Irreverente, talentosa e sem medo de ser exatamente aquilo o que é: assim a gente apresenta a cantora Julia Bosco. Em turnê com o show de seu segundo disco curiosamente intitulado “Dance com Seu Inimigo”, a artista carioca vestiu uma roupagem tão diferente de seu début “Tempo” (2012) que o novo trabalho chega a soar como um legítimo disco de estreia. E é bem por aí que a coisa funciona. Apesar de ter demorado a dar o pontapé inicial em sua carreira, Julia, que é filha de ninguém menos que o mito João Bosco, sempre esteve cantarolando por aqui e por ali, mas foi através de um antigo namorado que ela decidiu levar seu talento a serio. Tão a sério que, desta vez, ataca também como compositora das novas faixas. Em entrevista exclusiva ao HT, Julia revelou o que está preparado para o show que fará dia 25 de agosto, em única apresentação, no Sesc Tijuca.
“Nesse show o personagem de palco tem muita a ver a com a Julia da vida real. Tem humor, picardia e toda essa coisa do tesão que eu gosto de abordar nas minhas músicas. Mas tudo dentro de um contexto, claro. É uma apresentação muito livre que eu tenho ficado muito à vontade de fazer. Tive direção da Silvia Machete que é minha amigas há mais de 20 anos”, adiantou ela, que ainda revelou não ter o sexo como tema principal de seus trabalhos, apesar de estar muito presente nas narrativas de suas canções. “Na verdade nem é um viés que eu escolhi. Eu também sou cronista e brinco muito com essa coisa da rotina e das relações interpessoais. É só uma pitada. Não é o carro forte, mas tem esse lance do corpo que eu gosto de romper e questionar padrões de beleza, porque eu sou gordinha, e acho urgente falarmos disso nesses momentos de intolerância. Na verdade, é um tesão ao amor próprio”, disse.
Insatisfeita com os caminhos que seu primeiro disco tomou, Julia agora deu voz ao desejo de deixar às claras sua referência com a música pop dançante dos anos 80 e 90, sem perder a linguagem contemporânea que tomou conta da nova produção. Para isso, ela fugiu da rota Rio/São Paulo e desbravou o Brasil inteiro em busca de boas e novas parcerias. “A pista de dança é um lugar de catarse e fazer esse disco foi uma experiência de libertação. Na verdade essa pegada mais forte, pop e dançante é a minha referência e sempre fez parte de mim. O primeiro disco foi totalmente cru. Eu não tinha a menor experiência. O ‘Tempo’ foi mais um produto para que eu existisse no mercado fonográfico. Esse novo é mais maduro e muito mais representativo do que eu sou. De 2012 para cá eu fui conhecendo muitas pessoas. Pude dar uma percorrida boa pelo Brasil de Norte a Sul”, disse ela que gravou compositores da Bahia (Marcela Bellas), Pará (Dona Onete, Juliana Sinimbú), Minas Gerais (César Lacerda), Espírito Santo (Gustavo Macacko) e Rio Grande do Sul (Gisele de Santi).
Além do nome (“Dance com Seu Inimigo”), o álbum chama atenção não só pela sonoridade, mas também pela ousadia de Julia. Nas fotos de divulgação, a cantora se apropriou de figurinos à la mulher gato da nova geração, posando com uma espécie de collant vermelho poderoso, que ela garantiu usar nos shows. “A escolha desse figurino foi para mostrar que a gente tem que se amar do jeito que é. Não posso ficar ditando regras por aí e não fazer algo que corresponda com a minha realidade. Eu queria algo que imitasse um pouco o figurino da Beyoncé, que é o esteriótipo da mulher perfeita. E foi de propósito mesmo. No palco eu fico variando as cores entre o azul, vermelho e o preto que são as cores do disco. Ele foi pensado para provocar”, disse ela, explicando como definiu o nome do disco. “O inimigo está muito dentre da gente, na forma de autocensura. Quis romper com isso. Minha bandeira é muito leve”, disse.
E falando do empoderamento, Julia ainda soltou o verbo ao comentar que as mulheres são donas de seus próprios corpos e apoia o foco nas questões. “É um momento de muito proveito para as mulheres. Cada vez mais eu as vejo se movimentando. O feminismo não é ser contra o homem, apesar de viver em uma sociedade paternalista. A mulher tem que ter a gerência sobre seu próprio corpo, desde a roupa que ela escolhe usar até questões mais polêmicas como o aborto. Eu tenho ficado muito feliz de ver as pessoas se manifestando publicamente. Se a gente tem um espaço, tem que aproveitar e falar mesmo. Claro que a tendência desses movimentos que surgem com muita força pode cair no exagero, mas acho que tem que estar demais mesmo pra sobrar aquilo que realmente é importante. Acho essencial usar meu espaço pra falar e falo mesmo”, afirmou.
Mas como todo prego que se destaca é martelado, Julia já sofreu bastante com comentários preconceituosos nas redes sociais, mas garantiu que hoje tira de letra essas situações. “A minha relação com as redes sociais vai do céu ao inferno. É um espaço democrático, quase gratuito, que você também pode mostrar o seu trabalho. E isso é muito legal. Mas também é um portal aberto para malucos. Às vezes eu encontro malucos que chegam a me ameaçar. Eu já fiquei muito assutada, mas hoje eu lido muito bem”, avaliou ela.
Agora, voltando a falar sobre o novo disco de Julia, foi durante a produção do trabalho que ela se reaproximou de Donatinho, produtor e diretor musical. A química entre os dois ultrapassou as barreiras dos estúdios e hoje os dois vivem um relacionamento super sério. Tão sério que já estão morando juntos. “O Donatino foi essencial para esse trabalho. O som dele é uma referência para mim. Eu tinha convidado ele para trabalhar comigo no primeiro, mas não rolou. E desde 2012 eu venho tentando. A gente nem namorava na época. A gente começou a namorar durante o processo. A nossa parceria deu muito certo e hoje fico muito feliz de fazer algo que eu consigo defender”, completou ela.
Serviço:
Sesc Tijuca, no Teatro I, localizado na Rua Barão de Mesquita, 539
Dia 25 de agosto, às 20h
Ingressos: R$ 5,00 (cinco reais), para comerciários; R$ 10,00 (dez reais), para jovens de até 21 (vinte e um) anos, estudantes e maiores de 60 (sessenta) anos e de R$ 20,00 (vinte reais) para os demais.
Capacidade: 225 lugares
Classificação: 10 anos
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