Isabella Taviani celebra 20 anos de carreira, fala do mercado, do ataque aos direitos homoafetivos e da maternidade


A cantora e compositora lança seu novo single ‘Dois Babies e Uma casa de campo’ em todas as plataformas digitais, uma ode ao amor e às famílias homoafetivas, como a sua, formada pela mulher, a médica Myllena Varginha, com quem está há 13 anos, e teve os gêmeos Ignácio e Estevão, de 4 anos. Revisitando sua trajetória até aqui, Isabella fala sobre acompanhar os novos tempos na indústria fonográfica, sobre transparência em relação aos direitos autorais de reprodução nas plataformas de streaming, e a respeito das suas transformações como artista ao longo do tempo, e no momento. E também se emociona ao falar dos meninos: “Quero ser uma mãe que deixa um legado para eles, não apenas financeiro. Quero um legado como vida, que olhem para mim e digam: “Poxa, minha mãe foi muito maneira, batalhou muito, nunca esmoreceu”. Apesar de ter passado por muitas coisas injustas, de ter sofrido comparações absurdas neste trajeto, que nada tinham a ver com ela”

*Por Brunna Condini

Isabela Taviani vibra com suas duas décadas de trajetória profissional comemoradas em 2023. Isso quando abordamos a carreira na indústria fonográfica, porque quando falamos do início de tudo, podemos dizer que ele se deu bem antes, aos 18 anos, quando ela já cantava na noite. “Mas só tive a oportunidade de gravar um disco aos 33… Agora vivo mais um dos momentos chaves da minha carreira. Essa é a estrada da vida de uma cantora, que vive da sua exposição, do reconhecimento do público, se reinventar sempre”.  Aos 55 anos, a mãe dos gêmeos Ignácio e Estevão, de 4, frutos do seu casamento com a médica Myllena Varginha, só desacelerou da rotina dos palcos do nascimento dos meninos para cá. “Houve uma mudança muito grande na minha vida depois que eles chegaram. Percebi que não conseguiria imprimir o mesmo ritmo de trabalho por um bom tempo, porque é uma dedicação muito grande, total. Logo depois dos meninos, também veio a pandemia, então essa minha distância do trabalho ficou latente. Até lancei o EP ‘Máquina do Tempo‘ (2020), mas a turnê ficou adormecida. Agora achei que era hora de voltar”.

Neste movimento de reconexão com seu público, Isabella lança o single ‘Dois Babies e Uma casa de campo‘, em todas as plataformas digitais, e também faz shows nos dias 14 (esgotado) e 19 de dezembro no Teatro Rival, Centro do Rio. “Essa canção chega ao público justamente num momento em que tem gente na política tentando invalidar a oficialização das relações homoafetivas. Quero falar de todas as formas de famílias”, diz. “E nos shows do Rival, quero reencontrar o meu público, me reconectar da maneira mais simples e sincera: eu e meu violão. Vou revisitar minha história, essa atitude de cantora da noite, que foi como comecei. Abro para pedidos, conto muitas histórias. É um show dinâmico, dou ao público as canções que ele quer ouvir. É uma maneira de me religar à minha essência para seguir adiante”, analisa Isabella, que também conversa aqui sobre as transformações na indústria fonográfica e sobre os direitos autorais no mercado hoje.

Isabela Taviani celebra 20 anos de carreira, fala da indústria fonográfica hoje e da tentativa de retrocesso em relação às famílias homoafetivas (Foto: Jon Casabas)

Isabela Taviani celebra 20 anos de carreira, fala da indústria fonográfica hoje e da tentativa de retrocesso em relação às famílias homoafetivas (Foto: Jon Casabas)

Conhecida pelo grande público pelas canções românticas, a cantora e compositora comenta sobre a atitude de políticos dispondo de seu tempo para tentar retirar direitos já estabelecidos das famílias homoafetivas:

Amor é amor. Quem somos nós, simples humanos, para ficar julgando o que é certo ou errado para o outro? Falam tanto de pecado e cometem o maior ao julgar a relação entre pessoas que se amam e que tem o mesmo sexo. Quando eu olho para a minha família eu só vejo amor. Quando uma família homoafetiva tem um filho é porque o deseja muito – Isabella Taviani

E completa, referindo-se à votação que aconteceu há um mês, da Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara dos Deputados, que aprovou por 12 votos a 5, um projeto de lei que pretende proibir o casamento homoafetivo e a união estável entre pessoas do mesmo sexo e cria uma outra modalidade de união civil. Agora, o texto segue para as comissões dos Direitos Humanos e Constituição e Justiça da Câmara. “Chega, é muito retrocesso, ninguém vai frear o nosso amor e retirar nossos direitos adquiridos. São caras retrógrados, que não deveriam estar representando as pessoas, porque não respeitam a diversidade humana. Não tem nada errado com a minha família. Vou lutar por nós para sempre. Acredito que o bom senso vai prevalecer. É neste momento tão sério que quero falar tudo o que penso sobre o amor. Sem medo, com leveza, do jeito que gosto”.

