Grammy Awards: uma noite com loopings de tirar o fôlego e trechos de velocidade reduzida e quase tédio


Daft Punk foi o maior vencedor de prêmios deste ano, levando as estatuetas de álbum do ano e de música eletrônica, por “Random Access Memories”, e single do ano e performance pop de duo ou grupo por “Get Lucky”

* Por Junior de Paula

A 56ª edição do Grammy, a premiação mais importante do mundo da música, rolou nesse domingo, em Los Angeles, e ao fim, já quase três horas da manhã no horário brasileiro, a sensação que tínhamos foi de que entramos em uma montanha russa um tanto quanto surreal que misturava loopings daqueles de tirar o fôlego, com trechos de velocidade reduzida e quase tédio. Por sorte, nossa e do mundo da música, os loopings ganharam a disputa.

Principalmente se levarmos em conta que os grandes ganhadores de prêmios foram os nada óbvios Daft Punk, um duo francês mascarado que segue firme em apontar novos caminhos para a música, e Lorde, uma garota de apenas 17 anos da Nova Zelândia a e de aspecto sombrio, e os rappers Macklemore e Ryan Lewis, que ganharam o mundo defendo os homossexuais no ambiente sempre muito machista e hostil às diferenças do hip hop.

Mas a noite, antes de qualquer entrega de prêmio, já começou quente com Beyoncé em uma performance mais do que sexy de seu novo single Drunk in Love, com direito ao corpão de fora, biquíni cavado, dancinha na cadeira, cabelo molhado e a presença mais do que especial de seu marido, Jay Z, cantando e dançando com ela. Rolou até tapinha no bumbum. Nada mal para um casal que reúne nada menos que 34 gramofones de ouro na estante da casa.

Depois dessa injeção de sexy appeal, foi a hora de Lorde e sua esquisitice quase gótica cantar a maravilhosa Royals. Lorde,  aliás, do alto de seus 17 anos e batom preto foi, como já dissemos, uma das grandes vencedoras da noite, levando para casa dois Grammys:  um por canção do ano, com a mesma Royals, e outra por melhor performance de artista pop solo. Lorde, assim, entra para a história como a terceira artista mais jovem a ganhar um Grammy.

Katy Perry, que era uma das mais indicadas e saiu de lá de mãos abanando, errou no vestido Valentino que escolheu para o tapete vermelho, no penteado que parecia uma rosca e, para finalizar, na performance no palco do Staples Center, com a insossa Dark Horse, em uma cenografia que misturava um ar sombrio, com cavalos, fogos, dançarinos zumbis e uma roupa que acendia. Tudo errado, do início ao fim.

Ainda no quesito água parada, tivemos Robin Thicke + Chicago, que se esforçaram ao tentar um mashup de clássicos da banda clássica terminando com a onipresente Blurred Line de Thicke, mas que não deu liga; a sempre linda e sempre sem sal Taylor Swift ao piano, com uma inexplicável a bateção de cabelo, cantando com cara de brava sua canção All too Well; e a revelação country da temporadaKacey Musgraves, que levou pra casa o Grammy de álbum country do ano e fez uma apresentação sofrível com direito a cactos de neon e botas que acendiam (alô Gaby Amarantos!).

Na categoria Quase Lá, tivemos Pink + Nate Ruess cantando Try suspensa no ar fazendo acrobacias e depois, já no chão, com outra roupa, em dueto com Nate na bonita Just Give Me a Reason. Tudo muito bem, tudo muito bom, se a gente já não tivesse visto a cantora exibir seus dotes ginásticos outras três mil vezes.

Ringo Starr, apesar de ser um Beatle e já começar qualquer coisa com o jogo ganho, fez uma apresentação solo um tanto quanto burocrática da música Photograph, acompanhado de uma banda peso pesada, que incluía Peter Frampton.

Para os amantes da Country Music, um quarteto de ouro no palco, formado por Willie Nelson, Kris Kristofferson, Merle Haggard, Blake Shelton, cantando aquelas músicas que todos norte-americanos passaram a vida ouvindo, fez o coração acelerar. Era só olhar para a cara de felicidade da turma da primeira fila, como Beyoncé, Jay-Z, Katy Perry, Taylor Swift, Paul McCartney e Yoko Ono, só para citar alguns, balançando os ombrinhos ao som de HighwaymanOkie From Muskogee e outros.

E a noite, longuíssima por sinal, ainda tinha muita emoção para os corações musicais. Paul McCartney e Ringo Starr, os dois Beatles ainda vivos, com direito a Yoko Ono fazendo dancinhas exóticas e deliciosas ao lado de seu filho com John Lennon, Sean, na plateia, fizeram os mais sensíveis chorar ao cantar Queenie Eye, nova canção de Paul. Para completar, o número foi apresentado por uma mais linda do que nunca Julia Roberts.

Choro também foi o que mais se viu na apresentação do duo Macklemore e Ryan Lewis, vencedores na categoria revelação do ano + Madonna + Queen Latifah em um medley do lindo hino contra a homofobia Same Love e Open Your Heart, da rainha do pop, que entrou de terninho branco, chapéu e bengala, por conta de um acidente recente na pista de dança em uma estação de esqui na Suíça. No meio da canção, Queen Latifah casou 33 casais que estavam na plateia, com direito a buquê e vestido de noiva, de todos os gêneros e formações possíveis. Foi lindo e emocionante. Pergunta para o Keith Urban aos prantos no final, e Katy Perry agarrada a um buquê que ganhou de uma das noiva, pra entender melhor!

