Funk na Gringa: Spotify divulga que, entre 200 músicas mais ouvidas em 51 países, funk é o gênero mais tocado


O site Heloisa Tolipan conversou com grandes nomes do gênero, como Ludmilla, Pocah, Kevin O Chris, Mc Taya, Mc ZAAC, Niack, PK, Lellê e Papatinho para entender o motivo pelo qual o ritmo brasileiro, ainda marginalizado, mudou muitas realidades de artistas brasileiros, embala as pistas mundo afora e bota geral para dançar e ‘sacudir a raba’. Vem saber!

A cantora Ludmilla em seu primeiro DVD Hello Mundo

*Por Rafael Moura

‘Quando solta essa daqui, ninguém fica parado
Desceu da favela pro asfalto
Quando o DJ solta o beat, o baile pega fogo
E sai dominando o mundo todo
Ôô, o funk chegou (respeita cara)’, como canta Ludmilla no hit ‘Favela chegou’, 2019, o funk chegou e rompeu as barreiras do Brasil. Lembrando que nos anos 90, a dupla Amilcka e Chocolate já cantava ‘É som de preto / De favelado / Mas quando toca ninguém fica parado’ e não fica mesmo. Afinal, o Spotify divulgou que, entre as 200 músicas mais ouvidas em 51 países, na plataforma, o funk é o gênero musical amado pelos gringos.

A cantora Ludmilla durante a gravação do DVD Hello Mundo (Foto: divulgação)

A cantora, compositora e empresária Ludmilla é a mais seguida do Brasil com mais de 22.800 mil só no Instagram e 6.79 milhões no Youtube. Ela emplacou 14 singles no top 100 da Billboard, mostrando que é uma artista completa e pronta para o ‘Hello Mundo’. Ah, Lud acaba de ganhar um novo título da plataforma digital, o TOP 10 Brasil, e nesse momento é a única mulher do funk que está entre as dez do país. “Brincadeiras à parte, eu creio que isso se deva a muita persistência do movimento. Os artistas do funk passam por muitas provações. Vocês não têm noção! Ainda não alcançamos todo o respeito que merecemos, mas tenho certeza que já rompemos muitas barreiras e estamos conquistando cada vez mais nosso espaço”, revela.

As cinco divas  MC Carol de Niterói, Tati Quebra Barraco, Ludmilla, Valesca Popozuda, e MC Kátia A Fiel

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A diva usa sua força para impulsionar outros artistas e valorizar suas ‘mestras’, por isso, seu mais recente sucesso, ‘Rainha da Favela’, trouxe quatro ‘mulherões da pourra’, desbravadoras do movimento – Tati Quebra Barraco, Valesca Popozuda, MC Carol de Niterói e MC Kátia A Fiel, proprorcionando a sororidade para a cena. “Ah! Eu fiquei muito feliz em poder fazer essa reunião. Elas são verdadeiros ícones, mulheres precursoras dentro do funk, rainhas mesmo. Espero que o público tenha ficado tão feliz quanto nós em poder fazer esse trabalho juntas. Eu quis mostrar para a minha geração quem chegou antes de mim e abriu muitas portas pra que eu fosse a Ludmilla de hoje”, agradece. Esse sucesso da artista é mais uma prova que o funk ultrapassa barreiras e pode mudar a vida de muita gente. Se hoje o funk é o gênero mais ouvido no Brasil e lá fora, é prova que ninguém pode parar a música de favela. ‘Respeita Cara’!

“Ninguém consegue ficar parado quando toca o batidão”, brinca Pocah (Foto: Rodolfo Magalhães)

Para a Pocah, um dos maiores nomes do funk no país que emplaca um sucesso atrás do outro e tem uma média de 1.829.076 ouvintes mensais na plataforma, o funk é um sucesso por o ritmo contagiar. “Ninguém consegue ficar parado quando toca o batidão. Ele vai tomando o nosso corpo e é uma felicidade só. É uma delícia ver esse sucesso e reconhecimento do movimento, e devemos tudo isso aos que vieram antes de nós”.

