Fagner reúne sucessos de seus 42 anos de carreira em show e fala sobre o atual momento político do país: “Golpe foi o que eles fizeram com o Brasil”


Cantor, que se apresenta nesta sexta-feira, no Teatro Bradesco, no Rio, ainda ressaltou a importância dos artistas do Nordeste em solo verde e amarelo: “Ainda me arrisco em dizer que a cultura brasileira não resistiria sem a nordestina de uma maneira geral”

Já se passaram 42 anos desde que Fagner ganhou o Brasil com seu álbum de estreia, batizado de “Manera Fru Fru”. De lá para cá, o cantor cearense se tornou um dos artistas mais respeitados da nossa música popular brasileira, emplacando hits que marcaram, não só época, mas também diversas gerações. E o segredo para tanto sucesso talvez esteja mesmo na qualidade dos arranjos ou na profunda poesia de suas canções que flertam diretamente com as relações interpessoais, questões sociais e, principalmente, o amor. Agora, para o próprio artista, além da qualidade de seu som, ele dá crédito mesmo para as escolhas assertivas de suas parcerias na hora de compôr uma nova toada. E, para coroar essas quatro décadas dedicadas à MPB, o artista reuniu a nata de seu repertório para montar o aclamado show que já rodou o Brasil e chega nesta sexta-feira, ao Rio de Janeiro, no Teatro Bradesco, às 21h.

Cantor se apresenta no Rio nesta sexta-feira (Foto: Divulgação)

Cantor se apresenta no Rio nesta sexta-feira (Foto: Divulgação)

Em entrevista exclusiva ao HT, Raimundo Fagner contou sobre a expectativa para a apresentação, que promete tocar o coração dos cariocas e do próprio cantor. “Noventa por cento das músicas do roteiro são composições bem conhecidas das pessoas. O show é enxuto. Minha música faz parte da vida do brasileiro, tendo marcado namoros e casamentos. É impressionante. E um fato que me chama atenção é que o pessoal que me ouve desde lá atrás vem passando para as novas gerações o amor pela minha música. É emocionante, é o sentimento que move a minha obra”, destacou ele, que não esconde a felicidade de retornar à urbe carioca por conta do pedido de seu público fiel. “É uma volta que surgiu por causa dos pedidos dos fãs. Tocar no Rio é sempre uma emoção diferente, porque eu moro aqui, é aconchegante, sabe? Aqui, as pessoas participam tanto que a gente acaba que foge um pouquinho do cronograma”, disse ele, adiantando que ainda haverá uma grande novidade. “Vamos apresentar uma música nova, ‘Agora Não Dá’, de Targino Gondim. Guardamos essa surpresa para o sudeste”, revelou.

Apesar de imerso nos shows da turnê comemorativa, o cantor já começa a dar os primeiros passos no projeto sucessor de “Pássaros Urbanos”, lançado em 2014. Exemplo disso é a canção que será divulgada nesta sexta-feira no Rio. No entanto, de acordo com ele, ainda é muito cedo para falar se o trabalho será lançado em material físico ou digital. “Estamos gravando algumas composições, mas depois da turnê pretendo me debruçar mais nesse disco. Talvez saiam algumas coisas nas redes sociais ou em um EP”, adiantou. Agora, quando se trata do novo formato que a indústria da música tem ganhado, principalmente com as plataformas de streaming, Fagner ressaltou a dificuldade que os compositores têm enfrentado. “Espero que a gente esteja avançando nesse novo modelo para que venha beneficiar principalmente os autores. O mercado caiu muito. Hoje um artista vive de shows, porque com a perda do mercado de disco, os compositores sofreram muito”, avaliou.

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Durante toda a sua carreira, Fagner cantou o amor. Quem nunca se emocionou ouvindo canções como “Borbulhas de Amor”, “Deslizes”, “Espumas ao Vento” e “Retrovisor”, que atire a primeira pedra. São canções que fazem parte do inconsciente cultural de todo brasileiro. Para o HT, o compositor ressaltou que sua sensibilidade caminha lado a lado em sua vida pessoal e profissional. “É fundamental que a cada dia vivamos como se fosse o último. Eu me considero um cara intenso. Em tempos de ódio, é de extrema importância que tenhamos também delicadeza com as pessoas, isso influencia muito no que você faz e projeta. E isso se reflete muito no meu trabalho. A poesia da vida e da relação das pessoas, e isso fez com que eu continuasse por todos esses anos”, avaliou ele.

Agora, quem acompanha o cantor a bastante tempo, sabe que Fagner sempre esteve rodeado de grandes parceiros em suas composições. Seja ao lado de Vinicius de Moraes, Belchior, Zé Ramalho ou Zeca Baleiro, o artista reforçou a importância de saber escolher grandes amigos na hora de realizar um disco. “A qualidade do que a gente procurou fazer ao longo dos anos foi fundamental para estar até hoje na ativa. O que faz sucesso hoje é música que não será ouvida amanhã. O segredo do sucesso está na qualidade e em encontrar grandes parceiros. Eu tive a oportunidade de trabalhar com muita gente boa e isso foi fundamental. Eu diria que esse caldo fez a minha discografia”, ponderou ele, que vê a cena musical nordestina importantíssima para a criação da cultura brasileira. “Temos muitos artistas da minha geração como Zé Ramalho, Elba, Belchior  e a turma de hoje com Zeca Baleiro, Lenine, Chico Cesar e Chico Science. A cultura nordestina influencia muito não só na música, mas na literatura, no humor e no teatro. É uma ‘forçalesa’. Ainda me arrisco em dizer que a cultura brasileira não resistiria sem a nordestina de uma maneira geral”, disse.

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Sem medo de exercitar sua liberdade de expressão, Fagner também é conhecido por falar aquilo o que pensa – principalmente quando o assunto é política. Atento às questões da crise em solo verde e amarelo, a cantor recentemente fez uma composição falando sobre o processo da operação Lava Jato e o juiz Sérgio Moro. “Era totalmente necessária a presença do Moro. É uma nova fase da história do Brasil que ele está sozinho, com sua equipe, deflagrando. E que sirva de exemplo para muitos. É terrível ver políticos procurando arranjos para barrar ou limitar as ações da Lava Jato. O Brasil chegou aonde chegou por causa da nefasta roubalheira desses políticos”, disse ele, que avaliou o governo do PT como “um fracasso”. “Foi o maior desgosto de esperança e de ideologia para a população, tanto que eles mesmo estão abandonando o barco. Estamos vivendo o pior momento da história. De certa forma, o governo Dilma foi uma maluquice. Se o impeachment foi legal ou não, eu não posso dizer. Golpe foi o que eles fizeram com o Brasil”, destacou.

Juntos com os problemas surgiram as manifestações e indiscutivelmente uma era de intolerância e polarização. Sem papas na língua, Fagner ainda acrescentou dizendo que a agressividade das pessoas tem sido proporcional aos escândalos. “O momento está permitindo tudo. O descrédito que os políticos deixaram fez surgir diversos movimento radicais. Eles deram razões para que as pessoas se manifestassem a sua maneira. As pessoas estão se manifestando, infelizmente, à altura do estrago que eles fizeram”, completou.