Joyce Cândido: nome quente do novo samba fala de mercado, machismo e leis de incentivo: “O amor pelo que faço é maior que as dificuldades que enfrento”


A cantora, agora na Warner Music, se prepara para abrir o Palco Rock Street Brasil no Rock in Rio e lançar, em breve, um novo EP com músicas de Paulinho Moska, Zé Renato, Zé Ricardo e muito mais!

(Foto: Patrick Villela)

(Foto: Patrick Villela)

Quando Joyce Cândido estava na faculdade de música, recebeu o convite de um amigo sambista: fazer um show com repertório de Beth Carvalho. A paulistana, com formação clássica e erudita, não se fez de rogada. Entoou composições de Nelson Cavaquinho, Arlindo Cruz, Cartola e não parou mais. “Amei o repertório e passei a cantar com o grupo dele em 2001”. Desde então, seus shows foram mesclados de muita bossa e samba do bom. Algo não muito fácil de imaginar para quem fez Conservatório de Piano e estudou na Broadway. Mas, ela garante que a sua veia sempre pulsou mais forte por um pandeiro. “Cresci ouvindo Maria Bethânia e Clara Nunes. Eu adorava tocar chorinho ao piano desde criança. Então, mesmo tendo estudado música erudita, sempre tive uma tendência natural a gostar de música brasileira”, explicou em entrevista exclusiva ao HT.

Há quatro anos no Rio de Janeiro, Joyce atualmente faz parte do casting da Warner Music e conseguiu fazer seu nome se mesclar ao do samba brasileiro. Nada mais justo, já que faz questão de dizer que é a música que balança seu coração. “Eu amo de verdade. Como disse Jorge Aragão quando me viu cantar: ‘Tu é nêga sambista, nêga!'”. Elogio que reflete no que foi desenvolvido até agora: dois CD’s e um DVD, além de trabalhos com gente do calibre de Chico Buarque, Alceu Maia, João Bosco, Elza Soares e Bibi Ferreira. Esta última, aliás, dirigiu o show do lançamento do segundo CD. “Sou privilegiada por poder trabalhar com grandes nomes como esses. Sempre foi meu objetivo maior. Quando tenho a chance de cantar com um artista consagrado, eu estudo muito, me preparo, leio sobre o artista, escuto sua obra, assimilo tudo de melhor”, contou.

Com tanta gente boa no mesmo mercado, Joyce sabe muito bem que peixe que nada diferente do cardume consegue se safar de mar agitado. E por isso, não tem dificuldade em traçar seus diferenciais do restante. “Minha relação com a música é muito ampla. Estudo piano desde criança, toquei Bach, Bethoveen, Mozart, Villa Lobos, Chiquinha Gonzaga, flerto também com o jazz, adoro cantoras como Ella Fitzgerald e Billy Holiday, amo musicais da Broadway e tenho experiência com dança”, citou. E acrescentou: “Estudei teatro e participei de montagens de musicais infantis. Isso tudo se soma de maneira efetiva na minha carreira. Passeio pelo samba, pela MPB, pelo jazz, pela bossa, pelos musicais. Gosto desta versatilidade e me empenho para ter resultados artísticos cada vez melhores”.

(Foto: Patrick Villela)

(Foto: Patrick Villela)

Aliás, toda experiência que usa para os palcos e álbuns também servem para conquistar (ainda mais) espaço em um universo dominado por homens como o samba.  Se ela já sentiu vítima de machismo em algum momento? Até ri. “Acho que essa história de machismo já está ficando antiquada. Beth Carvalho, Clara Nunes, Alcione, Dona Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra, e tantas outras estrelas do samba abriram caminho para a nova geração. Essas mulheres foram e são madrinhas de diversos”, disse partindo para uma prova: “Beth Carvalho, por exemplo, foi quem fez Zeca Pagodinho e tantos outros artistas homens se tornarem conhecidos por gravar seus sambas. Cantoras da nova geração como eu, Roberta Sá, Marienne de Castro e Lu Carvalho já temos o caminho facilitado pelas cantoras já consagradas que merecem toda nossa reverência”, falou. Mas ela, como toda mulher de fibra, não deixa de valorizar a presença feminina. “A cantora dá um charme a mais para o samba, não é? Os homens não podem negar”.

