*Com Yuri Hildebrand
No início de ano mais quente dos últimos tempos, a Cidade Maravilhosa procura alternativas para aguentar seu calor insuportável. O FARM Picolé, festival organizado pela loja de roupas queridinha das cariocas em parceria com o Circo Voador, vem dando suas cartas com piscina, chuva artificial e, claro, muito picolé, como o nome já sugere. Além de refrescar o público, o evento apresenta muitas novidades artísticas, desde o troca-troca de peças da marca aos shows de bandas que ainda não ganharam o espaço merecido nas mídias tradicionais, como Boogarins, O Terno, Juçara Marçal, entre outros. Na noite desta quinta (22/1), a galera que apareceu pela Lapa pôde conferir a apresentação de curtas do Cineclube Sofá Verde, os shows de Gustavo Galo, da banda Holger, e de um dos nomes que mais cresce no Brasil e fez seu primeiro show no Rio de Janeiro, Russo Passapusso.
É fácil perceber que as roupas da loja, por si só, já representam seu público. A jovem carioca da Zona Sul tem seu estilo próprio, mais leve e com o toque único que só quem vive no Rio de Janeiro conhece e a FARM é uma das marcas responsáveis por esse tipo de look acoplado ao lifestyle. Mas, quem pensa que o público foi formado basicamente pelas jovens que curtem a marca, está enganado: muitos grupos de amigos se encontravam na festa, seja para curtir os shows ou “contemplar as farmetes”, como disse Vinícius “Bolinho”. Ele e seus amigos, Thomás Meira e Márcio Nunes, estavam lá para prestigiar o amigo e comunicador do Circo Voador, o carismático “Lencinho”. “Ser jovem é ser Lencinho!”, brincou Thomás, que também enalteceu a casa: “Essa lona é a certeza de que a juventude do Rio de Janeiro não morreu. Mesmo com chuva estamos aqui, pela vontade de ser jovem!”.
Às 20h, a chuva caía forte no Rio de Janeiro, finalmente. No espaço coberto logo ao lado do Bar do Circo, os presentes se aconchegavam para ver a apresentação do Cineclube Sofá Verde. Com curtas sobre variados assuntos, o projeto de Porto Alegre trouxe um pouco da arte audiovisual para a Lona mais famosa da Lapa. Durante a apresentação, a DJ Lili Prohmann, da Rádio Disritmia, mantinha o público animado, com músicas variadas, indo de Criolo a Novos Baianos, além de tocar algumas internacionais que fazem sucesso na Rádio FARM. O som foi rolando até que Lencinho tomou o microfone, chamando Gustavo Galo, o primeiro músico da noite
Com um som bem diferenciado, lembrando um pouco os cariocas do Choque do Magriça em seus ritmos dançantes, o músico de São Paulo começou o show com “Tomara”, de disco de lançamento da carreira solo de Galo, “ASA”. A guitarra no clean e o baixo estalado dão o toque indie rock à banda, que tocou músicas como “Eu te amei como pude (feito gente)” e “Seresta”, com destaque para os versos intimistas e bem trabalhados do artista. O ponto alto se deu quando o músico e compositor ficou sozinho no palco e, junto de seu violão, tocou “Cama” – que tem inclusive um videoclipe produzido por Gustavo Ruiz e Tatá Aeroplano –, evidenciando o estilo sentimental de seu projeto solo, bem mais melódico que seu grupo, Trupe Chá de Boldo. Rolaram também as participações de Iara Rennó e Ava Rocha, compositoras e amigas de Galo, além de homenagem a José Paes de Lyra com “Ah, se não fosse o amor”.
Ao fim do espetáculo, Lencinho puxou os aplausos para os músicos e fez o público ansiar pela segunda atração: a banda Holger. Também de São Paulo, o grupo vem crescendo abruptamente no cenário nacional, além de estar dominando as emissoras do gênero com músicas como “Café Preto” e “Trapaça”. Com seu diferencial na percussão e nos pads eletrônicos cujo próprio percussionista toca, a banda mostra uma pegada voltada para o indie, mas com um importante toque brasilis, dado também pelas guitarras limpas e pelo reverb acentuado. Outro destaque do grupo é a troca de instrumentos: na primeira canção, o vocalista faz o papel do percussionista, por exemplo. Continuando com o som experimental, tocaram tanto músicas do último álbum – que os lançou de vez no mercado – quanto de seus antecessores: “Ilhabela”, “Tonificando”, “Preguiça”, entre outros trabalhos. Enaltecendo a vibe carioca, Tché – vocalista, guitarrista, etc. – agradeceu a presença do público: “É muito bom que vocês vieram, mesmo com a chuva!”, disse antes de fechar o show com “Infinita Tamoios”. Com pedidos de “mais um”, voltaram para tocar “Treta” e – aí sim –, fechar a participação na FARM Picolé.
Entre os presentes para prestigiar o evento, era possível distinguir o lendário BNegão, ex-Planet Hemp. O rapper falou ao HT sobre a apresentação que estava por vir: “O Russo (Passapusso) é um dos caras que mais fazem a diferença no cenário da música brasileira. Em Salvador, lota qualquer casa de shows. Não é tão conhecido fora da Bahia e de São Paulo, mas agora está chegando ao Rio de Janeiro e vai surpreender”, profetizou. BNegão falou também sobre a expectativa para o show que fará amanhã junto do Autoramas no Rider Weekends, reeditando uma parceria que já deu certo outras vezes, inclusive no Rock In Rio (2013). “Vai ser um showzão, vamos meter bronca!”, prometeu o cara, convocando a galera também para o show que fará com o Seletores de Frequência no CCBB dia 31 deste mês.
Começada a última atração da noite, Russo Passapusso, como todo bom músico baiano, mostrou ao que veio e fez o público sair da Lapa com um sorriso estampado no rosto. Com melodias de altíssima qualidade e vertentes variadas, apresentou seu álbum “Paraíso da Miragem” na íntegra: primeiro, “Paraquedas”, seguida por “Remédio” e “Flor de Plástico”. O compositor baiano tem em seu som o toque do nordeste mesclado a inspirações de outros cantos do país – o frevo e o samba também aparecem em seu trabalho, como nas músicas “Sapato”, “Sangue do Brasil” e “Matuto”. Animando ainda mais a festa – o público nem pensava em cansaço ou afins –, BNegão subiu ao palco para dar uma palinha em “Autodidata”, música com participação de Fael Primeiro. O rapper ainda voltou para o BIS da banda, mesclando a sua música com “Paraquedas” e encerrando mais um dia da festa FARM Picolé, que volta na próxima quinta-feira (29/1) com apresentações de mais novidades do cenário musical.
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