IZA: ‘É importante fincar os pés no chão e deixar claro que existe muita história por baixo das nossas tranças’


Para divulgar o single ‘Gueto’, a artista fará uma super live que será transmitida simultaneamente para vários locais do país na quinta-feira, 3. O show virtual terá projeções simultâneas em várias cidades do Brasil. IZA já adianta que o evento não será longo, pois quer minimizar o risco de aglomerações nos locais onde serão exibidos. Sobre se tornar mais politizada depois da homenagem da revista Time como uma das líderes da nova geração, IZA diz que ficou feliz, mas o seu papel será o mesmo: “Costumo dizer que eu, sozinha, já sou a ‘bandeira’. Estar sentada em um programa de horário nobre fala e passa uma mensagem firme, pois estou ali, ocupando um espaço”

*Com Bell Magalhães

A cantora IZA já começou os preparativos para ‘Gueto’, o seu próximo single. Na programação, uma mega live será realizada na quinta-feira, dia 3, às 21h. Um presente que IZA recebeu recentemente foi ser reconhecida pela revista  TIME como uma das líderes da nova geração. Aos 30 anos, a artista brasileira divide a seleção com jovens engajados em diversas causas sociais de países como Japão, Nigéria, Afeganistão e Estados Unidos, com destaque para o seu papel na luta contra o racismo. 

IZA fará live na quinta-feira (3) para o lançamento de 'Gueto' (Reprodução Instagram)

IZA fará live na quinta-feira (3) para o lançamento de ‘Gueto’ (Reprodução Instagram)

A revista disse, inclusive, que a “popstar usa o microfone como arma contra a discriminação”. IZA revela que se sentiu a mil por hora com a indicação: “Sou formada em comunicação e minha cabeça ‘explodiu’ com uma indicação dessas. Nós, artistas, dizemos que não trabalhamos para ganhar prêmios, mas é óbvio que quando recebemos um incentivo desses, mostrando que estamos no caminho certo, tudo muda. Me sinto abençoada e é muito importante nos sentirmos reconhecidos, principalmente em um momento em que é tão difícil fazer arte. Quando vemos que estamos firmes com o nosso objetivo, tudo muda de significado”.

Contudo, IZA diz que não quer que reconhecimentos como este sejam exceção. “Queria que as pessoas entendessem que não é legal ser exceção, ser a única. Não quero ser o primeiro lugar, mas, sim, abrir portas para pessoas que são incríveis, vetores musicais no país, que transformam e são potências artísticas, mas que não têm ainda visibilidade”, pontua.

"Não é legal ser exceção, ser a única. Não quero ser o primeiro lugar, quero abrir as portas para pessoas que são incríveis" (Reprodução Instagram)

“Não é legal ser exceção, ser a única. Não quero ser o primeiro lugar, quero abrir portas para pessoas que são incríveis” (Reprodução Instagram)

Sobre se tornar mais politizada depois da repercussão da TIME, a cantora dispara: “Costumo dizer que eu, sozinha, já sou a ‘bandeira’. Estar sentada em um programa de horário nobre fala e passa uma mensagem firme, pois estou ali, ocupando um espaço. Acabo abordando a questões do racismo e do preconceito porque eu vivi e fazem parte da vida de todos os brasileiros. Não posso fugir e seria hipocrisia da minha parte”, frisa, acrescentando: “Nós vamos continuar falando sobre os temas até o cenário mudar, mas não acredito que vou me tornar mais politizada. As minhas músicas já falam sobre um recorte social que vivo e é a realidade de muitas pessoas”.

"Estar sentada em um programa de horário nobre fala e passa uma mensagem firme pois estou ali, ocupando um espaço" (Foto: Rodolfo Magalhães)

“Estar sentada em um programa de horário nobre fala e passa uma mensagem firme, pois estou ali, ocupando um espaço” (Foto: Rodolfo Magalhães)

Seja nos ritmos ou nas letras, a ancestralidade é algo que está presente na vida da cantora. Ela diz que ‘não tem como falar para onde estou indo sem saber de onde vim’ e toca nas questões dos penteados e estilos de cabelo afro, muitas vezes criticados: “Nos perdemos no caminho se não sabemos de onde viemos. É importante fincar os nossos pés no chão, perto das nossas raízes, e deixar claro para as pessoas que existe muita história para contar por baixo das nossas tranças. É muito mais do que um estilo. Entendo que o nosso cabelo faz sucesso hoje, mas ele é parte integrante de quem nós somos e da nossa sobrevivência. Precisamos contar a nossa história”.

"É importante fincar os nossos pés no chão e deixar claro para as pessoas que existe muita história para contar por baixo das nossas tranças" (Reprodução Instagram)

“É importante fincar os nossos pés no chão e deixar claro para as pessoas que existe muita história para contar por baixo das nossas tranças” (Reprodução Instagram)

A falta de conhecimento e negacionismo histórico são barreiras que ela e muitos encontraram durante a vida. IZA critica o motivo da história negra brasileira não ser ensinada em sua totalidade em escolas e deseja que outros influenciadores joguem luz sobre o tema: “Não fazia ideia de que, para as mulheres escravizadas, as tranças serviam para esconder grãos de arroz e alimentar as crianças, por exemplo. Não aprendi isso na escola, mas por que não, se isso faz parte da história do meu país? Precisamos começar a contar já que não estão falando nada sobre isso. Acredito que as pessoas que têm visibilidade devem pensar o que elas podem fazer em prol da nossa sociedade”, diz.

"Acredito que as pessoas que têm visibilidade devem pensar o que elas podem fazer em prol da melhora da nossa sociedade" (Reprodução Instagram)

“Acredito que as pessoas que têm visibilidade devem pensar o que elas podem fazer em prol da melhora da nossa sociedade” (Reprodução Instagram)

Neste ano, IZA firmou uma parceria com a cervejaria Devassa com o projeto “Criatividade Tropical: Abre as Portas Para o Gueto”, que pretende buscar novos talentos que vão colaborar com a cantora na co-criação e gravação de uma composição para o novo projeto da marca. O trabalho será lançado até o final deste ano e, segundo Vanessa Brandão, diretora de marketing das marcas mainstream do grupo Heineken Brasil, a intenção do programa é ‘ressaltar a criatividade brasileira e o espírito transformador do nosso povo’: “A história da IZA retratada neste novo single foi uma inspiração para buscarmos mais talentos criativos ainda não descobertos pelos subúrbios do país”.

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A cantora, que bateu 1 bilhão de streams no Spotify com o disco ‘Dona de Mim’ há menos de um mês, foi eleita uma das 100 afrodescendentes mais influentes do mundo. Em 2020, fez uma parceria com o produtor norte-americano Maejor o single para a campanha  “Let me be the One”, da Unesco e Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). No mesmo ano, estreou no carnaval carioca como rainha de bateria da escola Imperatriz Leopoldinense, de Ramos, bairro vizinho a Olaria. Na ocasião, IZA ficou feliz e brincou com a oportunidade de representar a tradicional agremiação: “Não sei por que esse momento meu na Imperatriz não aconteceu antes. É uma honra poder ocupar um espaço desse numa escola que tem tanto a ver com a minha história”, disse.