Letícia Novaes é multitalentosa. Cantora, compositora, atriz, locutora, escritora… ela tem de tudo um pouco. Foi pensando nessa pluralidade de uma mesma artista que Fabiane Pereira a convidou – não à toa – para lançar o projeto Metrônomo, de atravessamentos artísticos, ao lado de Tiê. “Ela teve essa ideia mirabolante de fazer mini livrinhos e chamar cantoras para falar. Fazemos música, mas escrevemos pouco sobre a música e ela me chamou para falar dessa relação. Eu fiz uma mini mini mini biografia. A Elisa Riemer que fez a capa do ‘Estilhaça’, último disco da minha banda Letuce, ilustrou. O livro tem uma historinha e vira um pôster e eu amei ser convidada para fazer isso, amo escrever”, afirmou. Não que precisasse contar, já que, no ano passado, ela lançou o livro de poesias “Zaralha”. “Então esse é como se fosse meu segundo livro”, brincou. “Mas achei a ideia do Metrônomo maravilhosa. A Fabi é uma agitadora cultural e a Tiê é uma cantora que admiro muito, estou louca para ler o livrinho dela também e saber o que os outros músicos tem a escrever. No Brasil, temos poucos livros falando sobre música. As pessoas fazem música – e continuem fazendo, por favor – mas vamos falar sobre ela também. Acho que é importante”, elogiou.
Além de escrever, Letícia participou da primeira edição do Metrônomo, em pleno Leblon, com sua voz. O pocket show, aliás, foi um primeiro passo de uma possível carreira solo. “O Letuce é uma banda que eu amo e é para sempre, mas está meio em pause, já que o Lucas Vasconcellos está de guitarrista do Legião Urbana agora. Foi legal porque esse show aqui me proporcionou tocar umas coisas mais ‘off-Letuce’, um início de uma carreira solo. Acho interessante arriscar isso, porque eventualmente vou querer fazer um disco sozinha”, adiantou. No repertório, muitas composições próprias. “Toquei músicas minhas que nunca havia tocado antes, uma que fiz com 22 aninhos. Uma fala de ciúme, tentei fazer uma miscelânea. Uma fala da minha altura, a ‘183 centimetros’. Acho que tenho até 1,84, porque eu cresci (risos). Também trouxe Belchior, um axé – o ‘É o ouro’, meu favorito, da banda ‘Cheiro de amor’”, contou.
Suas composições, antes mais inspiradas, hoje precisam de certa disciplina. “Com os anos passando e eu ficando mais velha, é necessário. Se eu só esperar a inspiração ou um momento de luz, às vezes fica complicado. Então tem dias que me obrigo a sentar e tentar começar a riscar algumas coisas sobre um tema para ver o que sai. Mas quando bate um raio é sempre melhor. A disciplina é necessária também para os artistas, não é oba-oba”, garantiu. Aliás, em nenhum sentido! “Viver de arte hoje é uma batalha muito intensa. Principalmente no Rio de Janeiro, que é um balneário. Acho que em São Paulo há uma abertura maior. Mas eu rebolo. Faço locução, filme, música, trilha, queria as vezes ficar mais tranquila e me focar numa coisa só, mas ainda não é possível por questões financeiras. O Rio tem uma atmosfera de ‘good vibes’, mas tem coisas esquisitas acontecendo, uma galera que só pensa em lucro. É triste e é uma bola de neve. Fica um querendo lucrar em cima do outro. Na arte isso rola muito, mas enquanto eu não enlouquecer permanecerei nessa cidade”, disse.
Falando em lucro, a indústria fonográfica mudou muito ao longo dos anos e Letícia reconhece que foi – e é – difícil para os músicos se adaptarem. “É complicado lançar CD, ele às vezes serve somente como cartão de visitas. Mas, ao mesmo tempo, ainda tenho apreço por material físico. Sou do tipo que compra vinis, discos. Vivemos, hoje, basicamente de shows, que é onde ganhamos dinheiro. O CD virou um lugar para se mostrar. A gente também arrecada com streaming – uma miséria, mas vai. Mas, pelo menos, a chegada dessa revolução toda ‘internética’ trouxe liberdade. Se antigamente a pessoa tinha que obedecer o patrão na gravadora, hoje em dia não existe isso. Se eu quiser fazer uma música de qualquer assunto e meus fãs quiserem ouvir, não tem filtro. Sou só eu, e isso é maravilhoso”, opinou.
E ela persiste: “Porque eu fico muito feliz de existir o outro lado da arte. Se a arte fosse só novela da Globo eu ia ficar desesperada. Acho importante a cena independente sobreviver e resistir. São coisas que vão na contramão do que vai acontecendo. Adoro ver filmes blockbuster, claro, mas também gosto dos esquisitos que 13 pessoas viram. Tem que se expor a tudo. Lógico que não é ser só cult, independente, até porque o movimento popular me interessa muito. Se tem uma música do Luan Santana estourando, vou ouvir. É importante ouvir tudo, ver tudo, experimentar e não julgar”, ponderou ela, cheia de projetos: “Espero, ainda esse ano, conseguir fazer uma peça, mas estou aguardando respostas de editais. Se os deuses quiserem há de acontecer. Eu estou escrevendo com o Arthur Braganti, o tecladista do Letuce, e vou atuar também. Ha anos mirabolamos ideias, tomara que saia”, adiantou. E na música, Letícia? “Quero dar início a projeto do CD solo. Não gravar, mas começar a compor. Quero fazer com calma. Vai ser um ano mais de feitura do que de lançamentos”, disse. Mal podemos esperar para ver tudo pronto!
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