Kevin O Chris na gravação do DVD – Todo Mundo Ama o Chris, no Rio de Janeiro (Foto: Daniel Pinheiro/ AgNews)

Kevin O Chris, que acaba de gravar um super DVD, na Cidades das Artes, aqui no Rio, nos conta que é uma imensa felicidade. “Pô, temos muitos artistas brabos agora. A produção ‘evoluiu’ muito, rs. Faço um som com ritmos diferentes, e os gringos tão se ‘amarrando’. A gente mostrou que consegue juntar vários estilos diferentes, assim como muitos artistas fazem lá fora. Agora, eles querem conhecer a nossa realidade, a nossa cultura. Funk é cultura”. A neodiva Lellê nos conta que o sucesso é mais do que merecido. “O funk pra mim sempre foi um fenômeno brasileiro, o ritmo mais impactante e que move muitas pessoas. Graças a muitos artistas que dedicam a sua vida pelo funk que chegou onde chegou”.

“O funk pra mim sempre foi um fenômeno brasileiro, o ritmo mais impactante e que move muitas pessoas”, diz Lellê

O funkeiro Pedro Henrique Bendia, mais conhecido como PK, explica que o ritmo que mostra a realidade das periferias do nosso país e tem uma batida muito envolvente, que faz todo mundo dançar. “Não importa a vertente, funk é um ritmo que passa a verdade, e acredito que isso chame a atenção de muitas pessoas. Eu fico muito feliz de ver um gênero que ainda é muito marginalizado estar quebrando barreiras e sendo ouvido no mundo todo”. O hitmaker MC ZAAC acredita que a música em si é algo que quebra barreiras naturalmente. “Sinto que as pessoas de fora do país acabam se envolvendo com as batidas que trazemos no funk: dançante e envolvente. É algo que quando toca nas baladas e festas, ninguém consegue ficar parado. Também temos grandes artistas do gênero que, assim como eu, estão usando sua voz e influência para levar o funk para o mundo todo”.

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Como apenas 17 anos, o MC Niack, encarou a depressão e chegou ao topo das paradas de sucesso. O jovem, de Ribeirão Preto, nos conta que esse sucesso do gênero se deve a sua batida. “Os beats são fortes, dançantes e seguem uma linguagem universal. Fácil de agradar os gringos”. “O Funk é o futuro”, frisa Mc Taya, acrescentando: “Todos nós sabemos que a música e arte brasileira sempre foram muito consumidas por músicos e pessoas do mundo todo. Bossa nova e samba são gêneros conhecidos e enaltecidos globalmente. O funk carioca (que agora já virou funk brasileiro) está se tornando um fenômeno musical cada vez mais forte, assim que o hip hop vem crescendo e a internet vem globalizando e tornando o mundo menor. O funk é um primo distante do hip hop, a partir do momento que passamos a fazê-lo extraído do Miami Bass e o brasileiro soube incorporar muita brasilidade e criatividade vindo da periferia. Temos o tamborzão, o berimbau, a ‘macumbinha’ e todas as inspirações das religiões de matrizes africanas brasileiras. Além dos MCs e suas produções, a dança é um grande elemento do funk, o que faz com que esse gênero seja disseminado cada vez mais”.

“Além dos MCs, as produções, a dança são grandes elementos do funk, o que faz com que esse gênero seja disseminado cada vez mais”, diz Mc Taya

O produtor e beatmaker Papatinho nos conta que o funk tem um poder de fazer qualquer pessoa reagir de alguma maneira e é muito interessante. “As pessoas no mundo veem o funk brasileiro como um ritmo envolvente e de sucesso. Sempre que eu faço sessões fora do país, deixo meu kit preparado de tambores e percussões de funk e eu sempre tento botar uma pitadinha disso nas produções, o que agrada muito aos gringos. O Will.I.Am, do Black Eyed Peas, por exemplo, quando veio pro Rock in Rio a gente se conheceu e acabou fazendo várias músicas. Ele ficou doido com o funk”. Assim como o rap também é marginalizado, vende bilhões e é o maior gênero musical da indústria hoje, o funk não é diferente: ” É som de preto, de favelado mas quando toca ninguém fica parado!”.

“Eles veem o funk brasileiro como um ritmo brasileiro envolvente e de sucesso”, conta DJ Papatinho