* Por Carlos Lima Costa
A cantora Karol Conká relembrou sua turbulenta passagem pelo Big Brother Brasil 21 durante o bate papo No Bunker com Tico Santa Cruz, comandado pelo vocalista dos Detonautas, no aplicativo Clubhouse, em uma espécie de mesa virtual com a participação de alguns convidados e com perguntas também dos seguidores. “Agora, as minhas rotinas estão mais tranquilas, estou mais serena, focada na minha recuperação do choque, que eu também fiquei triste e decepcionada comigo mesma. Então, eu precisei procurar a ajuda de profissionais da área de saúde mental para entender o que aconteceu e até mesmo buscar curar feridas que eu não sabia nem que existiam. Hoje, me sinto mais segura para olhar para os meus monstros e muito mais orgulhosa de ter encontrado o caminho de reconhecer quais são as minhas falhas e também a disposição de encontrar passos mais leves. Também mudei hábitos e formas de levar minha vida. Isso tem me ajudado na concentração até porque tenho problema com ansiedade, como a maioria, e a pandemia colaborou muito para o crescimento dela e para a falta de equilíbrio até das minhas emoções e sentimentos”, pontuou a rapper em longa reflexão.
E prosseguiu: “Agora, estou conseguindo focar muito no meu trabalho. Tenho conseguido entender melhor quais são os caminhos que eu quero tomar e como desejo expor a minha arte, que no momento é o meu novo álbum produzido pelo RDD (Rafa Dias)”, explicou.
Karol assegurou que não tinha problema em falar do BBB. E respondeu negativamente ao ser indagada se a edição do programa teve algum peso em sua história dentro da casa mais vigiada do Brasil. “Sou agitada, acostumada a estar no palco, a viajar. Quando me convidaram, estava há meses confinada dentro do meu estúdio, na minha casa, sem sair, levando a sério a quarentena. Nunca tinha me imaginado no Big Brother. Mas pensei que seria legal viver essa aventura, enxerguei o convite como um presente. Consultei pessoas que trabalham comigo e somente meu irmão achou que eu não deveria ir, porque ele sabe que gosto das coisas todas no lugar. Mas nunca passou pela minha cabeça que ia acontecer o que aconteceu. Se fosse uma realidade constante, não teria nem entrado. Nunca imaginei que eu ia ter um surto, um distúrbio até de personalidade. Nada foi combinado. Não existe essa de entrar e fazer a vilã para dar audiência. Não faria isso por dinheiro nenhum.”, afirmou.
“Quando saí e assisti, vi o quanto perturbada eu estava, montada na soberba. O fato de já ser figura pública, as pessoas esperavam que eu fosse ser um exemplo. Não posso dizer que a edição me ferrou, estaria sendo hipócrita, porque tenho total noção do que fiz. E nem que a edição quisesse me ajudar, conseguiria. Essa é a verdade, porque tem pay per view, as pessoas acompanharam”, reflete.
E lembrou sua intenção ao aceitar ingressar na casa. “Queria expandir a minha arte, aparecer mais, mostrar minha música, levar minha mensagem, mas me desequilibrei emocionalmente e hoje eu entendo. Já me perdoei, mas demorou, porque foi difícil me enxergar naquela cena, mais difícil ainda expor a minha dor e fragilidade no documentário (A Vida Depois do Tombo, da Globoplay), ver pessoas me chamando de psicopata. Especialistas da área de saúde mental ganhando seguidores e likes com meu nome e dando diagnóstico sem nem me consultar pessoalmente foi de extrema desonestidade. Passou um pouco dos limites. Racistas também aproveitaram esse momento para usar de palanque e vomitar o racismo deles”, frisou.
E acrescenta: Por mais que tenha sofrido com o que causei, como todo cancelamento que rolou, me sinto liberta, livre e isso só é possível por causa da verdade. Eu a tenho. Não é um grupo na internet falando o que eu fiz que vai dizer qual é a minha verdade. E não é em um reality, em momento de fragilidade e sob pressão que vai dar para me conhecer”, ponderou.
Ao ser indagada sobre não ficar sendo identificada como uma ex BBB, Karol disse que não tem problemas com relação a isso. “Tenho muito orgulho da minha história, de ter entrado em um reality e ter me exposto dessa forma. Infelizmente talvez eu seja sempre lembrada porque entrei para a história do reality como uma vilã. Talvez acabem lembrando sempre disso, mas não de maneira tão pesada quanto foi, porque muitas pessoas também se reconheceram nos meus erros, só não tiveram a coragem de admitir”, crê.
E falou sobre a política do cancelamento, o quanto ela a tem estimulado a se reestruturar e crescer nesse momento. “Igual a todo mundo que assistia, fiquei com a sensação de que joguei minha carreira no lixo. E percebi que isso falava muito mais sobre o medo que nós carregamos do desastre, da perda ou da derrota do que sobre a força que a gente tem de entender o porque que aquilo acontece e transforma. Cheguei na psicóloga atrás de respostas. Fui percebendo que ao longo da minha passagem no reality era como se eu tivesse com um espírito adolescente totalmente com medo e ao mesmo tempo com uma rebeldia fora do normal. Percebi o impacto que isso pode trazer não só para mim, mas para muitas outras pessoas que trabalham nessa área, porque fica aquele medo da superexposição, olha o que aconteceu com a Karol, como ela vai reverter essa situação. Várias pessoas acharam que eu ia gastar milhões para ter um gerenciamento de crise. Não estava me sentindo confortável com o que eu causei e eu precisava passar a verdade, então, de nada adiantaria eu contratar alguém, aliás, nem sabia que existia gerenciamento de crise, soube quando saí da casa, porque inúmeras pessoas me mandaram propostas e eu as recusei porque não fazia sentido nenhum naquele momento chegar com coisa tão mecânica para arrumar a imagem. Preferi ficar dois meses afastada das redes sociais, me reorganizar”, disse.
