Depois de uma volta aos 80’s com a cantora Marina Lima, chegou a vez de Johnny Hooker agitar o palco Natura da SPFWTRANSN42. Em um dia emblemático para a cultura LGBT no evento de moda – que teve desfile de Ronaldo Fraga com um casting composto apenas por modelos transgêneros, o cantor, que vem fazendo o maior barulho com o disco “Eu Vou Fazer uma Macumba pra te Amarrar, Maldito!”, falou com exclusividade ao HT sobre preconceito, atitude, política e, claro, muita arte. Tendo saído da cena alternativa do Recife para ganhar o Brasil, o artista vem impressionando não só por sua música regionalista pop de qualidade, mas também pelo figurino excêntrico que desfila por entre seus shows.
“Na verdade, eu costumo dizer que eu sou a minha própria criação. Eu fico muito feliz de ver que os fãs se montam e vão para os shows cheios de atitude e orgulhosos de quem são. Porque é muito importante para mim que o ser humano perceba que também é sua própria criação. As pessoas ainda se incomodam muito com a liberdade de experimentar e brincar com maquiagem, com figurino. O corpo é algo muito proibido”, declarou ele, que vê a moda como uma expressão artística e inspiradora. “Eu vou muito pela tangente. Essa coisa das tendências em mim se dá muito através da música, sempre, e pelos meus ídolos que são David Bowie, Modonna e Caetano Veloso e Ney Matogrosso“, declarou.
Agora, falando sobre Ney Matogrosso, quando Johnny Hooker surgiu na cena pop brasileira a crítica fez uma ligação direta entre os dois artistas. Ele revelou que recebe como uma grande honra ser comparado a um dos nomes mais importantes da nossa MPB. “Eu acho o Ney um ícone. Eu o ouvi a minha vida inteira, mas engraçado que não foi algo que eu ouvi a minha vida toda, sabe? Isso veio junto com a fama. Mas eu nem ligo. Ele é o cara que tem uma importância imensa da música mundial. Um intérprete único”, disse ele, que em seu trabalho mistura música latina, com temperos bem regionais no Norte e Nordeste do Brasil.
“O mais importante era fazer um disco de música pop. Pensei no que é a música pop brasileira. Temos uma herança forte, por um lado, da Mãe África e, por outro, da tradição europeia. Pelo fato de ter nascido e sido criado no Recife, cresci rodeado dessa musicalidade muito forte, da música de tambor, do maracatu, do frevo. Então, eu queria fazer um disco universal e que, ao mesmo tempo, falasse com carinho da minha aldeia. E que tentasse de alguma forma resgatar um pouco esses ritmos nossos, a nossa música popular, e devolvesse em formato pop, de música com refrão”, avaliou ele.
Lançado em 2015, o disco independente reflete uma nova fase do artista. Cheio de energia, o trabalho chegou a e entrar na trilha das novelas “Babilônia” (com “Amor Marginal”) e “Geração Brasil” (“Alma Sebosa”). A resposta do público foi quase que instantânea. E ele garantiu que não se assustou com a repercussão. “Eu sempre soube dentro de mim de que um dias as pessoas iriam gostar o meu trabalho. Mas esse disco foi especial, porque reuni raízes pop da nossa cultura como o brega, samba, frevo… tem de tudo, mas com uma roupagem pop. Fico muito feliz das pessoas terem abraçado o meu jeito e a minha música da forma que ela é”, comemorou ele que dispensa as gravadoras. “Já tive propostas, mas não é vantajoso mais para o artista. Você fica dependendo de uma multinacional cujos interesses não são você. Estão mais preocupadas em instaurar os artistas que já vêm com uma carga de dinheiro. Ninguém da minha geração com quem eu converse tem muito interesse”, completou ele, que no primeiro semestre do ano que vem se prepara para divulgar o DVD gravado em sua terra natal com as participações especialíssimas de Fafá de Belém, Otto e Karina Buhr“, entregou.
Sem medo de assumir suas preferências e referências, Johnny faz questão de levantar a bandeira contra o preconceito LGBT, seja através de suas redes sociais ou de sua arte. Apesar da intolerância assistida à olhos nus, o cantor comemorou os direitos adquiridos pelos homossexuais nas últimas décadas. “Eu lembro de ter lido uma artigo da Regina Navarro, há muitos anos atras, dizendo que as linhas dos gêneros em um futuro próximo ficariam cada vez mais embaçadas e mais tênues. Eu só não esperava que esse futuro fosse chegar tão rápido. É uma discussão global. Então, acho que desde a primavera feminista e a história do movimento trans nos Estados Unidos que a gente começa a pautar isso. Fico muito feliz de estar vivendo esse momento e ainda acho que essa geração mais nova está vindo com tudo, pra quebrar essas barreiras. Como falei anteriormente, descobrindo que todo mundo pode ser a sua própria criação”, ponderou.
Atento às questões políticas do país, Johnny se disse verdadeiro crítico perante a polarização que tem dividido os brasileiros através dos diversos escândalos de corrupção e um possível golpe de estado. “Eu acho que é um momento negativo, porque acontece toda essa divisão entre direita e esquerda. Não acho que seja uma questão de lados. Desde julho de 2013, com as passeatas, a gente conseguiu evoluir na questão da discussão da representatividade dos nossos políticos. Acredito que depois que essa maré passar, teremos um saldo positivo dado ao interesse político que estamos tendo. A revolução é importante”, avaliou ele, que não aprovou o embate entre o Planalto Central e a cultura verde e amarela. “Eu tenho medo que isso crie imagens de inimigos e a arte não pode assumir esse papel. Claro que a sua esfera também é política, mas é importante que a gente lute pela liberdade de expressão e que a democracia se mantenha, mesmo tendo a ruptura que teve. Não vivemos 30 anos de uma ditadura para retroceder”, disse.
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