Havena, do hit ‘Rainha do Pix’, rebate o machismo na sociedade: “Eu não sou um pedaço de carne”


Conheça a cantora goiana que saiu do sertanejo para o funk e que propõe uma revisão do papel da mulher dentro das relações. “Na maioria dos casos, nos relacionamentos, o homem só quer satisfazer a si próprio”, pontua. E ainda comenta, com pesar, os desafios dentro da indústria musical: “As pessoas acham que é mais fácil conseguir projeção por ser mulher, mas sempre sofremos com a questão de as pessoas quererem alguma coisa em troca. O mercado da música, artístico, pode ser um lugar muito sujo”

*Com Bell Magalhães

Direto de Goiânia, a cantora Havena emplacou recentemente a música “Rainha do Pix” e marca o começo de uma carreira que promete ganhar o coração do Brasil. Envolto pelas batidas inconfundíveis do funk, o single dá o start em uma nova fase depois de “Catucadinha”, lançada antes da pandemia, e que marcou a entrada da artista de 25 anos no pop. Essa não foi a primeira aposta de Havena na música. Antes do pop, cantava e compunha no meio sertanejo e chegou a se apresentar com Gusttavo Lima e Marília Mendonça. Por ser de Goiás, ela diz que acabou ‘caindo’ no ritmo e trabalhou com ele por um tempo: “Eu vim de outro segmento, mas desde pequena me vi cantando Beyoncé, Shakira e tudo mais (risos) e a minha raiz me prendia um pouco no sertanejo. “Catucadinha” deu a oportunidade de me lançar no pop”. 

Havena lançou “Rainha do Pix” (Divulgação)

O interesse pela musicalidade nasceu em família. Havena é prima do compositor Jairo Goes, conhecido pela parceria com cantores consagrados como Zeca Pagodinho, Daniel e Wesley Safadão. Além dele, a influência do gospel vinda dos pais a ajudaram a desenvolver essa habilidade, mas não eram tempos fáceis: “Como cresci em uma família tradicionalista, meus pais sempre falaram para eu estudar para ser teóloga, engenheira… Uma realidade que eles queriam para mim, mas eu, não. Hoje eles estão comigo e me apoiam na carreira que eu escolhi porque conhecem o meu caráter e sabem que a música que eu faço hoje e amo é profissional”, nos conta. Apesar de tudo, a cantora tem planos grandes para retribuí-los: “Um dos meus maiores sonhos é me realizar como artista, ter reconhecimento nacional e poder dar uma vida boa para os meus pais. Dar uma casa para a minha mãe, que sempre foi o sonho dela, e proporcionar tudo o que eles não podiam fazer por mim”. 

"Um dos meus maiores sonhos é me realizar como artista, ter reconhecimento nacional e poder dar uma vida boa para os meus pais" (Divulgação)

“Um dos meus maiores sonhos é me realizar como artista, ter reconhecimento nacional e poder dar uma vida boa para os meus pais” (Divulgação)

Por conta da repressão sofrida por parte da família, a compositora fala que o lançamento é muito mais que um recomeço – é um grito de liberdade: “Quando eu era mais nova, fui muito reprimida. Não podia falar, dançar ou usar roupas do meu gosto. Podem até pensar que escolhi esse ritmo porque está na moda, no ‘hype’ da galera, mas estou entregando uma verdade minha. Eu tenho a minha essência, então eu sempre tento mostrar a minha jornada nas minhas músicas”. E a essência é um ideal que a “Rainha do Pix” quer passar para o público. Havena diz que a música é uma alusão ao prazer da mulher e do empoderamento feminino: “A faixa fala da mulher ser dona de si e que ela também espera se satisfazer. Na maioria dos casos, nos relacionamentos, o homem só quer satisfazer a si próprio. É raro ver aquela coisa mútua, ainda mais nas relações de hoje que são todas sem sentimento, muito vazias”, analisa.

