Aüslander Halloween Party, o badalo terrorífico-pop organizado por Ricardo Bräutigam, subiu de vida, ou melhor, de local. Depois de anos dando expediente no Clube Costa Brava, no Rio, dessa vez a festa se mudou de mala e cuia, com a sétima edição sendo realizada no mítico Castelo de Itaipava, neste final de semana (18 e 19/10), e com o bonde das assombrações fazendo a ponte rodoviária Parque dos Patins (Lagoa)-Serra Fluminense, se encarregando de levar as divertidas abominações Município de Petrópolis acima. É, já se foi a época em que a Cidade Imperial era pacata, local de veraneio da Família Real, que se refugiava das altas temperaturas cariocas por lá, levando toda a corte à tiracolo. Agora é tempo de internet e mídias sociais e, assim, a curiosa edificação em estilo renascentista normando – concebida por Lúcio Costa e Fernando Valentim para o Barão Smith de Vasconcelos em 1920– acaba concentrando a nobreza da rapaziada baladeira, que não abre mão de um visualzinho “Walking Dead” para se entregar aos prazeres da esbórnia e do open bar disponível no agito.
Naturalmente, em tempos de zumbis-celebridade, não faltaram mortos-vivos de todos os estilos, tanto daqueles que não abdicam de saborear carne fresca no pedaço, quanto do gênero indie-intelectual, mais afeito a consumir os cérebros privilegiados de gente que discursa Proust, mas que nem por isso deixa de ter seus atrativos físicos.
Havia vampiros, claro, mas eles estão em baixa, desde quando a turma animada descobriu que sai mais em conta pedir ajuda a um maquiador de caracterização amigo do que investir em capa de cetim e smoking. Além disso, o agito pede capricho e nem sempre dá para conseguir produzir canino fake a tempo, do tipo que convence. Dá muito trabalho trazer de Nova York e a outra solução é recorrer a um protético brother, mas quem tem um deles?!? Se “Drácula – A história nunca contada”, como o bonitão Luke Evans fazendo as vezes do empalador Conde Vlad, tivesse estreado duas semaninhas antes, talvez essa onda tivesse voltado à moda, mas o longa só comparece nas salas de exibição nessa próxima quinta-feira (23/10).
O fotógrafo Marcelo Faustini, que incorporou uma versão dark de um zumbi faceiro e contou com o dedicado apoio da maquiadora global Hanna Lima, é categórico: “Numa festa dessas, dá para ter zumbi cheiroso”. E, claro, usou e abusou do Instagram e do Facebook para imortalizar todo o processo que o transformou em uma repugnante criatura por toda a eternidade.
Mas, óbvio, havia de tudo: Pinguim do Batman (versão Tim Burton encorpado pelo próprio Ricardo Bräutigam, o Cadinho), acompanhado de Mulher-Gato e Batwoman, Branca de Neve zumbificada, crianças malditas, filhos de Chuck, netos de Damien – o anticristo –, Malévola alegrinha (com jeito de Heidi, a pequena órfã), maníaco marombado da peixeira, dupla de consciência boazinha e consciência má (alô, turma que produzia os “Looney Tunes” nos anos 1950, olha os royalties!), cowgirls “Toy Story”, marinheirinhas sapecas com pegada hentai, uma patota de serial killers demi-Dexter demi-pegáveis, caça-fantasmas, espectro feminino do além em corpo de homem, coelhinho tarado da Playboy, um sapinho fofo e até uma criatura (feminina, meu bem) que deve ser a mulher do Aquaman, já que tinha tridente (uy!).
Habituê do badado ano após ano, Luisa Scortegana optou por uma peruca loura e um nariz rosa, tipo clown, bem bonequinha, mas com figurino de pele glacial. Fetiche? Pode ser. Mas ela pode porque, na festa de 2011 ela já ganhou o mundo assumindo sua porção “O quinto elemento”. Mas, se a vibe é vestir pele para se proteger do frio da serra, bom, houve quem apostasse em warm bodies: um casal apaixonado que deve ter visto umas oito vezes no cinema “Meu namorado é um zumbi”. Mas quem não se apaixona pelo Nicholas Houdt? E, óbvio, tinha também pencas de zombie boys, de que tipo? Daquele que capricham no make para não precisar gastar no figurino. Walker a granel, meu amor!
E, claro, muito super heroi. Mutantes heroicos estão na moda, compõem o maior faturamento da Hollywood atual e, se o physique du rôle ajudar, ainda dá para sair da festa direto para a alcova do James Bond. Como sempre, Mulheres Maravilha, Poderosos Thor e He-Men dominaram a cena, mas HT oferece uma recompensa para descobrir quem era o Capitão América que deixou o escudo em casa e levou o pega-rapaz.
Fotos: J.D. Oliver / Coletivo Luna’ (Divulgação)
No frigir dos ovos, vampiro flertou com índio, afinal, o cavaleiro é solitário. E o duo de Freddy Krugers provou que o a cultura pop dos anos oitenta é puro amor. Mas, se a ideia é se zoar sem a menor preocupação com esquentar a cama de alguém após a festa, a melhor opção continua sendo arrumar emprestado um kanekalon colorido para pagar um mico amigo com a própria barba. Tipo bloco das piranhas.
E, assim como no Baile da Ilha Fiscal, o inventário de objetos estranhos encontrados foi grande. Há quem esteja procurando até agora dois pacotes de jujuba Jelly Belly. Bom, se HT encontrar, não entrega.
Na série de encontros inesperados, o Palhaço Assassino deu de cara com uma odalisca-ninja, e o Coringa era unha e carne com o Thor. Já o stylist e diretor de arte Breno Votto mostrou que não importa se vestir de unicórnio, no fim todos viram ursinhos carinhosos. Sim, havia amor por todos os lados e o álcool exalava deliciosas gotas de orvalho pelas paredes da pista, dentro do castelo. O louro Rafael Hansen, por exemplo, levou uma boa lambida na bochecha de uma noiva de Drácula. E a modelo Ruby Baker, que assumiu sua verve venenosa em figurino de enorme cogumelo, não se lembra bem como chegou em casa: “Ah, a festa tava ótima, mas não me recordo bem do final”. Hum, alguém tem o whatsapp do açougueiro assassino das fotos abaixo?
Fotos: J.D. Oliver / Coletivo Luna’ (Divulgação)
No mais, vale destacar que o Robin pode até virar uma morena de cabelos compridos, mas o Batman não vai gostar. Mas qualquer garota que se preza pode, sim, se vestir de melindrosa e avançar noite adentro no espírito Gatsby. 90% de chances da coisa descambar para o bom caminho. E, bem, é possível também esconder a imensa boca sob uma frondosa barba-e-bigode, sedosa como comercial da L’Oréal. Quem negaria que isso é argumento para despertar a curiosidade por aquilo que existe por baixo? Bom, não é à toa que até Madonna blondie ambition conseguiu pegar o Michael Jackson de “Thriller”.
Mas tudo que é bom acaba. Avançando pela manhã, é hora de pegar o chicotinho de couro e assumir a porção Tiazinha, mesmo que a Geração Z nem desconfie de quem seja essa criatura noventista. A esperança é não morre nem depois de o galo cantar. Confira abaixo as fotos da reta final da festa, já cedinho, quando o escuro da noite já se foi e vários gatos pardos se transformaram em lebres.
Fotos: J.D. Oliver / Coletivo Luna’ (Divulgação)
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