Ao mesmo tempo em que Rosi Campos participa de “Babilônia” como Zélia, mãe da personagem de Maria Clara Gueiros, a atriz se preparar para voltar aos palcos com a peça “Menopausa”, apenas alguns meses após ter encerrado a temporada paulista de “La Mamma” (como você viu aqui). Na história, ela vive uma aeromoça que fica presa no aeroporto e começa a compartilhar histórias sobre as mudanças hormonais com as personagens de Pia Manfroni e Rose Abdallah, todas prestes a embarcar nesse novo ciclo (e no voo atrasado).
Com texto de Rodrigo Nogueira, direção de João Fonseca e cenografia de Nello Marrese, a peça entra em cartaz no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, a partir de sexta-feira (8/5) e é repleta de casos que fizeram parte da vida das próprias atrizes. Outra inspiração, de acordo com o diretor, foi a obra de Pedro Almódovar: “Uma referência quando abordamos o mundo das mulheres. Essa peça é uma comédia. Às vezes rasgada, às vezes delicada. Buscamos não apenas o humor, mas a humanização das personagens”, comenta João.
HT conversou com Rosi sobre a peça, que promete render cenas divertidíssimas tanto para o público quanto para ela, a sua relação pessoal com a menopausa, como encara as críticas à “Babilônia” e vários outros tópicos, que você confere agora.
HT: [O autor] Rodrigo Nogueira disse que muito do texto veio de conversas com você e com as outras atrizes. O que temos ali de casos da Rosi e como foi esse processo de colaboração?
RC: Eu, a Pia [Manfroni] e a Rose [Abdallah] conversamos com ele sobre as dúvidas das mulheres nesse período da vida e, partir daí, ele acabou construindo as personagens. Foi tudo muito divertido: relatamos as mudanças de humor, as vontades, como o comportamento tem altos e baixos… Tem mulher que deixa de fazer certas coisas quando entra na menopausa. Mas, a peça é uma celebração dessa novidade na vida feminina. Mostra que viver feliz é melhor do que ficar sofrendo por algo que não há como mudar. Essa peça marca um reencontro meu com a Pia depois de muitos anos [as duas trabalharam juntas na novela “Desejos de Mulher”, de 2002]. No texto, a minha personagem já está na menopausa e a dela ainda não sabe se entrou no ciclo ou não. A outra personagem é uma das passageiras do voo, e começa a dividir com a gente todas as dúvidas e questões sobre o assunto. O texto é muito mais sobre o comportamento do que falação. Essas mulheres estão diferentes – às vezes ridículas, às vezes profundas.
HT: Qual é a sua relação com a menopausa? Foi uma transição tranquila?
RC: Eu encaro numa boa. Não tem jeito, não é?! Temos que passar por isso. Na vida é preciso ter coragem, não se pode desistir de nada. Mulher sempre se ferra a vida inteira, essa é só mais uma que a natureza inventou para a gente (risos). A peça também é bacana, porque os homens ficam sabendo de algumas coisas sobre o assunto. Eles são muito desinformados. É muito divertido poder conversar dessa maneira. Antigamente, por exemplo, as pessoas não tinham informação sobre nada e achavam que a mulherada estava ficando louca! Hoje, todo mundo discute o assunto e cada uma encara da sua maneira. Os sintomas variam muito de mulher para mulher: algumas sentem por 14 anos!
HT: Você está sempre viajando por causa de teatro e compromissos profissionais. Já passou por alguma situação em aeroporto que daria uma boa cena cômica? Qual?
RC: Aeroporto tem muito disso, acontece de tudo ali. Já fiquei presa, uma vez, com o povo jogado no chão. Não tinha comida, nem nada. Ficamos oito horas presas no aeroporto, e aí acontece de tudo: gente dormindo, gente p* da vida… Vai se formando uma cidade no meio daquilo, com pessoas com comportamentos completamente imcompreensíveis. São situações estranhas: você fica com um monte de gente que você não conhece e acaba surgindo uma intimidade forçada.
HT: A sua primeira formação é jornalismo. Qual pergunta a Rosi repórter faria para a Rosi atriz, e o que ela responderia?
RC: “Se você não fosse atriz, o que gostaria de ser?”. “Bióloga”. Sério, eu gosto de tudo relacionado à genética, DNA, cérebro, neurologia… Se eu tivesse seguido o jornalismo, por sinal, faria especialização em jornalismo científico.
HT: “Babilônia” vem recebendo algumas críticas do público por causa dos temas que a novela aborda. Como você vê essa resistência aos assuntos tratados ali?
RC: Eu acho que, se está causando alguma coisa, é porque está tocando em assuntos importantes. E, claro, antes de tudo a novela é uma ficção, sim. Mas os autores estão sempre tentando se aproximar o máximo possível da realidade. O problema é que a realidade é mais triste: o padrasto transa com a afilhada, o marido mata a mulher a tiros… os crimes de hoje em dia são horrorosos, o ser humano está voltando para o neolítico, praticamente, é muito triste. Acho que a novela precisa ter algo de exemplar: é sempre bacana mostrar uma pessoa que trabalha, que é batalhadora como a personagem da Camila Pitanga. Ao mesmo tempo, precisa mostrar o que as pessoas gostam: as vilãs, as pessoas más. O contraponto entre o bem e o mal é a base de um folhetim. Isso rende muito. Por exemplo? uma vingança, uma pessoa que se sente injustiçada e que dar a volta por cima, o que é o caso da personagem da Adriana [Esteves]. A novela está tomando um rumo bacana, se ajustando. O público reclama muito quando põe casal gay. Mas, quando não há as pessoas também reclamam. O Brasil é muito preconceituoso e hipócrita, uma sociedade bastante reacionária em vários assuntos. Não adianta querer dar um soco, tem que ir devagar. Não sei quão devagar também, porque do jeito que está é triste.
HT: Atualmente você está na novela e no teatro, e sempre trabalha bastante. Trabalhar é o seu maior prazer? O que gosta de fazer nos dias livres?
RC: O teatro tem a vantagem de a atriz não precisar ser linda, loura e magra. É sempre bom. Eu até fiz poucas peças no Rio, sempre atuei muito em São Paulo. Mas, no tempo livre, eu gosto de ensaiar. E, quando eu posso, leio um pouco ou vou para o interior de São Paulo, onde tenho família.
HT: Isso que você falou sobre o teatro aceitar todo mundo lembra um pouco uma discussão que surgiu recentemente em Hollywood sobre as atrizes terem um “prazo de validade”. Como se, depois de certa idade, a mulher só servisse para fazer sempre o mesmo papel. Você acha que isso é verdade?
RC: Depende da atriz e de como ela constrói sua carreira. Se for alguém que não para de trabalhar, como a Fernanda [Montenegro], é diferente. O que não dá é para você ficar em casa esperando a chamarem. Até os atores de Hollywood estão virando produtores. E imagine você o que é o mercado americano! A gente não chega nem perto dali. Algumas atrizes também duram tanto tempo aí e o porquê eu não sei, não existe uma regra. Essas carreiras são muito malucas. Não existe uma receita ‘se eu fizer isso, vai acontecer aquilo’. O que pode acontecer é a pessoa criar sua própria produtora e tomar controle do que faz: isso é bacana.
HT: Você disse uma vez que a Morgana, de “Castelo Rá-Tim-Bum!”, foi a personagem mais importante na sua carreira. O que ela teve que as outras não têm?
RC: O “Castelo” foi um projeto que alcançou muito respeito e qualidade. EW representou muito para uma geração. Fizemos a exposição [na Fundação Museu da Imagem e do Som] e foram 500 mil pessoas! É um prazer incrível poder ter feito um trabalho como aquele e ter conseguido o reconhecimento. Até hoje pessoas que eram crianças quando assistiram nos agradecem.
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