Talentoso, controverso e cheio de canções que embalaram toda uma geração, Wilson Simonal se tornou um mito nas décadas de 60 e 70. Na época, o cantor paulistano era de fato um dos grandes nomes da cena musical brasileira, onde, muito provavelmente, apenas Roberto Carlos assumiria o papel de antagonista na disputa do título de artista queridinho do país. E que atire a primeira pedra quem nunca se pegou cantarolando trechos de “Mamãe Passou Açúcar em Mim”, “Sá Marina” e “Nem Vem Que Não Tem” – clássicos que até hoje fazem a alegria dos ouvintes em rádios brasileiras. No entanto, apesar do grande sucesso, a sombria fase da Ditadura Militar desmistificou o astro que, durante muitos anos, se manteve adormecido na cultura do nosso país. Com essa riquíssima trajetória, o ator Ícaro Silva volta aos palcos para dar vida ao popstar no espetáculo “Show em Simonal”, que estreia no dia 12 agosto, no Teatro Leblon, na Sala Marília Pêra.
Depois de levar mais de 100 mil espectadores aos teatros brasileiros, “S’imbora – O Musical” retorna agora em uma versão renovada e muito mais intimista, que aproxima ainda mais o público do artista. Depois da elogiada atuação como Simonal, Ícaro volta ao papel, agora com o desafio de ser também o narrador da montagem. Em entrevista exclusiva ao HT, ele revelou detalhes da produção. “Eu não estou o tempo todo como personagem. O Ícaro também está ali. Na verdade é um hibrido entre nós dois. Além de cantar e interpretar eu ainda conto essa história. É um desafio, mas super bem-vindo, porque o nosso espetáculo é uma espécie de spinoff do musical, se é que a gente pode usar esse termo no teatro. É uma outra proposta, mas retirada da primeira montagem que fizemos. É um show que mistura a linguagem do musical e do teatro, no entanto, totalmente baseada na vida do Simonal”, revelou ele, dando dicas do que o público ainda pode esperar. “O repertório foi pensado para passar pelos maiores sucessos do antigo musical, e também pinçamos músicas que tenham mais empatia com o público. Uma novidade é a canção ‘Que Maravilha’, do Jorge Ben Jor, que também foi cantado pelo Simonal”, adiantou. No espetáculo, Aline Wielwy, Ariane Souza e Julia Gorman interpretam as Simonetes, famosas backing vocals que acompanhavam o astro.
Apesar da identificação imediata que teve com a história do cantor, Ícaro não conhecia muito do universo simonautico. Mas não demorou muito para que fosse fisgado por sua dualidade e representatividade na música popular brasileira. “Eu não conhecia muito bem, mas a partir do resgate dos filhos deles, que aconteceu pelos anos 2000, eu fiquei muito chocado em saber que ele foi o maior artista do Brasil e que 80% da população não o conhecia. É importante a gente resgatar a história do nosso país, ainda mais nesse momento em que temos intolerância com a população negra, mulheres, homossexuais e uma política suja e corrupta. Acho que a história do Simonal está muito ligada com o Brasil”, ressaltou ele, que apesar de negar ter sido alvo de racismo nas redes sociais, assim como Taís Araújo, Maju e Preta Gil, apontou o Brasil como um país racista. “Sim, o Brasil é misógino, homofóbico e racista. A gente tem uma cultura conservadora de moldes internacionais velhos. E isso basicamente não conecta com a realidade desse país. Estamos expostos o tempo inteiro a esses casos de preconceito na internet. Nós somos a nova cara do mundo. Somos um território onde Bolsonaros e Felicianos não cabem mais”, avaliou. “Apesar de já ter sofrido algum tipo de descriminação na vida, eu estou ileso nas redes sociais, mas quando atacam a Sheron Menezzes, a Taís Araújo e Maju, por exemplo, me fere para caramba”, lamentou.
