Freestyle invade o Imperator com Batalha do Real e participantes que viram na cultura hip-hop uma maneira de se expressar através das rimas


Nicole Nandes, a rainha do hip hop do Rio, contou, em primeira pessoa, com exlusivdade para o site HT: “Mesmo pra quem não era do rap, era hipnotizante ver como eles conseguiam, em 45 segundos, criar letras, situações, para ‘’derrubar’’ o seu oponente”

*Por Nicole Nandes

“Abre a roda do freestyle, eu quero ver quem manda no baile”, foi sob esse coro, na voz de alguns jovens amantes do rap, há 13 anos, que nascia, na Lapa, embaixo dos Arcos, uma das manifestações culturais que mudariam a vida de muitos que ali estavam, por meio da rima e do amor ao hip-hop. A gente – sim, eu estava lá, “pode perguntar pro Aori”, reunia-se pra ouvir e ver os improvisos dos MCs que estavam começando na época.

Batalha do Real no Imperator (Foto: Henrique Madeira)

Batalha do Real no Imperator (Foto: Henrique Madeira)

Mesmo pra quem não era do rap, era hipnotizante ver como eles conseguiam, em 45 segundos, criar letras, situações, para ‘’derrubar’’ o seu oponente. Muitos bons MCs começaram ali, na Lapa, e batalhando. Nomes como Marechal, Maomé, da Cone Crew Diretoria, e Ret, hoje reconhecidos nacionalmente, e que influenciam e inspiram a nova geração de rimadores. Pra ver a importância da Batalha do Real, é só assistir ao clipe “Quem tava lá”, quando o Marechal se orgulha de ter ficado, invicto, em seis batalhas, até chegar a São Paulo e vencer a Liga dos MCs, evento que foi inspirado na nossa Batalha do Real. Pode perguntar pro Aori!

No inicio das comemorações dos 13 anos da Batalha do Real, na última quarta-feira, em um Imperator impecável de cenário, som e estrutura, isso ficou evidente. A nova geração, que em tempos de internet, tem mais facilidades para produzir e gravar, estava lá em peso, lotando a casa, reconhecendo e batendo continência pra nossa geração, de MCs como Funkero e Marechal, que começaram tudo isso e fazendo bonito na platéia e palco.

Me senti na rua e na Lapa de 2003. E vi rostinhos e posturas ali de MCs que, caso se dediquem, como estavam fazendo, vão longe. É o exemplo do grande vencedor da noite, o MC Xan, do Grajaú, que, com apenas 21 anos, tem a inteligência de quem se inspira, estuda e bebe nas fontes certas, a começar pelos seus ídolos, Racionais, Marechal e MV Bill. Outro querido da galera, menino Pelé, que tem nas rimas a sagacidade e a malandragem tipicas de um garoto de 17 anos, cria de São Gonçalo, levou o segundo lugar.

Participantes tentam vencer uns aos outros através de rimas ((Foto: Henrique Madeira)

Participantes tentam vencer uns aos outros através de rimas ((Foto: Henrique Madeira)

E ainda pude ver uma grande representante das mulheres e da bandeira LGBT, Natalhão, firme no palco, nas idéias e na seriedade. Como ela mesmo diz, naquele palco, ela teve que provar ali ser duas vezes melhor que eles. É uma coisa linda de se ver num cenário dominado por homens e que escorrega, às vezes, num machismo, cultural, que nem eles sabem como reverter. Mas querem. A prova foi ela ter perdido e saído como campeã por muitos na sua batalha com o Pelé.

Até a sua grande final no berço do hip-hop, Lapa, a tradicional Batalha do Real seguirá por lonas de Jacarepaguá, Madureira e Penha. Os 16 participantes vêm do subúrbio e da Zona Norte. E isso, sim, é o hip-hop, que leva cultura para áreas menos favorecidas, reconhece bons frutos da sua raiz e salva vidas. Novos ídolos, com certeza, irão surgir daí, pode apostar. Então, se eu fosse você, corria em alguma edição para assistir. Me diz quem tava lá.

A casa estava lotada para receber os competidores (Foto: Henrique Madeira)

A casa estava lotada para receber os competidores (Foto: Henrique Madeira)