Não podem negar, como devem reverenciar. Até por que, convenhamos, se já é difícil ser mulher em um gênero predominantemente masculino, o que dizer de um universo tão desigual como a música? “No Brasil – e em qualquer lugar do mundo – viver de música é uma delícia dolorosa. É ótimo fazer o que se ama, o que se escolheu, ter a liberdade de organizar seu tempo da maneira que você quer, viver pensando em música, compondo, estudando, ensaiando, fazendo show…é tudo muito bom! Porém, não é fácil”, admitiu. E Joyce sabe muito bem pelo que passou até alcançar o sucesso que hoje seu nome representa. “Conquistar seu espaço, seu público, fazer sua música ecoar de verdade, lotar a casa no dia do show, melhorar a cada dia é tudo muito estressante! Você é observado e avaliado por todos, o tempo todo. Às vezes, fico meio maluca, mas dura só alguns minutos! O amor pelo que faço é bem maior do que as dificuldades que enfrento”, afirmou.

E ela não esbanja felicidade da boca para fora. É só dar uma olhada em seus próximos passos para ver como andam os novos ventos. “Vou cantar no Rock in Rio, no dia 18 de setembro, no Palco Rock Street Brasil. Farei a abertura do festival e isso é bem empolgante. Também vamos lançar, em breve, meu novo EP com músicas de Paulinho Moska, Zé Renato, Zé Ricardo, Nelson Cavaquinho, uma parceria minha e de Roberto Pontes e mais surpresas”, adiantou. Tudo isso, é claro, com a mãozinha mais que bem-vinda da Warner, sua gravadora. “Desde que entrei na Warner bastante coisa mudou. Passei a fazer shows maiores, gravei videoclipe e fui no ‘Programa do Jô’. Ganhei mais visibilidade no cenário musical. Foi algo muito bom para mim”, disse.

(Foto: Patrick Villela)

(Foto: Patrick Villela)

Por fim, HT não deixaria passar a oportunidade de debater com Joyce Cândido um assunto tão pertinente que são os editais culturais. E, ela que já realizou vários projetos por meio do Ministério da Cultura, por exemplo, admite que eles são burocráticos. “Mas funcionaram. Fiz turnê de shows em São Paulo, fui para Portugal, Espanha e França com apoio de passagens aéreas do Ministério em anos anteriores”, contou, não fazendo o papel de advogada do diabo. “Porém, sabemos que precisamos de mais apoio. Este ano, o Ministério da Cultura está uma complicação tremenda! Não conseguimos apoio de passagens para participar de projetos importantes, como a Womex e os festivais europeus de 2015. Falo da minha experiência e sei que muitos artistas têm se prejudicado por conta da falta de verba e atrasos no repasse. O Brasil ainda precisa melhorar muito este sistema de fomento cultural. Toda essa crise no país respinga seriamente na cultura! O que primeiro se corta, é a cultura. Sobra para os artistas”. Precisa falar mais alguma coisa?

Você confere abaixo o bate-bola que HT bateu com Joyce baseado nas canções de seu mais recente DVD. Vale a pena dar um pulo no Spotify e ouvir “O que sinto”, seu último lançamento, além de singles e o álbum “O Bom e Velho Samba Novo”.

Play já enquanto você admira os cliques do ensaio que ilustram essa entrevista. As fotos foram feitas na Casa da Santa, gentilmente cedida por Matthieu Romancant, e assinadas por Patrick Villela com finalização de Roberta Dittz, direção de Roberto Pontes, styling de Rômulo Maduro e beleza de Dickson Vieira e Rosa Bandeira.

(Foto: Patrick Villela)

(Foto: Patrick Villela)

 

Bate-bola baseado nas músicas do DVD:

HT: Qual seu “Tesouro Maior”?

JC: Minha família, meus amigos, minha música!

HT: Quais as Regras do seu Jogo?

JC: Amor, honestidade e companheirismo.

HT: Qual foi seu Pôr do Sol inesquecível?

JC: O primeiro que assisti da Pedra do Arpoador e o povo todo aplaudiu!

HT: Como seria o Prelúdio de um Dia perfeito?

JC: Meu dia começa perfeito quando já inicio ganhando carinho do meu amor e do meu cachorrinho, que é meu “filhote”! Quando já acordo cantando e dançando pela casa! ( E isso acontece sempre!)