*Por Rafael Moura
Afeto, amor e humanidade são três sentimentos que permeiam o novo single e clipe ‘Bom Mesmo é Estar Debaixo D’água’ da cantora Luedji Luna e também o álbum da artista que será lançado ainda em outubro. Em dias já quentes, a faixa traz uma sensação de refresco, além de sinônimo de renovação. Luedji gravou o clipe, com direção de Joyce Prado, em uma praia deserta, ainda estava grávida do pequeno Dayo. “Poder falar de amor é uma maneira de reconstruir a humanidade que nos foi negada ao longo da nossa existência”, reflete a cantora baiana, acrescentando: “Ser uma mulher negra é uma condição imutável para mim, o mundo é que tem que mudar. É claro que todas as opressões que sofri atravessam meu corpo e existência, mas minha música não nasce de uma pauta específica, a serviço de uma bandeira. Não trago essa narrativa da mulher negra pobre, sem família, que passou fome, essa não é a minha história. E acho importante falar isso para mostrar que existe a pluralidade de narrativas entre o povo negro. Minha música é mais do que resposta a uma violência específica, eu gosto da poesia”, enfatiza.
Luedji traz em sua essência uma sinergia de uma arte ativista com um forte viés político, afinal foi nesse contexto social em que ela nasceu musicalmente. “Eu prefiro seguir outros caminhos mais poéticos. Desde que o mundo é mundo, o machismo e o racismo estão aí, mas eu continua aqui existindo e resistindo. É claro que ser uma mulher negra com voz é uma responsabilidade grande, sim, mas ser adulto é isso, né? É assumir, ter responsabilidade”, pontua.
A faixa, que traz uma doce energia, é uma composição em conjunto de Luedji com o cantor e letrista François Muleka, paulistano de ascendência congolesa. Natural de Salvador, atualmente, residente em São Paulo (SP), ela gravou parte do disco no Quênia, na África, mas finalizou o álbum aqui no Brasil, onde deu à luz, em julho, ao primeiro filho, Dayo. Esse novo trabalho sucede o ‘EP Mundo‘ (2019), disco com remixes de faixas do primeiro álbum da artista, ‘Corpo no Mundo‘ (2017).
Filha de pai historiador e mãe economista e integrantes do movimento negro, Luna que estudou Direito. Sua meta era ocupar os espaços de poder, que durante séculos foi negados ao povo negro na História do Brasil. A música só surgiu aos 25 anos, após receber o diploma, que foi engavetado para conquistar o país com a sua arte. “Eu neguei a música por tanto tempo porque eu não me via possível. Eu tinha poucas referências de compositoras pretas com visibilidade e sucesso no Brasil, vim de uma família que não era de artistas, não tinha nenhuma referência em casa. Para mim sempre foi algo restrito ao campo dos sonhos”, conta.
Para a artista essa entrada ‘tardia’ na música foi positiva, porque ela entendia exatamente a sua essência, qual seria a sua voz. “Eu já não era mais novinha, não estava mais experimentando a vida, não tinha tempo a perder. Por outro lado, passei um longo período distante do meu caminho, perdi saúde, contentamento, mas agora eu estou bem”, diz.
Em meio a pandemia, a cantora Luedji Luna, deu à luz ao seu primeiro filho, no dia 24 de julho, a Dayo, nome que, em iorubá, significa ‘chegou a alegria’. O rapper Zudizilla, pai da criança, comemorou a chegada do filhote segurando o bebê e postando a legenda. ‘A alegria chegou! Deus mantém minha vida!’. A cena foi captada com Luedji ainda no hospital. ‘Pode me chamar de Mufasa’, ainda brincou o papai em referência ao filme “Rei Leão”.
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