Exclusivo! Marcelo Bonfá em papo sobre Legião Urbana e política: “Falam-se em grandes mudanças, mas no fundo é só fachada”


Antes de se apresentar no próximo dia 23 de janeiro, no palco do Metropolitan, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, com a turnê “Legião Urbana XXX anos”, Bonfá também falou sobre a necessidade de uma veia politizada: “Eu não aguento mais isso. É um puta saco. A sociedade não muda de noite”

Sempre que a gente ouve os versos da canção “Que País É Esse?” (“nas favelas, no Senado, sujeira pra todo lado. Ninguém respeita a constituição) é inevitável ficar decepcionado ao perceber que mesmo quase quatro décadas depois do lançamento do hit do Legião Urbana, o hino de uma geração ainda ecoa de forma – infelizmente – bastante atual. E, em papo exclusivo com Marcelo Bonfá, a gente descobriu que não estamos sozinhos nesse barco de desapontamento. Quando questionado sobre o que sentia de ter que cantar “Que País É Esse” sem nada ter efetivamente mudado de lá pra cá, Bonfá é enfático: “Eu acho um saco. Todas as nossas músicas funcionavam como um oráculo, mas essa é pontual. A gente está passando por um momento em que começa a ver as coisas se repetirem. Falam-se em grandes mudanças, mas no fundo é só fachada.Nosso país e nossa sociedade são jovens. A gente só precisa ter uma paciência enorme. Plasticamente, sim, tudo mudou. A transparência que a internet trouxe ajudou a ver essa porcaria toda. Tínhamos a dificuldade de ver isso como um todo”, analisa.

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Marcelo Bonfá chamou atenção para o público jovem que vem frequentando a turnê “Legião Urbana XXX anos” (Foto: Reprodução/Facebook)

Por Bonfá, a canção sairia do repertório dessa série de shows para comemorar os 30 anos do primeiro disco da Legião, que vem fazendo pelo país ao lado de Dado Villa-Lobos, André Frateschi, Lucas Vasconcellos, Mauro Berman e Roberto Pollo. Para ele, “Perfeição” já resume tudo. “Ela passa a régua na situação”, justifica enquanto cantarola “vamos celebrar a estupidez humana…”. Subir no palco e gritar “é a porra do Brasil” como antes, por exemplo, o tira do sério. “Eu não aguento mais isso. É um puta saco. A sociedade não muda de noite. Cada povo tem o político que merece. Ok, que a gente tem uma porrada de coisas que vem desde a nossa colonização. Mas as pessoas hoje, politicamente, estão se organizando na internet, se juntam e vão para a rua fazer passeata. E eu espero que continuem”, pede. Fora isso, ele e Dado, o guitarrista, continuam “meio caóticos” como sempre foram. “Éramos barulhentos, fazíamos questão de chutar o balde, de fazer um rock’n roll”, lembra.

Segundo Bonfá garante, “o show tem estado pesado, coerente” e isso não mudou só porque eles ficaram longe. “São as mesmas músicas. Tocamos o primeiro disco na íntegra, por exemplo”, adianta. No próximo dia 23 de janeiro, no palco do Metropolitan, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, os cariocas poderão comprovar a fala do baterista de perto. “Antes, éramos jovens fazendo música para jovens. Hoje, estamos acompanhados de uma galera bacana, de músicos novos que respeito nosso trabalho”. O clima nas apresentações também não mudou. “É muito semelhante aos anos 80. Mas, no que diz respeito ao público, está muito jovem com crianças de dez anos cantando ‘Que país é esse?’. É uma mistura com pais e filhos”, conta. O motivo ele atribuiu à internet. “É um momento muito positivo, de proliferação”, acredita. Papo vai, papo vem, Marcelo Bonfá é sucinto ao falar sobre a briga judicial que travou com Giuliano Manfredini, filho de Renato Russo (1960-1996), para uso da marca Legião Urbana: “Não estou nem aí”.

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Para ele, é “muito óbvio” que a banda nunca voltará e muito menos que buscam fazer de André Frateschi um substituto de Renato.” Quando a gente estava na ativa, o Renato tinha questão de dizer que, se um membro da Legião deixasse a banda, ela não existiria mais. O que foi feito, foi feito em grupo. Acontece é que estamos comemorando uma data importante. São sutilezas”, esclarece. O show, com direção musical assinada por Liminha e  cenário de Batman Zavareze, acontece paralelo a um projeto solo de Bonfá. Ele acaba de gravar clássicos de nomes como Inezita Barroso (1925-2015) e Leo Canhoto & Robertinho para seu “Música de Alambique” – que contou com financiamento coletivo para sair do papel. “No meio desses passeios com a Legião, eu conheci a Serra da Mantiqueira em 89. Comprei uma fazendinha e lá perto tinha um pequeno canavial de uns dois, três hectares. Meu vizinho fazia uma cachaça magnífica e eu não bebia porque pensava em outras coisas tipo café. Um dia provei a cachaça e era absurda”, conta.

E segue a história: “A cana de lá é exclusiva porque acumula um açúcar mais nobre. Eu me apaixonei, trato a plantação como horta e investi em tecnologia. É uma microprodução”. Foi quando, “no meio do caminho”, Bonfá ficou a fim de unir as duas coisas: cachaça (ele hoje comercializa a cachaça orgânica “Perfeição”) e música. “Comecei a pesquisar uma música diferente e resolvi fazer uma mistura de guitarra com viola caipira. Coisa de raiz. Então, tem dez releituras que falam de cachaça, mas falam também de respeito à natureza, de qualidade de vida, de conscientização”, explica. Pode até não parecer, mas esse é o papo de um caipira de Itapira, no interior de São Paulo, que gosta mesmo é de beber uma “marvada” nos rincões mineiros enquanto, na profusão dos grandes centros, relembra os tempos de baterista da maior banda de rock que já passou por esse país. João de Santo Cristo ficaria com inveja.

Serviço

LEGIÃO URBANA XXX ANOS

Quando: Sábado (23)
Horário: 22h30
Local: Metropolitan – Av. Ayrton Senna, 3000 – Shopping Via Parque – Barra da Tijuca – Rio de Janeiro – RJ
Ingressos: de R$ 50 a 300
Duração: Aproximadamente 1h40
Classificação etária: De 12 a 14 anos: permitida a entrada (acompanhados dos pais ou responsáveis legais). De 15 anos em diante: permitida a entrada (desacompanhados)
Vendas: www.ticketsforfun.com.br