* por Vitor Antunes
Um dos maiores expoentes da música romântica no Brasil, especialmente entre os anos 1980 e 1990, quando alcançou marcas incríveis em vendas de discos e emplacou diversos temas de novela, José Augusto completa 50 anos de carreira e 70 de idade. Artista diz lidar bem com a maturidade e não pensar muito sobre a passagem do tempo, ainda que aproveite os aprendizados que advém dele. “Chega um momento em que você já presenciou tantas coisas que nada mais é assustador. E temos maior experiência para lidar com os imprevistos”. Todavia, dentre tantos aprendizados que a vida lhe trouxe, talvez o mais decisivo tenha sido o de abandonar o vício nos cigarros. Sobre este assunto o cantor é definitivo: “O cigarro quase destruiu a minha carreira. Eu fiquei completamente afônico”, disse ele, acrescentando: “Quando um ex-fumante coloca um cigarro na boca, ele volta a fumar”.
Sabidamente, Zé é compositor. Junto a Paulo Sérgio Valle é um dos autores de “Evidências”, sucesso na voz de Chitãozinho e Xororó e canção tida como a “favorita dos karaokês“. Atualmente, na voz de Roberto Carlos, compõe a trilha da novela das 21h, “Travessia”, além de haver estado entre as canções de outras duas novelas – “A Dona do Pedaço” (2019) e “Ribeirão do Tempo” (2011). Dono de outras muitas canções românticas como “Chuvas de Verão” e “Sonho por Sonho“, José Augusto considera não haver espaço para as músicas de amor, já que hoje vivemos um momento de canções mais sexies. Um dos maiores sucessos de José Augusto é “Aguenta Coração“, tema de abertura da novela “Barriga de Aluguel” (1990). Lançando mão desta música, perguntamos a ele o que faz o seu coração transbordar e não aguentar em si. Ele foi rápido: “Meus cachorros”.
Não é possível uma música romântica habitar as paradas de sucesso atuais (…), mas músicas sexualizadas. (…) Acho que tudo tem um tempo e esse não é o momento da música romântica – José Augusto
SEM NEGAR AS APARÊNCIAS OU DISFARÇAR AS EVIDÊNCIAS
Em 1972, José Augusto teve a primeira música gravada por um grande nome, Cauby Peixoto (1931-2016) e naquele mesmo ano o artista iniciante gravou seu primeiro compacto simples – um disco de vinil com apenas duas músicas. O primeiro LP viria apenas no ano seguinte, 1973, momento em que o cantor contabiliza como sendo o início de sua carreira musical. Há cerca de uma década esta trajetória esteve sob risco. Em razão do vício no cigarro, o artista perdeu a voz e ficou por um longo tempo sob tratamento médico. “O cigarro quase destruiu a minha carreira. Cheguei a ficar completamente afônico. Não podia nem mesmo falar. Fiquei por seis meses em tratamento em razão disto e me livrei desse vício. Há 11 anos, eu não ponho um cigarro na boca e não pretendo colocar”.
Não dá para fazer uma gracinha e dizer: ‘Vou fumar um cigarro agora e, depois, não fumo mais’. Isso não existe. A quem parou de fumar, pense muito bem sobre isso. Quando um ex-fumante coloca um cigarro na boca, ele volta a fumar. Eu tenho muito medo que isso aconteça a mim e, por isso, quero uma distância cada vez maior do cigarro – José Augusto
Tendo iniciado sua carreira com o mercado fonográfico regido sob um outro perfil, ainda na época dos álbuns completos em vinil e das músicas tocadas à exaustão nas rádios, hoje o consumo a esse segmento mudou e passa tanto pelo YouTube como pelas plataformas de streaming. Além disto, a temática das canções sempre dialoga com uma questão sexual – até mais que a sensual, que escanteia as baladas românticas. Sob a perspectiva de José Augusto, “às paradas de sucessos atuais cabe somente as músicas que estão sendo divulgadas, incentivadas pelos canais de entretenimento”.
Não é possível uma música romântica habitar os rankings musicais do presente. Quem está ligado nas paradas sucessos atuais são cantores que mostram um outro tipo de música, mais sexual e outras coisas mais. Então, eu acho que tudo tem um tempo e a gente não está vivendo o da música romântica. Ela não acabou, jamais vai acabar, mas está dando um tempo, principalmente nas paradas de sucesso – José Augusto
As plataformas de streaming, voz geral, remuneram de maneira parca o artista, tanto o cantor como o compositor. Na opinião de José Augusto, “Há de se habituar as novas regras do mercado fonográfico, especialmente por conta do streaming. Como toda mudança, esta tem que favorecer a todos. Eu acho que esse tempo ainda vai chegar, no qual os autores, principalmente, serão melhor remunerados”.
Iniciamos esta matéria falando sobre tempo e a longevidade tanto da carreira do cantor como de sua vida. Conta-nos ele que toda a celebração da efeméride se dará no segundo semestre. Zé diz não entrar num grande confronto com a cronologia. “Eu procuro não pensar muito no tempo. Não adianta lutar contra isso. Ele chega para todos”. Septuagenário, diz que “Os desafios da maturidade são muitos, mas em compensação, quando se atinge uma certa idade, tanta vida já foi vivida e presenciada, que nada mais é assustador. Aprendemos a lidar melhor com os imprevistos”.
Parafraseando um de seus maiores sucessos, “Aguenta Coração“, perguntamos a ele o que faz o seu coração não aguentar, o que o faz transbordar. E ele foi assertivo: “As minhas emoções são meus bichos. Eu tenho quatro cachorros que são da família. O amor que eles demonstram por nós, precisamos aprender. Não existe esse amor entre os seres humanos. É algo que vem deles que se respeitam e nos respeitam. Eles nos dão uma aula de amor”, finaliza.
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