Jorge Ailton é músico, cantor, compositor e o que mais couber no espectro musical, sempre olhando para a frente, ele resolveu voltar ao seu passado, no início dos anos 2000, para recuperar um estilo que está em seu sangue: o R&B. O resultado deste reencontro pode ser conferido no lançamento do clipe Isso Que Não Tem Nome, que está sendo divulgado agora, com exclusividade, pelo site HT. “A música vem de uma história de amor real, mas livre. Daquele tipo que a gente se relaciona com a pessoa, mas não sabe dizer exatamente qual o status. Não tem nome, porém é muito bom”, afirmou. O vídeo tem participação do próprio artista e da atriz Bruninha Rocha e foi gravado no Viaduto de Madureira, um lugar importante para a cena Black na cidade do Rio de Janeiro. O single é o primeiro do disco Arembi, o terceiro de sua carreira, que deve sair no dia 25 de maio pelo selo LAB 344. O nome do CD faz referência a uma canção composta em parceria com Lulu Santos. “O título do disco é autoexplicativo. Estou fazendo uma apropriação ao contrário, escrevendo da forma como um brasileiro, que não tem nenhum contato com a língua inglesa, falaria R&B”, explicou.
Site Heloisa Tolipan: Isso Que Não Tem Nome fala sobre um relacionamento apaixonado de duas pessoas que se gostam muito. Qual foi a inspiração para a letra da música?
Jorge Ailton: É baseado em uma história pessoal que vivi. Nós não tínhamos rótulos, mas éramos felizes. Vi muita gente se vangloriando que era casado, mas que no fundo eram super tristes. Acredito muito que os sentimentos não precisam ser nomeados. A letra, inclusive, é uma forma de alerta para o público.
HT: O clipe de Isso Que Não Tem Nome conta a história de uma menina que sabe dançar e um rapaz que tenta aprender para seduzir a garota. Como foi a montagem desta coreografia?
JA: A dança foi feita pelo Dudu Neves, que é um grande amigo meu, e é um coreógrafo muito importante da cena Black aqui no Rio e ainda trabalha com a Fernanda Abreu e a Kelly Key. A ideia para estes passos veio do gingado que as pessoas tinham no baile Viaduto de Madureira, que eu frequentava no subúrbio. É exatamente o estilo que a garota dança, quis fazer uma homenagem a este lugar que foi muito importante para mim. Achei legal unir este relacionamento livre com a conquista das festas. Por causa disso o clipe exibe um cara aprendendo a dançar para atrair uma menina, o que é algo até puro de pensar.
HT: As cenas foram gravadas no Baile Charme, do Viaduto de Madureira, que completa 28 anos em 2018. A festa é considerada Patrimônio Imaterial da Cidade do Rio de Janeiro e é um elemento muito importante para a cultura Black, tendo forte presença na construção da identidade negra pelo estilo e atitude. Mas, para você, este lugar recebeu um significado diferente. Ele faz parte da sua formação musical. Por que o local teve este influencia muito forte na sua carreira?
JA: Quando vou ao baile, eu não danço por falta de habilidade. Fico entre as caixas de som, perto do DJ, prestando atenção na seleção musical e vendo as pessoas que estão dando um show na pista. Para mim, era importante escutar as canções Black que tocavam, porque não costumavam ser ouvidas no rádio. Eu tinha as aulas formais de teoria musical e prestava atenção naquelas festas para entender o que o público gostava, era importante ter esta ideia.
HT: Arembi é o terceiro disco de sua carreira e simboliza uma revisitação do seu eu do passado, no início dos anos 2000. O que te levou a explorar esta época?
JA: Acho que este é o meu lugar. Tive uma banda chamada FUNK U que terminou em 2007. Quando fui lançar o meu primeiro disco solo quis mostrar o meu lado compositor. Por isso, fiz uma mistura de soul com rock. Com este CD, quis voltar para as minhas origens com a soul music e o R&B. Tenho muita influência do Tim Maia, Cassiano, Hyldon e Carlos Dafé. Arembi consegue englobar o que eu gosto.
HT: O soul é um estilo que veio dos Estados Unidos, mas já está no Brasil há algum tempo. Acha que conseguimos imprimir brasilidade neste gênero musical?
JA: Acho que o soul não é mais um estilo americano. Da mesma forma como existe um rock brasileiro, existe um estilo próprio para este gênero. Tim Maia, Cassiano, Sandra de Sá e Ed Motta já produzem um som nacional. Escutei estas pessoas quando eu estava me formando musicalmente, então para mim não é mais um formato estrangeiro.
HT: A faixa título do disco foi composta em parceria com Lulu Santos. Como foi esta parceria?
JA: Foi uma honra contar com ele, porque é um dos maiores compositores nacionais. Já é a nossa segunda empreitada juntos e ainda é a letra que abre o meu CD. Não poderia ter honra maior.
HT: Ailton, você é baixista do Lulu há nove anos. Ele é um dos maiores nomes no Brasil tendo uma grande representatividade em seu meio. Ao trabalhar tanto tempo com uma pessoa de estilo tão forte, como faz para manter a sua personalidade musical?
JA: Ele é o melhor profissional para outros tocarem, porque o Lulu gosta de trabalhar com outros artistas e não apenas músicos. Dessa forma, aproveita o melhor de cada um, dando sempre um espaço nos shows. Além disso, é uma pessoa muito generosa que está sempre disposta a escutar os outros.
HT: A partir deste contato com o Lulu, qual o elemento mais importante que você aprendeu por fazer parte da banda dele?
JA: O respeito máximo com a profissão de músico e com os artistas. Trabalhar com ele é um aprendizado imenso desde o estúdio até os palcos. O Lulu Santos transforma teoria musical em sucesso e entretenimento. Realmente domina todo o processo, é bem detalhista. Todas as pessoas que tocam com ele melhoram.
HT: Você está há algum tempo no mercado e, por isso, acompanhou muitos altos e baixos da profissão. Como avalia o momento atual da música nacional?
JA: Acho que estamos vivendo um bom momento para as canções autorais e produzir conteúdo. Com as plataformas digitais, nós conseguimos mostrar o nosso trabalho. Pode não ser o sistema perfeito, mas tenho visto artistas crescendo e ganhando um espaço para divulgar o seu estilo. Estou animado com este CD novo e espero que músicos da minha geração possam exibir seus novos projetos.
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