Tulipa Ruiz, uma das cantoras mais cultuadas da nova safra da música popular brasileira, acabou de voltar ao Brasil depois de uma turnê de sucesso pela América Latina, e aterrissou no Rio Moda Rio, onde fez um poketshow no melhor estilo voz e violão, no Pier Mauá. Em um papo exclusivo com o HT, a artista, que também se arrisca em trabalhos como ilustradora e estilista, contou que suas referências de moda surgiram através das capas dos discos que seus pais ouviam durante sua infância.
“É engraçado, porque o meu interesse pela moda começou desde pequena, quando eu ainda escolhia os discos que tocariam na minha vitrolinha influenciada pelas produções das capas. Quando eu tive autonomia de colocar os LPs no aparelho de som eu nem sabia o que estava tocando, e não me importava com isso. Eu gostava mesmo da produção fashion das roupas dos encartes. Aquilo me encantava muito. Eu lembro de discos muito específicos como o ‘London London‘, do Caetano Veloso, que ele está com um cabelão e um casaco de pele branco… eu achava aquilo incrível. E com o tempo eu fui prestando atenção à moda das pessoas da música para buscar minhas referências. Essas foram as minhas verdadeiras capas de revistas”, revelou.
Desencanada com os padrões estéticos estipulados pela sociedade opressora, Tulipa brincou com a confusão na hora de escolher o tamanho das roupas em sua música “Proporcional”, que integra o álbum “Dancê”, lançado no ano passado. “O pensamento contemporâneo tem que ser esse esse: você se aceitar e aceitar o outro da maneira que ele é. Se a gente não chegar nesse lugar não vamos evoluir enquanto sociedade. Acho absolutamente incrível o crescimento da moda plus size, por exemplo. Essa coisa do padrão é tão despadronizada, sabe? Eu tenho uma marca de roupas, a Brocal, e a grade de peças tem P, M, G. Só que o P não é o mesmo para todas as pessoas. Tem quem seja P em cima e G embaixo, cintura P e busto G. Vimos que a exploração disso dá infinitas possibilidades. Através dessa confusão, decidi externar através da música também”, comentou ela.
Voltando a falar de sua carreira, a cantora paulistana ainda comemorou o sucesso do disco “Dancê”, que recentemente foi premiado como Melhor Álbum de Pop Contemporâneo Brasileiro, no Grammy Latino. Segundo ela, o disco é de fato uma produção feita para dançar. “Essa coisa da dança foi a primeira intuição que eu tive. Quando cheguei para compor as músicas com o Gustavo (irmão e guitarrista) ficamos 15 dias em uma praia pensando nelas. O disco tinha mesmo o intuito de criar música para dançar. A partir da exposição desse meu desejo, as músicas foram pensadas num ritmo mais acelerado. Mas é um lance meio primitivo, não penso necessariamente em uma dança com uma coreografia específica. Penso mais que você está em casa sozinho de olho fechado, sente essa musicalidade e começa a dançar. É um universo muito amplo, a gente pode ir de Sarajane a Pina Bausch“, avaliou aos risos. “Não é algo que tenha a ver com dance music”, definiu o trabalho.
Muita gente não sabe, mas Tulipa segue em turnê na companhia do irmão Gustavo Ruiz e do pai, Luiz Chagas. “Eu e o Gustavo crescemos ouvindo a mesma vitrola, os mesmos discos, temos um repertório musical muito parecido, então é fácil fazermos coisas juntos, por conta dessa cumplicidade de interesses. Já meu pai é jornalista e guitarrista, sou influenciada por esses dois lados dele. Ele é a pessoa que mais mostra novidades pra gente”, adiantou ela.
Cheia de projetos para o segundo semestre, a artista revela que seu último álbum será relançado no formato de vinil. Mas não pense que ela está presa ao passado. Apesar de voltar ao famoso bolachão, a artista ainda aposta na vertente dos videoclipes. “Esse ano eu lanço muitos clipes e a edição do ‘Dancê’ em vinil. Não vejo a hora dele chegar da fábrica, porque vai ser cor de rosa. Eu amo”, disse. ” Eu tenho pouquíssimos clipes, e como a gente vive no mundo do audiovisual, eu senti que precisava investir nisso também”, contou ela, que comentou o declínio do Compact Disc. “Eu tenho escutado pouquíssimo CD em casa. Tenho um superfone e ouço música no celular em streaming. O CD virou souvenir. Eu sempre vou facilitar o acesso à minha música. Há alguns anos as pessoas preferiam baixar e hoje é no streaming, que é onde o artista até ganha dinheiro. No download eu não ganhava nada”, ponderou.
No entanto, quando o assunto é política, a artista é taxativa ao dizer que o Brasil sofrerá o seu segundo possível golpe de estado caso a presidente afastada Dilma Rousseff seja retirada de seu cargo. “Eu acabei de chegar de uma turnê na America Latina. E percebi que tudo o que estamos passando aqui também está sendo reproduzido por lá. Estamos vivendo uma sociedade de direita. Acho que a democracia está em risco. Na Cidade do México, por exemplo, eu comprei uma revista ‘Rolling Stones’ que a capa era sobre Donald Trump (candidato à presidência dos Estados Unidos), onde falava que o problema não está nele em si, mas, sim, em todos os Trump que estão se multiplicando por aí. Aqui no Brasil, por exemplo, a gente pode encontrar dezenas deles por aí. Inclusive nesse governo ilegítimo. O Michel Temer é um tipo de Trump”, avaliou ela. “Eu sou totalmente contra esse governo e não o considero legítimo. E digo mais, continuo achando que não há um processo de impeachment, mas um golpe”, finalizou.
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