tirava selfies e tentava lhe dar um beijo na boca, enquanto não parava de abraçar a artista. Katy, esbanjando simpatia e jogo de cintura, lidava com a menina de forma carinhosa e atenciosa, mas sem deixar de gongar o ataque, respondendo na hora da tentativa de beijo na boca, com direito a tapa na bunda: “Opa! Você não foi minha primeira… E nem será a última”. Olha só:

A conexão da norte-americana com o Brasil é forte e data de 2011, sua primeira vez no palco do Rock In Rio. Na época, o então marido de Katy, Russell Brand, havia acabado de terminar seu casamento via SMS poucas horas antes de ela começar o show em São Paulo, alguns dias antes do festival. Reza a lenda contada pela própria artista que o carinho do público brasileiro lhe ajudou a superar o término e encontrar forças para seguir em frente. “Essa música só foi possível, principalmente, por causa dos meus fãs brasileiros. O carinho que eu recebi aqui era o que eu tinha em mente, enquanto escrevia a primeira canção após o meu divórcio”, explicou a cantora antes de “By the grace of God”. O segmento continuou com a versão mais acústica e deprimente que destoou do resto da noite: uma sequência que incluiu ainda “Think of you” e “The one that got away” com a artista no violão.

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O show terminou com uma sequência de suas músicas mais populares e reconhecidas pelo público: “Teenage dream”, “California Girls” e “Firework”, de seu segundo álbum. À medida que o eclipse total da superlua se distanciava, o céu era tomado pelos fogos de artifício de Katy Perry, que encerrou com chave de glitter e neon os 30 anos do Rock In Rio, provando que o festival é cada dia mais plural, menos exigente e mais comercial como nunca. E não há nada de errado nisso. Até 2017!