Fafá de Belém solta o verbo: ‘sou contra download de CDs na internet e acho torpe a pirataria’


Cantora faz show em homenagem ao Rio de Janeiro, nesta quinta (7), no Miranda

De volta aos palcos cariocas, Fafá de Belém prepara uma grande noite em homenagem ao Rio. Hoje, quinta-feira, a cantora se apresenta no Miranda, no Espaço, com um espetáculo dedicado à cidade. Embora resida atualmente em São Paulo, por razões profissionais, a artista viveu na Cidade Maravilhosa seus primeiros grandes momentos como cantora. E agora, demonstra gratidão à capital fluminense com um lindo show de músicas que são a cara dos cariocas.

No repertório, ela relembrará alguns dos seus principais hits, como ‘Coração do Agreste’ e ‘Foi assim’, mas também pinçará belas canções de compositores portugueses contemporâneos, como Rui Veloso e Paulo  Gonzo – com o qual fez um dueto recentemente. Entre outras, ela também transita, confortavelmente, pela obra de seu ídolo e amigo, Chico Buarque em um set dedicado ao Rio norteado por algumas das mais emblemáticas obras compostas por Antonio Maria, como ‘Preconceito’, ‘Valsa de uma cidade’ e ‘Ninguém me ama’ – que tornaram-se clássicos não apenas de sua obra, mas do cancioneiro.

Durante a rápida passagem pela cidade, Fafá de Belém bateu um papo gostoso com o nosso site, falando sobre novos cantores da MPB, download de CDs, a ascensão do vinil dos últimos anos e até mesmo realities shows musicais. Confira!

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Fafá de Belém apresenta show com repertório dedicado ao Rio, no Miranda. (Foto: Divulgação)

HT: Como surgiu a ideia de homenagear o Rio de Janeiro em um show?

FB: Para começar, eu não gosto de estúdio, gosto de palco. Desde que o Miranda inaugurou, fui convidada a fazer shows e a gente não consegue cruzar as agendas. Então, dessa vez, resolvi montar um espetáculo para o Rio. Mas o Rio de Janeiro da minha fantasia, que me inspirou, que conheci nos anos 70. O Rio é bossa nova, é Vinicius de Moraes, tão presente musicalmente na minha criação durante a infância e adolescência. Como eu já cheguei na cidade como cantora, participei da vivência da boemia e, nos bares, todo mundo terminava a noite. A noite é tão carioca! Agora, eu chego na cidade e não encontro mais isso. Esse ambiente está se perdendo em um país tão musical quanto o Brasil e eu acho que o Miranda cumpre bem esse papel.

HT: Recentemente surgiu uma nova geração de música brasileira, feita por artistas independentes que se destacam cada vez mais. Você acompanha essa transformação? Conhece esses cantores?

FB: Tem uma turma muito interessante, como o Criolo, Emicida, Tulipa Ruiz. Mas também tem o Casuarina, no Rio, e Felipe Cordeiro, no Pará. O Brasil é isso, você mergulhar nessa musicalidade única e misturar o novo com o velho, o que já estava esquecido com o atual. Nós temos um caldeirão de inspiração que é sensacional para quem canta e quem ouve. Além disso, com a internet você consegue um território livre, embora eu leve o dia-a-dia e o boca a boca mais a sério. Eu gosto de tudo, do mais simples ao mais elaborado, desde que seja um trabalho bem feito e inspirador. Tudo que explode pode dar ‘chabu’. (risos)

HT: Muitos desses novos artistas atuam de forma independente, ou seja, desvinculados de uma gravadora, e por isso optam por disponibilizar suas músicas na internet para download. O que você acha dessa prática?

FB: Sou contra, imagina! A única possibilidade de remuneração do criador é o recebimento dos seus direitos autorais. Disponibilizar um trecho, tudo bem. Agora, quando a pessoa disponibiliza o CD inteiro, ela deixa de receber pelo próprio trabalho. Isso é tão injusto! Todo trabalho tem de ser remunerado. Todo mundo cobra, o garçom, o motorista. O artista também precisa receber e é disso que a gente vive. Mas, é claro, há casos e casos. Alguns disponibilizam por não se importar com o retorno. Acho que é preciso repensar a comercialização da música, a pirataria está aí tomando as ruas da cidade. Recentemente aconteceu algo comigo, que ao mesmo tempo é muito engraçado e triste. Fiz um EP com quatro faixas apenas. Cheguei em Belém, fui procurar o EP na loja e não achei. Já andando pelas ruas, o que não faltavam eram cópias do mesmo trabalho que não encontrei à venda. É injusto. Eu vivo disso! O que eu acho mais cruel é que quem faz a pirataria, age contra toda a equipe que trabalhou para esse trabalho.

HT: Você acha que esse talvez seja um dos motivos para as lojas de CD estarem acabando?

FB: Sim, claro. O que é uma pena, mas continuo comprando CDs e LPs. É a forma que eu tenho de ser solidária à minha classe, acho torpe a pirataria.

HT: Enquanto isso, o vinil tem ganhado cada vez mais espaço entre os objetos que os jovens colecionam e também consomem…

FB: Não existe nada como o vinil. Ele tem uma respiração única, que o CD nunca terá. Tem pulsação, tem vida e cada risquinho daquele é sensacional! Você identifica muito melhor os instrumentos, ouve a flauta respirar… O CD é apenas uma bolacha de plástico. Eu gosto e acho bacana o resgate. Apesar de achar caro, entendo que a produção é quase artesanal.

HT: Você acompanha realities musicais, como o The Voice Brasil? O que acha sobre esse formato de programa?

FB: Não acompanho. Até participei do ‘Ídolos’, acho bacana, mas não acompanho reality. Não assisto, porque não vejo depois um impulso na carreira de nenhum deles, exceto pelo Thiaguinho, claro. Não sei o que acontece. Acho que é muito mais entretenimento do que cuidar do sonho de uma pessoa. Tentei assistir o The Voice brasileiro, outro dia, e fiquei impressionada,  porque as melhores pessoas que passaram por ali naquela noite, na minha opinião, não foram escolhidas por ninguém. Já os que pareciam mais cópias de outros artistas, todo mundo virava.  Mas não estou aqui para julgar, não sei se esse é o modelo do programa.