*Com Bell Magalhães
A cantora IZA já começou os preparativos para ‘Gueto’, o seu próximo single. Na programação, uma mega live será realizada na quinta-feira, dia 3, às 21h. Um presente que IZA recebeu recentemente foi ser reconhecida pela revista TIME como uma das líderes da nova geração. Aos 30 anos, a artista brasileira divide a seleção com jovens engajados em diversas causas sociais de países como Japão, Nigéria, Afeganistão e Estados Unidos, com destaque para o seu papel na luta contra o racismo.
A revista disse, inclusive, que a “popstar usa o microfone como arma contra a discriminação”. IZA revela que se sentiu a mil por hora com a indicação: “Sou formada em comunicação e minha cabeça ‘explodiu’ com uma indicação dessas. Nós, artistas, dizemos que não trabalhamos para ganhar prêmios, mas é óbvio que quando recebemos um incentivo desses, mostrando que estamos no caminho certo, tudo muda. Me sinto abençoada e é muito importante nos sentirmos reconhecidos, principalmente em um momento em que é tão difícil fazer arte. Quando vemos que estamos firmes com o nosso objetivo, tudo muda de significado”.
Contudo, IZA diz que não quer que reconhecimentos como este sejam exceção. “Queria que as pessoas entendessem que não é legal ser exceção, ser a única. Não quero ser o primeiro lugar, mas, sim, abrir portas para pessoas que são incríveis, vetores musicais no país, que transformam e são potências artísticas, mas que não têm ainda visibilidade”, pontua.
Sobre se tornar mais politizada depois da repercussão da TIME, a cantora dispara: “Costumo dizer que eu, sozinha, já sou a ‘bandeira’. Estar sentada em um programa de horário nobre fala e passa uma mensagem firme, pois estou ali, ocupando um espaço. Acabo abordando a questões do racismo e do preconceito porque eu vivi e fazem parte da vida de todos os brasileiros. Não posso fugir e seria hipocrisia da minha parte”, frisa, acrescentando: “Nós vamos continuar falando sobre os temas até o cenário mudar, mas não acredito que vou me tornar mais politizada. As minhas músicas já falam sobre um recorte social que vivo e é a realidade de muitas pessoas”.
Seja nos ritmos ou nas letras, a ancestralidade é algo que está presente na vida da cantora. Ela diz que ‘não tem como falar para onde estou indo sem saber de onde vim’ e toca nas questões dos penteados e estilos de cabelo afro, muitas vezes criticados: “Nos perdemos no caminho se não sabemos de onde viemos. É importante fincar os nossos pés no chão, perto das nossas raízes, e deixar claro para as pessoas que existe muita história para contar por baixo das nossas tranças. É muito mais do que um estilo. Entendo que o nosso cabelo faz sucesso hoje, mas ele é parte integrante de quem nós somos e da nossa sobrevivência. Precisamos contar a nossa história”.
A falta de conhecimento e negacionismo histórico são barreiras que ela e muitos encontraram durante a vida. IZA critica o motivo da história negra brasileira não ser ensinada em sua totalidade em escolas e deseja que outros influenciadores joguem luz sobre o tema: “Não fazia ideia de que, para as mulheres escravizadas, as tranças serviam para esconder grãos de arroz e alimentar as crianças, por exemplo. Não aprendi isso na escola, mas por que não, se isso faz parte da história do meu país? Precisamos começar a contar já que não estão falando nada sobre isso. Acredito que as pessoas que têm visibilidade devem pensar o que elas podem fazer em prol da nossa sociedade”, diz.
Neste ano, IZA firmou uma parceria com a cervejaria Devassa com o projeto “Criatividade Tropical: Abre as Portas Para o Gueto”, que pretende buscar novos talentos que vão colaborar com a cantora na co-criação e gravação de uma composição para o novo projeto da marca. O trabalho será lançado até o final deste ano e, segundo Vanessa Brandão, diretora de marketing das marcas mainstream do grupo Heineken Brasil, a intenção do programa é ‘ressaltar a criatividade brasileira e o espírito transformador do nosso povo’: “A história da IZA retratada neste novo single foi uma inspiração para buscarmos mais talentos criativos ainda não descobertos pelos subúrbios do país”.
A cantora, que bateu 1 bilhão de streams no Spotify com o disco ‘Dona de Mim’ há menos de um mês, foi eleita uma das 100 afrodescendentes mais influentes do mundo. Em 2020, fez uma parceria com o produtor norte-americano Maejor o single para a campanha “Let me be the One”, da Unesco e Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). No mesmo ano, estreou no carnaval carioca como rainha de bateria da escola Imperatriz Leopoldinense, de Ramos, bairro vizinho a Olaria. Na ocasião, IZA ficou feliz e brincou com a oportunidade de representar a tradicional agremiação: “Não sei por que esse momento meu na Imperatriz não aconteceu antes. É uma honra poder ocupar um espaço desse numa escola que tem tanto a ver com a minha história”, disse.
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