Exclusivo! Um bate-papo sincero com Tiê sobre mainstream, carreira e amadurecimento: “Às vezes também me sinto infantil e desprotegida”


A cantora, que estourou nas rádios com “A noite” garantiu não ter medo de virar “cantora de um hit só”: “Se eu só tiver esse sucesso, pelo menos um sucesso eu já fiz. Essa preocupação não está na minha lista de problemas, definitivamente”

Sua voz doce ficou conhecida por todo o país quando cantarolava os versos “e quando chega a noite e eu não consigo dormir meu coração acelera e eu sozinha aqui…”, tema do casal formado por Mari e Benjamin, personagens de Bruna Marquezine e Maurício Destri na novela global “I Love Paraisópolis”. Mas isso é só um detalhe. O talento de Tiê vem de muito antes e, em 2004, o cantor Toquinho reconheceu isso e a chamou para cantar com ele em seus shows. De lá para cá, a parceria continua, mas a carreira de Tiê cresce em ascensão meteórica. HT encontrou a cantora e compositora no projeto Metrônomo e reconheceu: há a possibilidade (“sempre há”) de ficar conhecida como cantora de um só hit. Mas ela não tem medo. “Se for esse meu destino, de ser conhecida como a cantora de ‘A noite’, paciência. O que eu vou fazer? Nunca vou negar ‘A noite’, e tenho certeza que independente do que aconteça vou ser obrigada a cantá-la em todos os próximos shows que eu fizer na minha vida (risos). Então vivo com isso, né”, disse, com humor, uma Tiê que já vem bombando nas rádios com “Isqueiro azul”, mais uma canção que promete ficar na cabeça de todos os brasileiros.

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(Foto: Leandro HBL/Divulgação)

“Hoje mesmo eu estava no aeroporto ouvi ‘Isqueiro azul’, acho que está em um processo legal. Tenho que seguir sem expectativa, porque ‘A noite’ foi muito além do que eu esperava, mas acho difícil esperar outra logo em seguida, né? O mais provável é que não aconteça. Acho que o que vai acontecer naturalmente é eu continuar fazendo as minhas coisas e somar com coisas boas que ‘A noite’ me trouxe. Não acho que vai me fazer mal, não vou ficar pior do que estava. ‘A noite’ foi muito grande e deu uma abaixada, como qualquer ciclo da vida. Mas de uma maneira bem-vinda”, analisou, emendando que não fica criando conjecturas para o futuro.

Pensando no futuro, Tiê resolveu falar sobre o passado em um post nas redes sociais em que contou sofrer de vitiligo, lúpus e relembrou que há dez anos passou por uma cirurgia para a retirada de um tumor infeccioso benigno no pulmão. “Na verdade resolvi falar disso abertamente porque completou dez anos e foi um presente. Todo ciclo é importante. Quando eu vi que faziam dez anos desse susto, que mudou tanta coisa desde então, vi que valia a pena falar, porque realmente esse processo foi o que me fez compor, então se não tivesse acontecido isso eu não estaria compondo talvez e minha história seria muito diferente. Foi mais positivo do que mil divãs. Apesar do susto grande, de quase ter morrido, entender isso me fez quebrar amarras e foi bem vindo. Passado a doença e prostração, fiquei numa onda positiva de ‘que bom que aconteceu comigo’. Isso foi a comemoração. Fiquei emotiva, também”, contou ela.

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(Foto: Divulgação)

E agora, como está a saúde, Tiê? “Meu vitiligo está maior do que estava antes, também por cansaço, mas hoje eu já acho ele mais bonito e bem-vindo. Espero de coração que eu não tenha outra doença grave mais, mas eu acho que a gente nunca sabe a vida. O que é bom é lembrar que não dá para ficar louca ao extremo, tem que ter uma válvula de escape, se não a gente fica doente. Cada um com sua doença. Mas existem opções, infelizmente acontece”, declarou ela, que ressaltou: “Estou longe de ser ‘Pollyana’ (de Eleanor H. Porter), ou tão otimista. Eu já fui mais. Hoje sou cansada, nervosa, mais velha, sem paciência, várias coisas que não contribuem. Mas também sou mais decidida, resolvida e esclarecida e tem coisas que tem peso menor. Me sinto mais madura, mas às vezes também me sinto infantil e desprotegida”, assumiu.

Resolver falar sobre todas as dificuldades também é resultado de um longo processo. “Teve uma vez que eu contei essa história no show e um cara na plateia gritou ‘vai na igreja que isso não é confessionário’, então não é o tipo de coisa que eu conto todos os dias, depende do estado de espírito, mas ontem o que me ligou de amigo foi impressionante. Eu não tinha carreira artística na época, então ninguém soube. Esse é um assunto que já estava numa fase amadurecida por isso me senti aberta pra contar desse jeito e fiquei feliz com o resultado”, disse ela, que sabe: é uma história nova para muitos. “E eu inclusive tenho outras histórias para contar, algumas até mais cabeludas. Eu fico com vontade de falar, mas a minha terapeuta fala que só posso contar quando estiver bem resolvida. Algumas coisas não estão mesmo, então vou ter que esperar a hora certa. Mas acho interessante dividir as histórias, gosto da sinceridade. O jeito que faço as músicas, por exemplo, prova isso”, explicou.

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(Foto: Reprodução/Facebook)

E prova mesmo, já que suas letras são autobiográficas. “Até hoje eu consigo contar as minhas histórias nas músicas que escrevo. Não quer dizer que sejam coisas atuais apenas. São momentos vividos, meus. Não uso palavras que não uso normalmente, no meu cotidiano. Trabalho com a minha realidade”, contou.

Fazer letras autobiográficas no mainstream, com o alcance muito maior, é uma ousadia e Tiê sabe disso, mas – novamente – não sente medo. “As pessoas falam maldade de qualquer jeito. Se vou no ‘Domingão do Faustão’, falam que sou vendida, se conto minha história, podem dizer que é para me promover. Cada um tem sua visão, não dá para considerar as maldades das pessoas. Hoje em dia com internet ficamos sabendo de tudo, mas não deixo isso me atrapalhar”, garantiu ela, que sabe: “Depois que minha música foi trilha da novela, o reconhecimento mudou, claro. Muitas vezes é estranho, quando estou com as minhas filhas. Mas geralmente é bem simpático”, disse. E Tiê faz questão de se manter com a cabeça no lugar e continuar onde tudo começou: “Não imagino o que é ser realmente o mainstream, estou longe disso. Talvez eu esteja com o dedinho do pé lá. Eu gosto do underground e do mainstream. Quero conviver e viver no underground por opção, mas não por necessidade. Quero continuar tocando nos lugares que toco, mas não porque não tenho opção, porque gosto. Transito por todos os lados. Mas me interessa, sim, fazer show cada vez mais e viver disso com tranquilidade”, disse.

Ao longo de 2016, muitas novidades boas para os fãs! “Vou lançar um disco que ainda não tem nome. A ideia é que seja ate setembro! É autoral. Além disso, acabei de reassinar meu contrato com a Warner, que é uma parceria bacana. Talvez se eu tivesse que ser independente me dificultaria a lançar meu trabalho. É bom ter esse apoio. Quando fiz o ‘Sweet jardim’ (primeiro álbum) independente e vendi pra eles, eles já me compraram pronta, então me respeitam como artista. Em um mercado de crise, sou feliz de ter contrato e segurança”, analisou. E merece.