Sem deixar, claro, de lembrar das ótimas apresentações de Imagine Dragons + Kendrick Lamar, que cantaram com muito vigor e originalidade as versões de MAAD City e Radioactive, que fez Taylor Swift se levantar e dançar como se não houvesse amanhã. Metallica + Lang Lang, num surpreendente encontro de piano clássico com guitarra nervosa e o vocal rasgado de James Hetfield.

E, claro, a poderosa reunião de Nine Inch Nails, Queens Of The Stone Age, Dave Grohl, & Lindsey Buckingham para apresentar Copy of A e My God Is The Sun, encerrando a noite.

E por último, mas em primeiro lugar em qualquer lista de momentos memoráveis desta noite, o incrível número de Daft Punk + Stevie Wonder + Pharell Williams + Nile Rodgers que arrebentaram e não deixaram ninguém parado com um mashup arrasador que incluía Get LuckyHarder, Better, Faster, Stronger,  Le Freak! e Another Star.  Se já não bastasse ter feito história com a apresentação, Daft Punk ainda saiu de lá corado como o maior vencedor de prêmios deste ano, levando debaixo do braço os prêmios de  álbum do ano e álbum de música eletrônica por Random Access Memories, e single do ano e performance pop de duo ou grupo por Get Lucky.

Aqui tem a lista de todos os vencedores! Ano que vem tem mais!

 

Álbum do ano
Random Access Memories – Daft Punk

Melhor performance pop de duo ou dupla
Get Lucky – Daft Punk e Pharrell

Gravação do ano
Get Lucky– Daft Punk com Pharrell e Nile Rodgers

Melhor álbum de música eletrônica/dance
Random Access Memories – Daft Punk

Melhor engenharia de som de álbum não-clássico
Random Access Memories – Daft Punk

Canção do ano
Royals – Lorde

Melhor álbum vocal pop
Unorthodox Jukebox – Bruno Mars

Artista revelação Macklemore & Ryan Lewis

Melhor performance solo pop
Royals – Lorde

Melhor álbum instrumental pop
Steppin’ Out – Herb Alpert

Melhor álbum country
Same Trailer Different Park – Kacey Musgraves

Melhor canção de dance
Clarity – Zedd Featuring Foxes

Melhor álbum pop vocal tradicional
To Be Loved – Michael Bublé

Melhor performance de rock
Radioactive – Imagine Dragons

Melhor performance de metal
God Is Dead? – Black Sabbath

Melhor canção de rock
Cut Me Some Slack – Compositores: Dave Grohl, Paul McCartney, Krist Novoselic e Pat Smear (Paul McCartney, Dave Grohl, Krist Novoselic, Pat Smear)

Melhor álbum de rock
Celebration Day – Led Zeppelin

Melhor álbum de música alternativa
Modern Vampires Of The City – Vampire Weekend

Melhor clipe
Suit & Tie – Justin Timberlake e Jay Z

Melhor performance tradicional de R&B
Please Come Home – Gary Clark Jr.

Melhor canção de R&B
Pusher Love Girl – compositores: James Fauntleroy, Jerome Harmon, Timothy Mosley e Justin Timberlake (Justin Timberlake)

Melhor álbum urbano contemporâneo
Unapologetic – Rihanna

Melhor álbum de R&B
Girl On Fire – Alicia Keys

Melhor performance de rap
Thrift Shop – Macklemore & Ryan Lewis Featuring Wanz

Melhor colaboração de rap
Holy Grail – Jay Z Featuring Justin Timberlake

Melhor álbum latino de pop
Vida – Draco Rosa

Melhor álbum latino de rock, urbano ou alternativa
Treinta Días – La Santa Cecilia

Melhor álbum latino tropical
Pacific Mambo Orchestra – Pacific Mambo Orchestra

Melhor álbum de bluegrass
The Streets of Baltimore – Del McCoury Band

Melhor álbum de blues
Get Up! – Ben Harper com Charlie Musselwhite

Melhor álbum de folk
My Favorite Picture of You – Guy Clark

Melhor canção de rap
Thrift Shop – Compositores: Ben Haggerty & Ryan Lewis, (Macklemore & Ryan Lewis)

Melhor álbum de rap
The Heist – Macklemore & Ryan Lewis

Melhor performance solo country
Wagon Wheel – Darius Rucker

Melhor performance country em duo ou grupo
From This Valley – The Civil Wars

Melhor canção country
Merry Go ‘Round – Compositores: Shane McAnally, Kacey Musgraves & Josh Osborne (Kacey Musgraves)

Melhor álbum de reggae
Ziggy Marley in Concert – Ziggy Marley

Melhor álbum de world music
Savor Flamenco – Gispsy Kings Live: Singing For Peace Around The World – Ladysmith Black Mambazo

Melhor álbum de new age
Love’s River – Laura Sullivan

Melhor álbum improvisado de jazz
Orbits – Wayne Shorter

Melhor álbum vocal de jazz
Liquid Spirit – Gregory Porter

Melhor álbum de jazz instrumental
Money Jungle: Provocative In Blue – Terri Lyne Carrington

Melhor álbum conjunto de jazz
Night In Calisia – Randy Brecker, Wlodek Pawlik Trio & Kalisz Philharmonic

Melhor álbum latino de jazz
Song For Maura – Paquito D’Rivera And Trio Corrente

Melhor DVD de música
Live Kisses – Paul McCartney

Melhor trilha sonora para cinema
007 – Operação Skyfall – Thomas Newman

Melhor canção escrita para mídia visual
Skyfall – Adele, para “Skyfall”

* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura.