Exclusivo! Simone: “Podem dizer que sou feminista e que acredito que homens e mulheres são iguais e têm os mesmos direitos”


Antes de cantar no Vivo Rio, dia 11 de março, com seu novo show “É melhor ser”, ela conversou com HT e disse: “O Brasil sempre teve desigualdades sociais, a cultura não é de acesso para todos”

Curada de uma hepatite contraída em outubro de 2015, a cantora Simone se prepara para apresentar aos cariocas uma nova turnê – que começaria, a priori, há quatro meses – no dia 11 de março, no Vivo Rio. Batizada de “É melhor ser”, assim como o disco do qual é extraído o repertório, a seqüência marca os 40 anos de carreira da cantora, que completou 66 anos de vida em dezembro último. O show, ela garante em entrevista exclusiva ao HT, será “uma grande homenagem às mulheres, em especial às compositoras”. E é aqui que engata um papo feminista. “Quando comecei minha carreira, as mulheres eram basicamente intérpretes e, de uma forma geral, ainda ocupavam poucas posições de destaque no mercado de trabalho”.

Simone (Fotos: Divulgação)

Simone (Fotos: Divulgação)

Segundo Simone, nas últimas décadas, “obtivemos uma série de conquistas e isso se refletiu também na música”. “As cantoras que surgem atualmente, em sua grande maioria, são também compositoras. Queria celebrar esse olhar feminino na composição. Por isso, vou desde Dona Ivone Lara, Sueli Costa e Ângela Rô Rô a Teresa Cristina, Zélia Duncan e Adriana Calcanhotto. Ficou um painel interessante sobre a composição feminina”, explica, recorrendo a Chiquinha Gonzaga (1847-1935) como justificativa. “Foi a primeira mulher a compor no Brasil, mas esse universo ainda era muito restrito. Mais adiante tivemos Rita Lee e Marina Lima, por exemplo, mas ainda éramos minorias”.

Engana-se, no entanto, quem acha que essa leva atual de cantoras que também compõe é satisfatória para ela. “Ainda temos desigualdades entre homens e mulheres em várias profissões. Melhorou, mas ainda falta muito para conseguirmos a igualdade. O Brasil sempre teve uma tradição de cantoras, então essa resistência, particularmente, não encontrei muito, mas as mulheres ainda têm que batalhar para termos um mundo verdadeiramente igual”, analisa ela, que manda avisar: “Podem dizer que sou feminista e que acredito que homens e mulheres são iguais e têm os mesmos direitos”.

simone 3

Sociedade à parte, no show, Simone cantará canções de Dolores Duran (“A noite do meu bem”), Isolda (“Outra Vez”) e inéditas em sua voz como “O tom do amor” (Moska/Zélia Duncan) e clássicos como “Começar de Novo” e “Sob medida”. Outra boa nova do espetáculo também está no preço, com ingressos vendidos a…R$ 1. “Fazer uma turnê verdadeiramente popular era um sonho antigo, que finalmente consegui viabilizar com patrocínio (de uma seguradora). O Brasil sempre teve desigualdades sociais, a cultura não é de acesso para todos. Muitos gostariam de assistir a um show meu, mas não tinham dinheiro para pagar o ingresso. Agora, podem. Acho que nosso papel é sempre tentar levar arte ao maior número possível de lugares e de forma democrática. Estou tentando fazer a minha parte e vejo que muitos artistas também estão nessa intenção”, diz.

Simone, porém, comenta que nem sempre “é fácil porque montar um show é caríssimo”. “Estou fazendo o espetáculo completo, com tudo que o público tem direito. Mas tentei e consegui”. Nessa entrevista exclusiva, a cantora fala da amiga Christiane Torloni, que assina a direção geral do espetáculo, da sua fama de não receber bem críticas profissionais e do atual cenário musical brasileiro. Só descer para saber o que a cigarra tem a dizer. Um spoiler: “É melhor ser, sempre, em qualquer circunstância. A gente tem que ser o que é. Com coragem e verdade”.

Simone

HT: Você, em uma entrevista, no anos 2000: “Às vezes fico puta (com críticas)”. Dez anos se passaram, e você repetiria a aspa?

S: Quando percebo que a crítica tem o intuito apenas de agredir, eu ignoro, porque não me acrescenta nada. A boa crítica é aquela que leva o artista a pensar, que aponta caminhos. Ainda que não concorde, se percebo que a crítica tem embasamento, entendimento da minha carreira, eu leio com carinho e penso sobre o que foi dito.

HT: O que você gosta e o que não gosta do cenário brasileiro atual?

S: Eu gosto de muita gente. Zélia Duncan é uma das artistas com as quais me identifico, tanto que fiz uma turnê e um disco com ela. Gosto muito da Teresa Cristina, da Adriana Calcanhotto, mas também da Céu, da Tulipa Ruiz. O Brasil é um celeiro eterno de talentos.

HT: Você e Christiane Torloni são amigas há décadas. Como foi a troca para ela dirigir o show que você criou a concepção?

S: Eu e Christiane somos amigas há muitos anos. Queria uma pessoa de teatro para dirigir esse show e  desejava ainda que fosse uma mulher, justamente por ser um projeto muito feminino. A Christiane foi a opção natural. Ela me conhece, sabe muito da minha carreira. Queria alguém que me enxergasse como de fato sou e ela era a pessoa ideal para isso.

HT: Qual foi o pior e o melhor momento desses 40 anos de carreira?

S: Eu tenho a sorte de ter vivido grandes momentos em todos esse anos, então é difícil escolher apenas um. E digo sempre que o melhor ainda está por vir. Tenho orgulho de tudo o que fiz e construí na minha carreira, então não existe um pior momento. Sempre fiz o que queria e tenho meu público como parceiro fiel. Não tenho do que me queixar.

Serviço

“É melhor ser”
Data: 11/03
Horário: 22h
Local: Vivo Rio – Av. Infante Dom Henrique, 85, Parque do Flamengo
Tel: 2272.2901
Preço: R$ 1 (em todos os setores)