Jéssica Ellen lança “Macumbeira” e revela sobre o desfecho de sua personagem na TV: “Todo preconceito é burro”


No Dia de São Sebastião, artista lança disco sobre sincretismo e que presta homenagem às entidades da umbanda, e conta com participações de Zezé Motta e Pretinho da Serrinha. Jéssica fala também do encerramento do seu trabalho em ‘Amor de Mãe’, e da discriminação com às religiões afro brasileiras: “Tem muito preconceito religioso. Têm tantas religiões no mundo, acho burrice você achar que só duas ou três têm razão. Se não é a sua, é sempre uma chance de conhecer. A fé e as práticas religiosas me ajudam a enfrentar a vida de forma inteira”

Jéssica Ellen na época do lançamento de "Macumbeira": "Todo preconceito é burro" (Foto: Divulgação)

*Por Brunna Condini

Hoje é comemorado o Dia de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, e a data foi escolhida por Jessica Ellen para lançar seu álbum ‘Macumbeira’, homônimo do single lançado em novembro passado. A homenagem ao aniversário da cidade exalta a umbanda, celebrada no disco. A atriz esclarece que apesar da reverência à ela no atual trabalho, é praticante do candomblé, e, em entrevista ao site, aproveita para falar do orixá Oxóssi, que no sincretismo religioso corresponde a São Sebastião. “Este dia representa a caça farta, a gente celebrar a agricultura, a comida na mesa, o respeito à plantação, ao alimento. A fartura do alimento saudável, da saúde. Isso tudo é Oxóssi!”.

A atriz lança seu novo álbum ‘Macumbeira’ no dia de São Sebastião e também reverencia Oxóssi: A fartura do alimento saudável, da saúde. Isso tudo é Oxóssi!” (Foto: Gabriella Maria)

A atriz lança seu novo álbum ‘Macumbeira’ no dia de São Sebastião e também reverencia Oxóssi: A fartura do alimento saudável, da saúde. Isso tudo é Oxóssi!” (Foto: Gabriella Maria)

A atriz deve voltar ao ar ainda neste trimestre dando vida à engajada professora Camila em ‘Amor de Mãe’, cujas gravações foram interrompidas por conta da pandemia do novo coronavírus. “A Manuela Dias (autora) precisou reescrever muitas vezes a novela. Aquela coisa de falar ou não do coronavírus, até que acabaram acrescentando no final”, revela. “Uma das belezas no trabalho da Manu é que ela escreve para todos os personagens. Camila era muito completa, tinha o namorado, a relação com a família, a profissão, o samba. É muito bonito viver uma personagem que tem raiva e também chora. Fiquei feliz com o desfecho dela, nem sei se posso falar isso. Ela seguiu fazendo o que gosta, dando aula. No final, ela é reconhecida pela profissão, valorizada”.

"Fiquei feliz com o desfecho da Camila, nem sei se posso falar isso (risos). Ela seguiu fazendo o que gosta, dando aula. No final ela é reconhecida pela profissão, valorizada” (Divulgação/ Globo)

“Fiquei feliz com o desfecho da Camila, nem sei se posso falar isso (risos). Ela seguiu fazendo o que gosta, dando aula. No final ela é reconhecida pela profissão, valorizada” (Divulgação/ Globo)

Ela resgata suas origens através do EP composto por oito faixas, que celebra algumas das muitas entidades da umbanda, com participações especiais de Zezé Motta, Pretinho da Serrinha e sua irmã caçula, Enjoyce. “Sou iniciada no Candomblé, essa homenagem à Umbanda é para mostrar a diferença. Escolhi cantar essas músicas dando continuidade à pesquisa de ancestralidade que comecei com meu primeiro álbum ‘Sankofa’ (2018). Meu primeiro contato com a espiritualidade foi através da Umbanda, foi com o meu avô, na nossa vida familiar. Escutávamos pontos, Clara Nunes, Bezerra da Silva. Fazia parte de um cotidiano, de uma lembrança afetiva. Minha mãe era umbandista, ia a festa de Caboclo, de Erê”, compartilha.

"Meu primeiro contato com a espiritualidade foi através da Umbanda, foi com o meu avô, na nossa vida familiar" (Foto: Gabriella Maria)

“Meu primeiro contato com a espiritualidade foi através da Umbanda, foi com o meu avô, na nossa vida familiar” (Foto: Gabriella Maria)

Apontando para a fé

O projeto gravado durante a pandemia, para além de homenagear a religião afro-brasileira que sintetiza vários elementos das matrizes africanas e cristãs, tem o desejo de transmitir amor e esperança ao público neste momento. “Tem muito preconceito religioso e todo preconceito é burro. Têm tantas religiões no mundo, acho burrice você achar que só duas ou três têm razão. Se não é a sua, é sempre uma chance de conhecer”, aponta. “A fé e as práticas religiosas me ajudam a enfrentar a vida de forma inteira. Cada dia da semana reverenciamos, louvamos um orixá, por exemplo. Terça-feira é dia de Ogum, guerreiro que vai à frente, para a luta. Na sexta-feira, Oxalá traz serenidade. Acho que a religião faz parte do meu cotidiano de forma muito natural”.

“Tem muito preconceito religioso e todo preconceito é burro. Têm tantas religiões no mundo, acho burrice você achar que só duas ou três têm razão" (Foto: Gabriella Maria)

“Tem muito preconceito religioso e todo preconceito é burro. Têm tantas religiões no mundo, acho burrice você achar que só duas ou três têm razão” (Foto: Gabriella Maria)

Iniciada no Candomblé há quatro anos, a atriz de 28 conta que o mergulho religioso faz parte do seu processo de autoconhecimento. “Acho que este ano ainda será difícil, como foi o ano passado. E 2020 foi de muita reflexão, em que reafirmei valores, relações e minha fé foi uma das coisas que me salvou. Ter fé é você acreditar em algo maior que você, saber que tudo passa. Quero compartilhar com esse trabalho minha fé, amor e a relação com os encantados. Na Umbanda a gente fala que as entidades são os encantados, porque eles vêm, se incorporam, se manifestam, mas são energias encantadas. A gente não vê o vento, não pega o vento, mas a gente sente a brisa e isso é o que para mim define a beleza das entidades, a beleza da religião, que infelizmente ainda é tão atacada e mal interpretada”.

Como Cabocla nas fotos de divulgação: “Acho que este ano ainda será difícil, como foi o ano passado. E 2020 foi de muita reflexão, em que reafirmei valores, relações e minha fé foi uma das coisas que me salvou"

Como Cabocla nas fotos de divulgação: “Acho que este ano ainda será difícil, como foi o ano passado. E 2020 foi de muita reflexão, em que reafirmei valores, relações e minha fé foi uma das coisas que me salvou”

Carreira em ascensão

Jéssica cresceu na Rocinha, comunidade localizada em São Conrado no Rio de Janeiro, e foi através de projetos sociais que estudou dança e teatro, batalhando para cursar Artes Cênicas. De lá para cá, já se passaram 10 anos e uma carreira cosntruída com personagens marcantes. Como o papel em ‘Amor de Mãe’ , que a consagra como destaque absoluto na TV. A atriz já revelou, que inclusive, foi por pouco que não foi professora de História como sua potente Camila do Folhetim. Jéssica já sente saudade da personagem que ficou com um gostinho de ‘quero mais’. “O maior desafio foi manter um personagem suspenso. Parei de gravar no início da pandemia, mas não acabou, não pude me despedir. Foi uma experiência nova”. E fala também sobre os sonhos como atriz. “Estou em um momento feliz da minha carreira. Tenho só 28 anos. Ainda não fiz minha piriguete, minha vilã. Tem muito caminho pela frente”, diz ela que ano passado esteve na lista ‘Under 30’ da Forbes, que reconhece pessoas com menos de 30 anos que tiveram maior destaque em várias áreas.

"Ainda não fiz minha piriguete, minha vilã. Tem muito caminho pela frente” (Foto: Gabriella Maria)

“Ainda não fiz minha piriguete, minha vilã. Tem muito caminho pela frente” (Foto: Gabriella Maria)

Um dos desejos realizados em ‘Macumbeira’ foi a parceria com a atriz Zezé Motta, que inclusive fez post hoje exaltando o trabalho de Jéssica. “Foi muito emocionante. Ela participa da música Pai Benedito, de Moacyr Luz, que ressalta a sabedoria ancestral dos Pretos-Velhos. Uma atriz veterana e rainha colocar a voz em um disco meu. Agradeci demais. E ela disse que era obrigação participar, imagina (risos). Tive crise de choro de gratidão. Ela foi tão acolhedora, colocamos tanto amor nele, que acho que vai chegar nas pessoas”.

Sobre a participação de Zezé Motta: "Tive crise de choro de gratidão. Ela foi tão acolhedora, colocamos tanto amor nele, que acho que vai chegar nas pessoas”. (Reprodução Instagram)

Sobre a participação de Zezé Motta: “Tive crise de choro de gratidão. Ela foi tão acolhedora, colocamos tanto amor nele, que acho que vai chegar nas pessoas”. (Reprodução Instagram)

Ela e o namorado, o também ator Dan Ferreira, se uniram ainda mais durante a pandemia e passaram boa parte do isolamento social juntos. “Para mim e para o Dan foi bem bom. Estava fazendo novela antes, ele se liberando (o ator também esteve em ‘Amor de Mãe’). Acabamos aprofundando a nossa relação. Estamos há mais de um ano juntos, mas parecem dez”, avalia. E divide: “Pensamos em casar, mas não agora, estamos muito novos. Depois deste EP querremos tirar férias. Estou há dois anos sem. Vou curtir e descansar um pouco, até o próximo trabalho”.

Jéssica e Dan Ferreira: “Pensamos em casar, mas não agora, estamos muito novos. Depois deste EP querremos tirar férias" (Reprodução)

Jéssica e Dan Ferreira: “Pensamos em casar, mas não agora, estamos muito novos. Depois deste EP querremos tirar férias” (Reprodução)