Johnny Hooker: “Arte traz questões políticas e redes sociais podem ser conscientização ou adoçam mentes”


O artista recifense, que gravou em 2015 o DVD “Macumba Ao Vivo em Recife”, um registro do seu primeiro álbum “Eu Vou Fazer uma Macumba pra te Amarrar, Maldito! conversou com sobre os fãs, ‘Abandonada’ com Fafá de Belém, a parceria com Mart’nália, o disco inédito, pandemia e muito mais. Vem saber!

A arte no Brasil sempre trouxe muitas questões políticas e na música não seria diferente’, diz Johnny Hooker (Foto: Felipe Rodrigues)

 

*Por Rafael Moura

Johnny Hooker se tornou um dos grandes nomes da música brasileira. Suas letras românticas e reflexivas trazem uma carga emocional e expressiva muito grandes. Em seu primeiro disco, ‘Eu Vou Fazer uma Macumba pra Te Amarrar, Maldito!’, o artista já mostrou que se tornaria grande, o que rendeu o DVD ‘Macumba Ao Vivo em Recife’, um registro do álbum homônimo que proporcionou projeção nacional em 2016. Cinco anos depois, o músico, que mistura brega e pop, volta a soltar a voz em as gravações que, até então, só estavam na memória de quem as vivenciou.

“Durante a turnê do meu primeiro disco, “Eu Vou Fazer uma Macumba pra Te Amarrar, Maldito!”, a gente percebeu que tinha um show muito especial em mão que emocionava muito as pessoas. Tinham grupos que viajam o Brasil para assistir as apresentações. Portanto, decidimos fazer o registro ao vivo como uma maneira de eternizar o momento. O que me surpreendeu finalizando o material foi a quantidade de inéditas que tínhamos por conta das participações de Fafá, Otto, Karina Buhr e Isaar França”, revela o cantor.

O primeiro single, desse DVD, foi um grande presente para os fãs. É a música ‘Abandonada’, sucesso na voz de Fafá de Belém, em parceria com Hooker e  chega em todas as plataformas de streaming e com clipe no YouTube. “A versão da música com a minha voz e a de Fafá deu um ar de ineditismo, algo novo que poderíamos oferecer ao público. A edição também especialmente sublinha a entrega do público naquela noite que foi muito bonita” comenta.

Hooker revela que foi uma emoção gravar com essa força da natureza’ que é a Fafá. Afinal, ‘Abandonada‘ é um clássico da música brasileira e que traz uma emoção imensa, assim como, em suas canções. “Fafá é um ícone da nossa música e cultura. Ela sempre foi uma mulher muito livre e que celebrou nossa cultura. Em 2015, ela regravou uma música minha, ‘Volta’,  em um de seus álbuns (Do tamanho do meu sorriso) e, quando chegou a hora de fazer o registro do show ao vivo, decidi convidá-la. Foi um aprendizado incrível estar no palco com ela. Acho que ‘Abandonada‘ é o ponto de encontro dos nossos universos, onde eles se encontram nessa história passional, dramática, latina. É uma música que traz uma poesia muito forte”, observa.

Johnny Hooker e Fafá de Belém cantando ‘Abandonda’, na Gravação do DVD Macumba Ao Vivo em Recife

A pandemia e o isolamento concederam o tempo para que o artista conseguisse finalizar o projeto que vem recheado e emoções. Hooker conta que está sendo muito difícil lidar com a pandemia. “Não vou mentir. Perdemos a alegria dos shows, viagens, ensaios, clipes. Estamos trabalhando como podemos e à base de remendos. O setor do entretenimento está acabado. Na vida pessoal me dediquei a cuidar mais do corpo e da mente. Virei um dependente de endorfina”, confessa.

Johnny Hooker e Karina Buhr na Gravação do DVD Macumba Ao Vivo em Recife

Nesse período de pandemia estudos mostraram que a música tem um grande efeito terapêutico. E Johnny se utiliza muito bem dessa mágica do universo musical em sua vida. Então perguntamos a ele quem são os artistas/ músicas que não saem da sua playlist? “Ah, eu sempre amei muito música pop né? Então os artista que mais bombaram nas minhas playlists foram Jessie Ware, Lady Gaga e Dua Lipa que lançaram discos incríveis. Daqui do Brasil escutei muito os novos de Luedji Luna, Letrux, Mahmundi. Só as mulheres maravilhosas”, frisa.

Hooker integra um time de artistas altamente ativista e que defende valores de igualdade e liberdade de direitos. Vemos a ‘arte ativista’, principalmente o movimento LGBTQIA+ ganhando cada vez mais visibilidade. Demonstra que estamos vivemos um momento de mudança, mesmo que ainda pequena, no mercado fonográfico. “Acredito que a arte no Brasil sempre trouxe muito essas questões políticas e na música não poderia ser diferente. Avanços, sim, mas se você olhar o top 100 do Spotify ele é dominado pelo agronegócio. Temos o talento para ser o país do futuro. Falta vontade. As redes sociais servem para espalhar conscientização, mas também adoçam muito as mentes, os corpos. Viramos escravos dos algoritmos”, dispara.

No primeiro semestre deste ano, o showman pretende, ainda, lançar um disco autoral inspirado em dois temas: sexo e Recife (PE), cidade onde nasceu. O livro ‘Orgia – Diários de Tulio Carella, de – Recife, 1960’, é um de seus nortes para este novo trabalho. A publicação narra as aventuras sexuais do dramaturgo, ensaísta e poeta argentino Tulio Carella (1919-1972) pelo Recife (PE) em 1960. Foi editado no Brasil, em 1968, e rejeitado por muitos no período, se tornando um grande clássico do universo gay. O álbum é o terceiro de Johnny Hooker, o último foi ‘Coração’ lançado em 2017.

Outra novidade é que Hokker foi convidado por Mart’nália para gravar o primeiro single de seu novo álbum de inéditas, a música ‘Veneno’, pela gravadora Biscoito Fino, que está em todas as plataformas digitais. A faixa escrita por Nelson Motta, um dos sucessos do álbum ‘Fullgás’ (1984), de Marina Lima. A dupla adiciona um ‘veneno pop’, na carreira da cantora carioca conhecida por sua veia sambista. Encerrando essa conversa com o Site HT, o artista revela seu grande desejo: “A vacina e a gente consiga sobreviver a essa situação. Que a gente encontre uma luz no fim do túnel”.