Polêmicas à parte, Ícaro gosta mesmo é de trabalho. Sabe por quê? Além do “Show em Simonal”, o ator e cantor ainda segue escalado para interpretar Jair Rodrigues em “Elis”, filme dedicado a uma das maiores cantora do Brasil, além do longa “Anjos da Lapa”, em que conta a história de amizade entre os músicos Skunk e Marcelo D2 na icônica banda Planet Hemp, sucesso nos anos 90. Ao HT, Ícaro não escondeu o orgulho de participar de produções tão emblemáticas. “Jair foi um grande parceiro da Elis. Eles tiveram um programa que foi um sucesso absoluto na TV Record. Eu fui convidado através do musical da Elis, no qual eu também o interpretei e tive a privilégio de conhecê-lo. E ele abençoou o papel, e me disse: ‘você sou eu em 1965’. Foi uma grande honra”, comentou ele, que no longa sobre a famosa banda de rock, dará vida ao compositor Skunk. “O Planet é o grande simbolo, mas o filme na verdade fala sobre amizade. A época em que o D2 era o camelô no Centro do Rio e o Skunk um artista de rua. O Skunk era soropositivo nos anos 90, e naquela época a AIDS era sinônimo de morte. Para o pepel tive que perder alguns quilos e mergulhar de cabeça nessa discografia que eu já era fã”, comentou, falando sobre sua relação com D2. “Quando o Marcelo fala do Skunk, porque acabamos trocando ideias para o filme, ele vira outra pessoa e se emociona muito”, revelou.
E de fato, não tem como falar de Planet Hemp, sem transitar sobre as polêmicas prisões dos integrantes da banda, e da bandeira sobre a legalização da maconha. Sobre o assunto, Ícaro não se esquivou e garantiu não entender por que certas drogas se tronaram lícitas e outras não no Brasil. “Mais do que uma banda, o Planet foi um movimento social. Eu acho essa ‘polêmica’ uma grande desinformação. As pessoas não sabem muito bem do que se trata a maconha, o álcool e o cigarro. Mas se você pensar quantas pessoas morrem vítimas do álcool, e não estou falando de problemas de saúde, mas por acidentes de carro e pessoas que perdem o controle e cometem homicídios. Já sobre a maconha não há registro nessas ocasiões. Eu sou totalmente a favor da descriminalização, porque se trata apenas de uma erva assim como o tabaco”, avaliou o artista.
Com 18 anos de carreira, Ícaro Silva ficou muito conhecido do público jovem ao participar por cinco temporadas de “Malhação” (2003 – 2007), como o atrapalhado Rafa, que ao lado de Sérgio Hondjakoff, o eterno Cabeção, aprontava todas no Múltipla Escolha. Mas de uns anos para cá, a ator de 29 anos vem se dedicando a trabalhos que também despertem seu lado musical. Cantando ele se sente tão em casa, que já pensa em ingressar uma carreira de cantor. “Eu tenho uma relação com o canto que vem desde de criança. Toda a minha família é composta de artistas do coração. Há uns cinco anos eu decidi investir e sigo estudando a técnica. Até porque, fazer teatro musical exige muita responsabilidade”, ponderou. “Eu tenho vontade de seguir carreira, mas desde que possa ser algo muito novo. Em todos os setores da mídia, eu tenho analisado uma grande massificação e trabalhos superficiais que não me agradam nem um pouco”, adiantou ele.
E não pense que Ícaro fica por aqui. Além de tantos projetos, o ator ainda volta às telonas com o filme “Sob Pressão”, que relata o desafio diário de médicos que atuam em hospitais públicos do nosso país. “Eu sou um médico neurocirurgião que trabalha em um hospital sem qualquer recurso. É um longa que expõe esse crime que acontece todos os dias na nossa saúde pública”, contou ele, que ainda revelou o que viu durante o laboratório para compor o personagem. “A gente ainda vive em um país de coronéis. Michel Temer é um coronel. Temos um presidente golpista. São esses pequenos ratos que estão controlando toda uma população e não estão nem um pouco preocupados com nossas necessidades. Nos hospitais não existe assistência, tão pouco equipamentos. É uma situação desumana. Se você pensar que existem pessoas que estão desviando 23 milhões de reais do dinheiro público, sabe-se lá para que, e que isso poderia estar sendo investido em hospitais é revoltante. A revolução no Brasil ainda vem e eu acredito muito no poder dessa geração”, completou.
Serviço: ‘Show em Simonal’
Temporada: de 12 de agosto até 02 de outubro
Teatro Leblon (Sala Marília Pêra)
Rua Conde de Bernadotte 26 loja 104-B, Leblon
Tel.: 2529.7700
Quinta a sábado – 21h
Domingo – 20h
Preços:
Quintas – R$ 70,00
Sextas e domingos – R$ 80,00
Sábados – R$ 90,00
Artigos relacionados