Myllena Varginha e Isabella Taviani e seus filhos (Foto: Reprodução/ Instagram

Myllena Varginha e Isabella Taviani e seus filhos (Foto: Reprodução/ Instagram

Direitos autorais e novos tempos

“Hoje, o que chamamos de agregadoras, distribuem nossas músicas para as plataformas digitais, coisa que as gravadoras faziam em um passado recente. Essas plataformas recebem uma grana mensal e distribuem de acordo com o que aquela música foi reproduzida. Essas agregadoras ficam com a maior parte. A verdade é que não temos uma noção exata desse percentual, não temos conhecimento de uma aferição mais transparente. E hoje a forma de se consumir música é através das plataformas, poucas pessoas ainda escutam CD, então temos que nos adaptar”, discorre a cantora.

“O Uruguai, por exemplo, está brigando por isso, e pode ser o primeiro país que não tenha Spotify, já que o parlamento deles aprovou um projeto que altera as leis de direitos autorais por lá. Não estamos falando somente de autores, mas de músicos”, diz Isabella, sobre o projeto chamado ‘Rendición de Cuentas’, que obriga as empresas de streaming a darem uma remuneração justa e equitativa aos artistas, e também determina que eles têm o direito de receber uma compensação financeira caso as músicas sejam reproduzidas em redes sociais.

"Amor é amor. Quem somos nós, simples humanos, para ficar julgando o que é certo ou errado para o outro?" (Foto: Jon Casabas)

“Amor é amor. Quem somos nós, simples humanos, para ficar julgando o que é certo ou errado para o outro?” (Foto: Jon Casabas)

Tem muita coisa para mudar. Deveriam fazer uma campanha de esclarecimento à sociedade musical sobre como tudo isso se dá exatamente hoje. Antes, algumas gravadoras quase fecharam por conta da pirataria e tal…e agora estão com grana de novo…por que isso está acontecendo? De onde está vindo esse dinheiro? É muito louco, temos que pensar sobre essa engrenagem- Isabella Taviani

Os lançamento das músicas no formato de singles, sem estarem necessariamente amarradas entre si, tornou a obra do artista aparentemente mais perecível? “Essa já é uma realidade do modelo atual de se consumir música. Você não vai mais permanecer durante anos sendo trilha sonora, as músicas hoje são consumidas e digeridas mais rapidamente. Falo isso desde o processo de produção. Você grava um disco no estúdio de casa. Os processos são rápidos, então o esquecimento também. Sendo uma artista que sempre buscou um contexto para suas turnês, o desafio é dar identidade para as novas criações. Lembrando que, apesar dos novos tempos, as canções que não se perdem na vida de um artista são aquelas que são alicerces”.

E compartilha:

Com o digital, hoje estou num movimento também de buscar público novo. Indo além da minha zona de conforto. Não é uma tarefa fácil depois de tantos anos, é bem desafiador. Coloco música no Tik Tok e vem uma geração nova se comunicar comigo – Isabella Taviani

A cantora celebra 20 anos de carreira e reflete sobre o presente e o futuro na música (Foto: Reprodução/Instagram)

A cantora celebra 20 anos de carreira e reflete sobre o presente e o futuro na música (Foto: Reprodução/Instagram)

Reinvenção

Sabendo que os ciclos se renovam e precisam de novos significados aliados a eles, Isabella avalia a fase de celebrações e transformações. “Sinto que é mais um momento divisor de águas, até porque os ciclos vão se repetindo ao longo da carreira. Você alcança alguns cumes na sua trajetória e depois precisa se reinventar, e assim sucessivamente. Isso é viver. Um pouco antes dos meus filhos, já estava em um momento de ondulações, buscando o que eu queria dizer, o que faria sentido. Isso, somado à maternidade, com tantas transformações, só aprofundou essa reflexão. E veio pandemia, mudei duas vezes de empresário, porque não estava encontrado algo realmente assertivo para mim, então agora volto para a estrada devagar. Deixando as coisas fluírem. Hoje eu tenho essa calma para enxergar o todo, e ao mesmo tempo, muita força para que as coisas deem cada vez mais certo. E vão dar, porque não é só por mim agora, tenho minha família, meus filhos”.

E se emociona: “Quero ser uma mãe que deixa um legado para eles, não apenas financeiro. Quero um legado como vida, que olhem para mim e digam: “Poxa, minha mãe foi muito maneira, batalhou muito, nunca esmoreceu”. Apesar de ter passado por muitas coisas injustas, de ter sofrido comparações absurdas neste trajeto, que nada tinham a ver com ela”.

Permaneci, em pé, verdadeira, como sou. E vou continuar sendo assim. Quero que meus meninos tenham esse orgulho. E que daqui há muitos anos eles digam: “Minha mãe era uma puta artista, com uma coragem absurda”. Que isso fique marcado no coração deles – Isabella Taviani

Ela celebra sua trajetória e se reinventa para as novas gerações: "Quero deixar um legado para os meus filhos" (Foto: Reprodução/Instagram)

Ela celebra sua trajetória e se reinventa para as novas gerações: “Quero deixar um legado para os meus filhos” (Foto: Reprodução/Instagram)