*Por Rafael Moura
Sempre apostamos em novos nomes e, agora, é a vez do cantor João Rosa. O pagodeiro, com 24 anos, defensor das causas LGBTQIA+, é uma grande promessa do mercado e acaba de lançar o primeiro single, ‘Amar Sem Sentir Culpa’, que exalta a diversidade e mostra que a música rompe todas as barreiras. A arte ativista e a polarização dos discursos bem intensos ganham mais holofotes. “Sou ‘Poc’ de nascença, pagodeiro por vocação”, brinca João. ‘Poc’, palavra que já foi usada muitas vezes entre os gays para definir aqueles que chegavam na night com os saltos giga fazendo ‘poc poc’ ganhou um ressignificado para “alegre”.
E João afirma. “Sou pagodeiro desde sempre! Então eu me sinto mais confortável em desenvolver meu trabalho dentro desse universo, porque acho que o samba e o pagode são os estilos que eu mais escuto e tenho mais referência. Além disso, acredito que como a vivência LGBT+ é pouco abordada no pagode ainda (infelizmente) isso abre bastante espaço, principalmente entre as LGBTs que, como eu, sempre amaram o ritmo, mas não se sentiam representadas nas letras das canções de pagode”.
Logo após o lançamento, o cantor divulgou em seu IGTV: “Eu lancei um mini-doc sobre a composição. Foi uma música que eu de fato sentei para escrever e acho que eu quis relatar algo que fosse real para muitas LGBTQIA+. Porque se é verdade para gente a chance de isso gerar identificação por ser real para outras pessoas é bem grande. E daí saiu a ‘Amar’ que, particularmente, é uma das minhas composições que eu mais gosto, justamente porque é singela na forma de abordar essa vivência, terminando de uma maneira positiva, alegre, para cima”.
O talento musical vem de família, afinal, seu irmão Karan Cavallero, é um dos integrantes da banda Atitude 67, e João lembra que desde os seis anos, observava, respirava e ouvia música. “Os ensaios aconteciam na garagem de casa”, relembra. E como todo artista, sonha em viver de música. “Não sei nem dizer o que me atrai no pagode, parece que está nas minhas veias, no meu sangue, nasceu dentro de mim”, frisa. João aprendeu a tocar cavaquinhos aos 14 anos com a ajuda do sambista Luiz Café, um multi-instrumentista, cantor e compositor do grupo Dom Brasileiro que o convidou para que integrasse o time de roda de samba. “Entre meus 16/17 anos fiquei o ano inteiro tendo a experiência de tocar profissionalmente na noite de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, isso mesmo antes de eu ficar com uma pessoa do mesmo gênero que eu”, revela.
João Rosa se mudou para São Paulo para estudar Ciências Sociais, na USP, e foi nessa época que teve um hiato em sua carreira, apenas compondo e tocando com amigos. “Só no final do ano passado que voltei mais forte com o pagode, quando toquei na noite de São Paulo em um projeto coletivo voltado à LGBTs no samba, uma roda aberta e inclusiva que acontecia uma vez por mês. Foi um dos pontapés para eu me reencontrar na música”.
João é mestrando em Sociologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) mas, com a pandemia, as aulas foram suspensas e ele resolveu voltar para perto da família em Campo Grande. E, na quarentena, encontrou uma nova oportunidade. “Foi aí que me deu o estalo de trabalhar meu nome e lutar realmente para viver da minha arte. Ser gay e pagodeiro é diferente, porque só de fazer parte da comunidade LGBT já algo que ‘foge aos padrões’ sociais do universo do pagode. Ao mesmo tempo que não tiro o pagode mim, a sexualidade também representa quem mais sou, é por causa dela que minha existência é marcada estruturalmente. É minha vida”, assegura.
Nas redes sociais se lançou ‘poc’ pagodeira’ e pelo nome artístico de João Rosa e no Instagram divulga seu trabalho no geral e canta músicas do universo LGBT em ritmo de pagode. Umas das últimas postagens, homenageou em vídeo canções regionais no gênero musical brasileiro. “Unir os dois mundos do meu coração para mostrar que, no fim das contas, dá para ser o que bem quiser, tanto gay quanto pagodeiro”, considera. E acrescenta que adoraria gravar feats com artistas LGBTs que exaltam o pagode, genuinamente brasileiro. Pensando em pessoas que já têm experiência no pagode eu não pensaria duas vezes em gravar com a Leci Brandão e a Ludmilla. Mas acho que seria lindo trocar com LGBTs que resistem em outros estilos musicais brasileiros também”, revela.
Para 2021 o pagodeiro revela que já tem um próximo single gravado e em breve será divulgado em suas redes sociais. O que vocês podem esperar é uma abordagem bem diferente da ‘Amar’ sobre um relacionamento LGBT. E é intencional justamente, porque o relacionamento LGBT é como qualquer outro: tem brigas, discussões, desentendimentos, inseguranças. E minha ideia é abordar essas diversas questões nas diferentes músicas do projeto. Mostrar nossas dores e delícias de diferentes formas. E podem esperar que vai ser bem legal, prometo!”, conclui.
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