Em junho deste ano, Janet Jackson foi coroada como o “ícone máximo” durante o BET Awards. Agora, nesta semana, a cantora de 49 anos reafirma sua força na indústria fonográfica, ao lançar seu novo álbum, “Unbreakable”, no topo da lista da Billboard. Mais do que isso, o feito consagra a irmã de Michael Jackson como a terceira mulher que mais alcançou #1’s na história, com sete discos a alcançar o posto (atrás apenas de Barbra Streisand, com 10, e Madonna, com oito), além de, ao lado de Barbra e Bruce Springsteen, ser uma dos três artistas no mundo a terem atravessado as últimas quatro décadas com lançamentos encabeçando as paradas de hits.
O feito alcançado por Janet merece destaque tanto pelo posicionamento artístico com o lançamento de “Unbreakable”, quanto pela estratégia de divulgação do álbum. Ao contrário de suas contemporâneas como Madonna, a artista não fez uma massiva rodada de entrevistas e capas de revista com a imprensa, baseando-se apenas no contato direto com os fãs através do Twitter e do Facebook para anunciar as novidades. A cantora também evitou, até o momento, performances televisivas dos singles “BURNITUP!” e “No Sleeep”, contando apenas com o videoclipe para a segunda faixa e o poder do boca a boca sobre sua atual turnê, que começou a rodar os Estados Unidos em agosto.
Janet Jackson – “No sleep” (Feat. J.Cole)
No aspecto musical, como já havíamos frisado aqui, Janet tem se mantido fiel às suas raízes de mesclar um som urbano com R&B, sem ter que se curvar a tendências como o EDM ou colaborações com nomes “quentes” do momento. Ao contrário, “Unbreakable” traz apenas duas parcerias, que sintetizam não só o poder da cantora como também se equiparam a ela em longevidade e status: os rappers Missy Elliott e J. Cole, em ambos os singles liberados até agora. O resultado é um som atemporal, como grande parte do catálogo de Ms. Jackson, e que ainda cumpre a sua função de atender ao público jovem.
Na lista de poucos produtores e compositores envolvidos no álbum, nomes como Dem Jointz, Jimmy Jam e Terry Lewis, conhecidos por trabalharem com o suprassumo do hip hop e do R&B, de Kendrick Lamar e Dr. Dre a Usher, são alguns dos responsáveis por manter a identidade de Janet ao longo de 17 faixas. Talvez o único erro na produção seja o de, por vezes, ocultar a voz da cantora com muitos efeitos, mais perceptível em “Dammn Baby”, o que não chega a ser uma necessidade, mas, sim, um capricho criativo que não passa de dispensável.
Em “Unbreakable”, a maioria das músicas chega para reafirmar o caráter transgressor e pioneiro de toda a carreira da artista, reafirmando seu status de ícone e sua força na indústria. A sensualidade que Janet também apresenta desde o início não se esconde em nenhum momento do disco, seja pelos sussurros ou por letras como a de “No sleeep”, com versos tipo “Sempre que nos encontrarmos, não conseguiremos dormir/ […] 48 horas de amor / Será uma maratona de fim de semana”. Em muitas vezes, ela pede por uma revolução do amor, e aceita o seu papel de porta-voz para tal acontecimento, vide “Shoulda Known Better”, onde ela se entrega à nostalgia do passado, mas sem saudosismos, como um amadurecimento sobre questões levantadas em 1989, no single “Rhythm Nation”. Por sinal, para um disco que reforça o quanto é indestrutível, são raros os momentos em que Janet Jackson soa perdida em reflexões do passado.
“Unbreakable” é, em todas estâncias, a declaração que o público e a mídia queriam de Janet Jackson desde que ela se recolheu após lançar “Discipline”, em 2008. Não é uma reflexão e nem um questionamento: o álbum é uma afirmativa sobre seu ponto de vista, a mensagem que ela quer passar com sua carreira e como, aos 59 anos, se sente a respeito de sexo, política, amor e fama (“After you fall”, por sinal, é o momento mais vulnerável dessa jornada sonora).
O recolhimento de Janet Jackson em entrevistas e imprensa não é simplesmente uma vontade de sumir dos holofotes. Como HT explicou à época do anúncio de seu retorno à cena musical, a cantora foi boicotada por quase todas as emissoras, estações de rádio e revistas do campo, logo após a sua performance no SuperBowl de 2004. Na ocasião, ela e Justin Timberlake apresentaram um medley de suas músicas e, ao final do show, eis que acontece um dos maiores erros de figurino da história: o cantor deveria retirar um pedaço da roupa de Janet, mas acabou expondo o seio da artista, o que muitos disseram ter sido planejado como uma estratégia de marketing, culpando-a pelo ocorrido e implementando o atraso de cinco segundos nas transmissões ao vivo, regra que permanece até hoje nas exibições de premiações e shows nos EUA. Hoje, mais de dez anos, parece que o jogo virou, não é mesmo?
Janet Jackson e Justin Timberlake @ Superbowl 2004
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