“Quando eu era mais nova, fui muito reprimida. Podem até pensar que escolhi esse ritmo porque está na moda, mas estou entregando uma verdade minha” (Divulgação)

O machismo não é exclusivo das relações amorosas – ele permeia todos os aspectos da sociedade. A artista conta que sofreu assédio na indústria das mais diversas formas, principalmente de quem se aproxima com algum interesse além do profissional: “As pessoas acham que é mais fácil conseguir projeção por ser mulher, mas sempre sofremos com a questão de as pessoas sempre querem alguma coisa em troca. O mercado da música, artístico, pode ser um lugar muito sujo. Fiquei enjoada de olhar para o meio, ver os homens querendo se aproveitar de mim”, no que acrescenta: “Existem pessoas profissionais, mas tem outras que são o contrário. Elas prometem oportunidade, mas no final só queriam ‘me pegar’ e não ajudariam em nada. Eu nunca me deixei levar por esse tipo de pessoa. Para mim, trabalho é algo muito sério”.

"As pessoas acham que é mais fácil conseguir projeção por ser mulher, mas sempre sofremos com a questão de as pessoas sempre querem alguma coisa em troca" (Divulgação)

“As pessoas acham que é mais fácil conseguir projeção por ser mulher, mas sempre sofremos com a questão de as pessoas sempre querem alguma coisa em troca” (Divulgação)

Havena não é só como a compositora se apresenta ao público. Jessika Havena, nome de batismo da cantora, ressalta que com o machismo e o preconceito da sociedade, deseja que a sua imagem pessoal esteja atrelada à carreira. “As pessoas entram no meu Instagram e veem essa mulher que dança e rebola, o que pode ser interpretado até como um pouco apelativo, mas esse é o meu personagem. O artista pop choca, ele é isso, mas eu tenho um outro lado: a ‘Jessika’, uma menina família, sonhadora, que ama e gosta da vida, da natureza e dos animais. É um contraste muito grande. Quando me conhecem pessoalmente, existe um choque porque veem aquele mulherão – não que eu não seja. Sou empoderada e poderosa! -, mas tenho o meu lado pessoal. Não sou um pedaço de carne. Sou um ser humano que ama e sente dor. A nossa sociedade é preconceituosa e machista, ainda mais com uma mulher que canta funk”, pontua.

Relacionamento, trabalho e novos horizontes

O responsável pelo sucesso profissional e romântico de Havena é Igor Ferreira, namorado e empresário da cantora. A goiana conta que o apoio de Igor foi essencial em sua carreira, principalmente pela cumplicidade e carinho no amor e no trabalho: “Ele apareceu na minha vida em um momento crucial e fez o que eu jamais imaginei que uma pessoa pudesse fazer por mim. Em outros relacionamentos, tive que terminar porque eles não deixavam eu viver o meu sonho. Se você não tiver uma pessoa do seu lado que soma, acredita no seu sonho e em você e te ama, não dá certo. Temos que pensar na gente, na nossa realização. Por mais que quando estamos com alguém nós vibramos pelos sonhos dele, não podemos deixar de nos amar e olhar as nossas vontades para viver apenas a vida da pessoa, senão deixamos de existir”, nos conta. Quase em uma declaração de amor, a cantora não poupa elogios ao parceiro: “Eu sou apaixonada por ele e por tudo que ele faz. O Igor sabe separar muito bem o pessoal do profissional, e tenho certeza de que fiz a escolha certa de estar com ele enquanto mulher e como artista”.

“O artista pop choca, ele é isso, mas eu tenho um outro lado: a ‘Jessika’, uma menina família, sonhadora, que ama e gosta da vida, da natureza e dos animais” (Divulgação)

E se engana quem pensa que Havena vai parar no funk. A compositora aposta em um projeto pop com um mix de ritmos como trap, pagode e reggaeton e mostra tal flexibilidade na mais recente parceria com o rapper Mano Fler em “Tá Correria Né”, pela Baguá Records. O que mais vem pela frente? “ É um caminho longo. “Rainha do Pix” foi o primeiro som que lançamos. As pessoas podem vir a pensar e me rotular como funkeira só por conta dessa música, mas não é só isso. Eu quero dar o melhor de mim. Uma Havena versátil, que vai englobar diversos públicos, que canta, dança, se entrega e está disposta a dar o nome”. Estamos esperando ansiosamente, Havena!