*Por Simone Gondim
A frase, dita por Fafá de Belém em sua 21ª live, a última da artista em 2020, reflete o espírito solidário da paraense: “Sem o outro não se caminha”. Conhecida por sua fé, a cantora fez questão de colocar um QR Code para doações para o trabalho que o padre Julio Lancellotti, da Arquidiocese de São Paulo, faz com a população em situação de rua. Acompanhada pelo maestro Luiz Karam e pelos músicos Jonas Dantas e Sandro Haick, todos de máscara, Fafá abriu novamente a sala de casa para receber o público – do outro lado da tela – como se fosse parte da família, enfatizando que ela e a equipe seguiam todos os protocolos de segurança e haviam feito testes para detectar se alguém estava com Covid-19. Em quase duas horas e meia de show, não faltaram sucessos como “Vermelho”, “Meu coração é brega”, “Nuvem de lágrimas” e “Abandonada”, em um repertório misturando canções de Natal, músicas que remetiam ao Pará e outras que falavam de paixões arrebatadoras e da presença divina.
O clima familiar era dado não só pelo cenário, mas também pelas participações especiais – a filha Mariana Belém e as netas Laura e Julia cantaram com Fafá mais de uma vez. Como aconteceu em outras apresentações da artista, as meninas roubaram a cena – o registro da dupla soltando a voz em “Pinheirinho de Natal”, por exemplo, transformou o que seria um teste de som em explosão de fofura, além de deixar a avó famosa transbordando orgulho. Era gostoso ver a intensa Fafá sorrindo de orelha a orelha ou dando sua inconfundível risada conforme as pequenas pegavam o microfone, falavam com a mãe ou cochichavam entre si.
Fafá e Mariana estavam tão à vontade que brincavam uma com a outra – a filha, mais reservada, provocava a mãe por conta do jeito expansivo. A cantora não teve problema em assumir o nervosismo, que a fez errar algumas letras. “Estou muito nervosa, mais do que em qualquer live anterior. Fico emocionada e troco a letra toda”, explicou. Já a voz poderosa da paraense continuava a mesma, com os arranjos das músicas feitos de forma a valorizar esse aspecto. “Gosto de cantar todos os estilos. Tudo me emociona”, afirmou ela.
O coração batia mais forte, nitidamente, em canções que falavam de fé e nas que remetiam ao Pará e às lembranças da época em que Fafá ainda não tinha deixado a cidade onde nasceu. Nesse estilo, foram apresentadas duas músicas do repertório de Roberto Carlos, “Luz divina” e “Quando eu quero falar com Deus”, e as que tratavam das raízes da artista ou faziam parte da memória afetiva, como “Bom dia, Belém”, “Pauapixuna”, “Amazonas meu rio”, “Chegada”, “Meu coração é brega” e “Bandoleiro”. “Nasci em Belém e ouvia várias dessas músicas no rádio AM. Nas festas de rua não tinha WhatsApp, mas havia os sonoros. Você mandava um sonoro: estou te esperando atrás da igreja”, lembrou ela, às gargalhadas.
Outros momentos em que Fafá segurou as lágrimas foram nos vídeos gravados pelos padres Julio Lancellotti e Fábio de Melo, sendo este último amigo da família e chamado carinhosamente de “tio” pelas netas da cantora. “A gente te ama tanto”, derreteu-se Fafá, após as palavras do padre Fábio. “E muito antes de ser modinha”, emendou Mariana, agradecendo pela ajuda em momentos marcantes, como o nascimento da filha caçula, que estava complicado até a hora em que ela recebeu, durante o trabalho de parto, um áudio com uma oração feita por ele.
A homenagem a Paulinho, do grupo Roupa Nova, morto em 14 de dezembro por complicações relacionadas à Covid-19, também mexeu com Fafá e Mariana. Além de cantarem “Volta pra mim”, as duas lembraram das gravações no estúdio da banda, como a de “Abandonada”, cujo arranjo é de Paulinho e companhia. “É difícil falar desse tempo em que perdemos pessoas próximas. Da vida, sempre acho que temos que levar o melhor”, ressaltou a paraense. Em seguida, ela e a filha agradeceram a Paulinho.
A preocupação com a saúde era reforçada a todo o momento, com a cantora enfatizando a importância da prevenção, por meio do distanciamento social e uso de equipamentos de proteção, como máscaras, álcool gel e face shields. “Daqui a pouco surge a vacina. Confio no Butantan e nos nossos cientistas. Acredito no Brasil e nesse povo fabuloso. Vamos ficar em casa mais um pouquinho só”, disse Fafá. Ainda no quesito bem-estar, um dos momentos curiosos da live foi quando Mariana entrou com dois pacotes de fraldas para adultos, avisando que a mãe havia sido escolhida embaixadora da marca. “A partir dos 50 anos é como se nós não existíssemos. Precisamos falar dos problemas de saúde que vêm com a idade, sem preconceito”, comentou Fafá.
Para interpretar as últimas músicas, Fafá de Belém trocou o belo longo azul-marinho, com uma generosa fenda na perna, por um elegante vestido vermelho. “Você está embrulhada para presente”, brincou Mariana, fazendo referência ao laço na cintura que era parte da roupa. Além de mais duas canções de Natal, “Boas festas” e “Bate o sino”, cantadas em família, a artista encerrou a animada sequência com “Vermelho” e “O que é, o que é?”. Antes de se despedir, Fafá foi até a varanda e agradeceu aos vizinhos, que não devem ter feito oposição ao show. Em seguida, expressou sua gratidão ao público, aos patrocinadores da live, aos músicos e a todos os integrantes da equipe, bem como a professores e profissionais de saúde, por conta do trabalho dessas duas categorias ao longo da pandemia. “As lives ficarão no novo tempo que virá”, garantiu.
Veja a lista completa de músicas da live de fim de ano de Fafá de Belém:
1. Luz divina
2. Pinheirinho de Natal
3. Bom dia, Belém
4. Amazonas meu rio
5. Pauapixuna
6. Chegada
7. Meu coração é brega
8. Bandoleiro
9. Tortura de amor
10. Abandonada
11. Volta pra mim
12. Aguenta coração
13. É o amor
14. O trenzinho do caipira
15. Saudade da minha terra
16. Nuvem de lágrimas
17. Quando eu quero falar com Deus
18. Boas festas
19. Bate o sino
20. Vermelho
21. O que é, o que é?
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