Fabíola Machado do Awurê: “O resgate à ancestralidade com o combate à intolerância através da arte”


Comemorando três anos, a banda pede as bênçãos a São Sebastião e a Oxóssi para lançar seu primeiro EP. O álbum com seis faixas traz uma composição inédita da musa Teresa Cristina em parceria com Raul di Caprio, além da participação do Ogan Bangbala que, aos 101 anos, é o mais antigo Ogan vivo no país. Vem saber!

O grupo carioca Awurê em comemoração aos seus três anos de carreira lança seu primeiro EP (Foto Leandro Crunha)

*Por Rafael Moraes

Em comemorarão aos seus três anos de sucesso, o grupo carioca Awurê pede as bênçãos a São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro, para lançar seu primeiro EP. E quando a faixa principal, que leva o nome da banda tem o axé de Teresa Cristina? É uma composição exclusiva, homônima ao nome do grupo e do álbum, em parceria com Raul di Caprio e a participação do Ogan Bangbala que, aos 101 anos, é o mais antigo Ogan vivo no país. Tocando ritmos atravessados pelos tambores de diversas células rítmicas oriundas da riqueza do legado africano, o grupo formado por Fabíola Machado, Arifan Jr., Anderson Quack e Pedro Oliveira resgata a ancestralidade e combate à intolerância com arte.

Fabíola Machado sintetiza esse momento exaltando a arte e a espiritualidade, ainda mais nesta data especialmente escolhida. “A arte também é alimento espiritual. Este lançamento demostra o nosso respeito e cuidado com o público. Queremos resgatar a esperança em nós e nas pessoas que estão com a gente, sonhando e acreditando que é possível. E, apesar de tudo que vivemos no ano passado, levar uma mensagem de união e afeto, mostrando como foi a construção deste EP: de maneira coletiva, afetiva, cheia de mãos, olhos e abraços virtuais, aqueles que vamos dar presencialmente em breve”.

O disco com seis canções inéditas, todas no melhor do clima ‘samba de rosa’, traz a faixa inédita ‘AWURÊ’ que surgiu duas semanas após a musa Teresa Cristina conhecer o quintal do grupo em Madureira A música de trabalho do grupo remete à sensação dela e que seu parceiro, Raul di Caprio tiveram. “O que o Awurê nos traz é de uma beleza do tamanho que a gente merece! É muito bonito ver a pesquisa que eles fazem, o cuidado que eles têm. A gente chega no lugar e tem uma folha no chão, um repertório pensado no que a gente está vendo. Estou muito feliz em saber que, mesmo na situação que o Rio de Janeiro está, existe um lugar, um grupo, uma intenção de mostrar a beleza da cultura negra. Isso é uma coisa que não dá para falar em muitas palavras. Eu só agradeço”, pontua a cantora e compositora.

O termo ioruba Àwúré faz menção e desejo de boa sorte, bênçãos e prosperidade. Constituído na pluralização oriunda por diversos estilos musicais como samba, ijexá, jongo, samba de roda e toques de candomblé, o Awurê nasceu em janeiro de 2017, em Madureira, de um encontro despretensioso entre amigos músicos de diferentes influências, com uma trajetória que se estabelece forjada na importância e na beleza de todo legado africano, em que o povo negro se sente pertencente a todo o processo, como um apoderamento, um resgate de sua história e suas raízes.

‘O fim do círculo é sempre recomeço’, diz o trecho de ‘Opaxorô’, com participação do Ogan Bangbala, que define bem essa estreia do grupo na indústria fonográfica. “Através deste repertório, consolidamos a construção de toda nossa trajetória, pesquisa sonora e mistura de sons onde os tambores são os catalizadores dessas misturas de ritmos. Um sonho planejado, mas que teve que ser redefinido”, enfatiza Arifan Jr. sobre o processo do EP. E completa. “Quando pensamos em lançar o financiamento coletivo, nós fomos surpreendidos pela pandemia. Vivemos de arte, não temos empresários ou patrocínio, e tivemos que fazer muitas escolhas – uma delas foi cancelar a agenda a partir de março/2020”.

E com grandes caçadores, assim como, Oxóssi, tiveram que que mudar a estratégia. “Mas também foi um ano de muito aprendizado e de olhar o que somos não somente como grupo musical, mas também como o que construímos de conceito e identidade”, reforça Arifan sobre o álbum que traz ainda as canções ‘Filó’, ‘Oyá Oyá’, ‘Ponto da Cabocla da Mata’ e ‘Pout-Pourri Samba de Roda’.