E lembrou que ainda teve que participar da final do BBB. “Tive que mudar a música que eu ia cantar, porque provavelmente seria Tombei, mas acabei ficando um pouco enjoada de tanto que ela tocou e de tanto que eu me tombei. Saí tão tombada que seria mais um meme, então, lancei a música Dilúvio que era a minha verdade, o que eu estava sentindo e o impacto que tudo isso causou na minha carreira: financeiro, psicológico, moral, no mercado. Mas a minha música, a minha arte, ela estava intacta. Então, foquei na minha recuperação e em parar de ficar tão na defensiva e de sentir tanto medo das pessoas me olharem. Agora já não tem mais o que fazer. A minha realidade é essa, estou me reerguendo sim e isso só está sendo possível, porque estou carregando essa positividade. Se tivesse montada numa soberba ou fosse de fato uma psicopata como muitos me chamaram, não teria sentido remorso e teria até aproveitado convites de publicidade para surfar na onda de vilã, mas recusei todos”, dispara.
E na sua performance teve afloração de toda sua luta para chegar ali? “Com certeza. Meu Deus, tiveram momentos que no dia seguinte as discussões, eu pedia desculpas. Percebi que não era aquilo que queria ter feito, ficava triste. Mas tinha coisas que eu não lembrava. Em algumas situações eu estava alcoolizada, outras eu realmente estava em surto de ansiedade e não lembrava. Aqui fora, muitas pessoas me acham fofinha, amigos falam que sou pessoa querida, doce, mas tenho meu lado mais ácido quando acho que estou sendo desrespeitada ou que a pessoa está me tirando para uma pessoa burra. Eu sempre fui rebelde. Com o passar do tempo, a minha carreira e o fato de ficar famosa foram aliviando essa minha rebeldia, mas eu sempre tive ali para lutar pelas minas se tivesse um cara trazendo alguma sensação de ameaça. Sempre estava ali para impor. Isso vem da criação que eu tive. Minha avó era espancada diariamente pelo meu avô. Minha mãe fala que ela dizia que eu tinha vindo para ser artista, diferente e ela me contava para eu não deixar nenhum homem erguer a voz para mim, nem deixar me sentir intimidada. Isso é a fala de pessoa que sofreu violência doméstica por anos e diariamente. Minha mãe assistia e isso gerou um trauma enorme na minha família. E eu sempre fui muito mais braba com os homens. É algo que já estou tratando também na minha terapia para entender melhor porque são traumas, então fiquei com essa rebeldia”, diz.
Tico ressaltou que aquele encontro estava tendo a terceira maior audiência mundial do Clubhouse e lembrou sua participação em um reality show, em 2010. “Entrei por uma questão financeira estava passando por um momento difícil financeiramente falando, me convidaram para participar de A Fazenda, nunca tinha assistido nenhum reality, que é feito para poder dar problema, confusão é isso que as pessoas gostam de ver. Fiquei somente duas semanas. O Chorão (1970-2013) falava as pessoas querem ver sangue. Por isso escolhem a dedo a personalidade de cada um, não é colocado aleatoriamente, são personalidades antagônicas para poder rolar um conflito”, contou.
Vacinada com a primeira dose da vacina contra a covid-19, Karol acha que os artistas só vão voltar aos palcos, da forma que era antes da pandemia, no meio do ano que vem. “Desde que deu a pandemia quase não saio. O máximo que faço é receber alguns amigos, que fazem teste, tem gente que vem aqui e fica de máscara o tempo inteiro.” E completa: “Fui vilã dentro de um reality, porque é o que eu consegui ser lá dentro, mas aqui a minha natureza não é de uma pessoa ruim, mas as pessoas me pintaram assim, foi criado um rótulo em volta de mim. Entrei na casa falando ‘não tenho medo do cancelamento’, fui cancelada e hoje eu não desejo para ninguém o que eu passei. Nunca fui da cultura do cancelamento, nem julgar também. O negócio é seguir em paz. Não tenho mágoa com pessoas que se manifestaram nas redes sociais. Sou a favor do diálogo, da liberdade de expressão. Entrei em um reality para ser julgada. Qualquer coisa que a gente fizesse lá as pessoas iam falar, mas aí realmente teve esse ponto das pessoas desejando a minha morte, o meu fim, a minha falência, Aí já passa do ponto, porque você vê que as pessoas não estão preocupadas em construir ou com a evolução. Eu sou uma pessoa preocupada com isso, independente do tamanho do meu erro que não chega a ser um crime hediondo Muitos famosos que pararam de me seguir e me julgaram, me escreveram pedindo perdão por terem me atacado publicamente. Da mesma forma que reconheci meu erro, pedi perdão e uma segunda chance para ser enxergada como um ser humano, dei esse perdão e reconheci a humanidade dessas pessoas”, finaliza.
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