* Com Yuri Hildebrand
Como definir a atual cena do indie? A palavra pop certamente virá à cabeça. Com a entrada de sintetizadores e samples, a antiga noção de banda com bateria, baixo, guitarra(s) e vocal vem caindo. Teclados com pads, baterias variadas – incluindo a eletrônica –, guitarra alternando vez com baixo… As mudanças são significativas não só na formação da banda, mas, principalmente, no som. Nessa sexta-feira (27/3), véspera do primeiro dia do Lollapalooza Brasil 2015, dois grupos que se apresentarão no festival tiveram um aquecimento de luxo: tocando no Citibank Hall, em plena Cidade Maravilhosa. Bastille e Foster the People animaram o público carioca com seus maiores sucessos e transformaram a tradicional casa de shows em uma grande festa da música alternativa.
Primeiro foi a vez de os britânicos do Bastille, conhecidos majoritariamente pelo seu maior hit, “Pompeii”. A música só não foi a mais ouvida da terra da rainha em 2013, porque competia com “Get Lucky”, do Daft Punk em conjunto com Pharrell Williams – que, curiosamente, se apresentará no mesmo dia que o Foster the People no Lollapalooza, neste domingo. Deixando o melhor para o final, a banda liderada por Daniel Smith passou a limpo seu álbum de estreia, “Bad Blood” – que depois virou parte de “All this bad blood”, com faixas extras. O show começou em meio à entrada do público; muita gente ainda esperava na fila do lado de fora da casa. Portanto, alguns perderam a abertura, com “Bad Blood”. Logo de cara, a banda chamou atenção pelo timbre bastante pesado, devido a ausência de guitarra e a sobreposição das peles da bateria – acompanhadas pelo chiar dos pratos somente em algumas músicas.
Arriscando no português, Daniel lembrou até um Beatle ao provocar gritos histéricos da plateia – deve ser o charme britânico. Mas não foram só a elas que a banda aniomou. Com um hit que está presente no game FIFA13, eles também curtiram bastante a segunda música do show, “Weight of living, Part. 2”.
Com o público devidamente aquecido, o Bastille começou a ousar um pouco mais, como em “Overjoyed”: os quatro ficaram perfilados no palco, ao melhor estilo Kraftwerk, usando e abusando das batidas eletrônicas, mostrando uma boa mescla de ritmos pop com o peso da percussão. Depois, foi a vez de “Things we lost in the fire” levantar – ou melhor, incendiar – os ali presentes, que fizeram um coro que engoliu os vocais. A banda também tocou uma música “nova”, “Blame” – lançada há mais de um ano, estará no próximo álbum. Além dessas, os súditos da rainha ainda tocaram “No Angels” (mashup de ‘Angels‘, do The XX, e ‘No Scrubs‘, do TLC), “Icarus”, “The Draw”, “Of the night” (versão de ‘Rhythm of the night‘, quase um domínio público), entre outras. Fechando o show, é claro, “Pompeii”, com direito a coro do público e um “obrigado” em português puxado pelo sotaque – mas valeu pela simpatia. Hoje, já no Lolla 2015, o grupo se apresenta no último show em solo brasileiro da turnê.
Apesar do tradicional desgaste pós-show, não se podia perder a energia: Foster the People ainda estava por vir. A banda, natural de Los Angeles, é uma febre na cena indie. Desde seu primeiro CD – que já é relativamente “antigo” –, “Torches” (2011), destaca-se de outros nomes pela originalidade. Eduardo Cesario (19 anos), estudante de música e fã dos americanos, comentou justamente sobre seu som único: “Chegou com uma influência do pop, deixando de lado a ‘guitarra de garagem’ de outros tempos. É um grupo bastante gabaritado”. Victor Oliveira (19 anos), que estuda engenharia, elogiou bastante o estilo da banda: “É para todos os gostos! Mistura musicalidades diferentes com diversos outros tipos de arte, deixando o som bastante eclético”, completou.
A abertura do show foi repleta de maestria. Em show de luzes, psicodelia e sons, tocaram “Pseudologia Fantastica”, de seu último álbum, “Supermodel”. A música, que tem tempos bastante quebrados, lembra o estilo dos australianos do Tame Impala, mas com um toque de pop que só o Foster consegue fazer. Durante as passagens de uma música para a outra, destaque para a inversão de papéis: além dos três da banda, há músicos de apoio – e todos, sem exceção, tocam dois ou mais instrumentos durante o show. Foi assim que se iniciou “Houdini”, chegando a ter até duas baterias sendo tocadas ao mesmo tempo. O hit do novo álbum, “Best Friend” foi outra música bastante comemorada pelo público, que dançava sem parar – diferente do Bastille, o show dos americanos praticamente obriga a dança.
O frontman, Mark Foster, era só mais um que não parava em nenhum momento: com a guitarra em mãos, puxou “Helena Beat”, enquanto se divertia tanto quanto o público. Em “Waste”, fez-se um clima mais intimista, quebrado pelo refrão digno de coro. Mas o clima voltou em “Comming of age”, que tem uma das mais reflexivas letras do grupo. Apesar do ritmo dançante, foi o momento do show em que todos puderam respirar um pouco, assim como em “A beginner’s guide to destroying the moon”, em que Mark Foster prova toda a sua capacidade vocal alternando agudos e graves em questão de segundos.
Voltando para o clima de festa, “Are you what you want to be?” explodiu com muita dança e cantoria em seu refrão “chiclete”, e foi seguida por um animado improviso. “Call it what you want” foi outro hit tocado pela banda antes de voltar para um ritmo mais, digamos, suave, com “Nevermind”. Logo em seguida, uma sequência que certamente cansou bastante o público: “Pumped up kicks” e “Don’t Stop” fizeram todos os presentes darem o último gás na dança, até que eles dessem o até logo – voltariam para o BIS. Entretanto, dessa vez, Mark retornou sozinho com um violão, arriscando até uma bossa nova e puxando “Fire Escape”, enquanto os celulares – e isqueiros – balançavam no ar no ritmo da música. Clima de fim de festa? Que nada! O resto da banda ainda voltou para mais duas músicas: “The Truth”, com direito a novo solo das duas baterias tocando juntas – dando uma incrível sonoridade; e “Miss You”, com incrível show de luzes e coro da galera presente. Os americanos agora se preparam para o Lollapalooza, onde se apresentam no domingo junto a nomes como Pharrell Williams, Calvin Harris, Smashing Pumpkins, entre outros. Com esse show incrível, a promessa é grande para o festival.
Artigos relacionados